Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A importância do Estágio de Vivência no SUS na formação acadêmica no campo de públicas
Nalbert Alessandro Queiroz Pimentel, Maria Clara Delmonte, Nathália Figueiredo de Azevedo, Raphael Moraes da Rosa

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


O presente trabalho tem por objetivo descrever a importância do programa do Ministério da Saúde e Rede Unida - Vivências e Estágios da Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS) na formação multidisciplinar de quadros para atuar no campo de públicas, na expressão da vivência dos estudantes da graduação de Gestão Pública e Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES/UFRJ). O programa de vivências e Estágios da Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS) surge, em 2002, com o objetivo de valorizar e potencializar o compromisso ético político dos participantes no processo de implantação do SUS, permitindo que os mesmos tenham um maior contato com os seus princípios e contribuindo na ampliação do conceito de saúde e no amadurecimento da prática multiprofissional e interdisciplinar, assim como para a integração da tríade ensino-gestão-controle social. Entende-se o estágio de vivência como uma ferramenta de para fomentar a discussão e reformulação da luta iniciada pelo Movimento da Reforma Sanitária no país, nos anos 1970, por um sistema de saúde amplo e que entenda e cuide dos seus usuários de forma holística. Desde 2009 vem sendo implementado o Programa Nacional de Formação em Administração Pública (PNAP), uma iniciativa no âmbito do Sistema UAB realizada em parceria entre a CAPES e diversas Instituições Públicas de Ensino Superior como estratégia de descentralização e fortalecimento da gestão pública, especialmente em âmbito local, e em pleno contexto de expansão da educação superior por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), objetivando ampliar o acesso e a permanência na educação superior. Inicia-se no ano de 2010, o Programa de Graduação de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social, GPDES, na UFRJ, em formato presencial com caráter pluridisciplinar, oferecido conjuntamente pela FACC (Faculdade de Administração e Ciências Contábeis), FND (Faculdade Nacional de Direito), IE (Instituto de Economia), IPPUR (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional) e NEI [Núcleo de Estudos Internacionais (extinto em 2013)]. Visando formar cada vez mais indivíduos capacitados científica, técnica e eticamente para a preservação e o aperfeiçoamento da ação pública nos mais diferentes campos e níveis: elaboração e implementação de políticas, planos, programas e projetos, assim como gestão, monitoramento e avaliação das práticas e intervenções de agências governamentais e não governamentais. O objetivo do presente trabalho é analisar a experiência de aprendizado multidisciplinar resultante das diversas vivências e experiências obtidas no VER-SUS ao estudante do Campo de Públicas no Estado do Rio de Janeiro. Desde a edição de 2012.1 do VER-SUS na Cidade do Rio de Janeiro, o GPDES possui participação ativa, construindo uma relação que visa, principalmente, a formação de atores sociais críticos e dispostos a transformar a gestão pública e a sociedade como todo. Essa confluência proposta pelos modelos de ensino possibilita o aprimoramento do gestor público na área da saúde, objetivando uma formação compromissada com os princípios e a ética na implementação e no aprimoramento do Sistema Único de Saúde, tornando-se assim, ator e potencializador das mudanças necessárias na nossa sociedade. Esse grupo procurou adotar uma proposta alternativa de pesquisa que permitisse a participação, o debate e a reflexão na questão proposta. Portanto, foi adotada uma postura critica e reflexiva, em um estudo exploratório, visando a desafiar a “Educação Bancária” (FREIRE, 1987) por meio do reconhecimento de que o conhecimento surge da experiência e da realidade concreta do homem e este compreende o seu caráter histórico e transformador. Assim, impulsionados pelos ensinamentos de Florestan Fernandes (1979), o qual reflete que a expansão orgânica da civilização baseada na ciência e na tecnologia científica requer, essencialmente, a universalização e o respeito pelos direitos fundamentais da pessoa humana, a democratização da educação e do poder, a divulgação e a consagração de modelos racionais de pensamento e de ação, a valorização e a propagação do planejamento em matéria de interesse público, refletimos na participação plural de estudantes de diversas formações tanto na área da saúde quanto outros cursos tais quais direito, design e gestão pública, propriamente dita, proporcionou uma rica troca de experiência além da quebra de paradigmas interprofissionais. Sendo nítida a percepção da necessidade da intersetorialidade dos profissionais a fim de que se possa construir um SUS mais forte e unido, sendo este um dos maiores legados que o VERSUS refletiu na produção acadêmica individual e coletiva destes estudantes-pesquisadores. A metodologia reflexiva (ALVESSON, 2003) do estudo foi desenvolvida da ação para a atuação. A primeira etapa consiste na participação da construção do Ver SUS junto a Comissão Estadual na pactuação com os municípios até a imersão, que necessariamente se corporifica no produto deste trabalho: o campo. Assim como a construção do relatório final, entregue à Comissão Nacional do Projeto VER-SUS, a segunda etapa consiste em, a partir de encontros entre os estudantes-pesquisadores, discutir as dimensões de análise da reflexividade, formuladas a partir de OLIVEIRA E PICCININI (2007): a metodologia do VER-SUS e a forma como os estudantes-pesquisadores do campo de públicas se relacionaram com os objetos e sujeitos do estudo; os principais questionamentos e (re) posicionamentos diante da realidade vivida, mais especificamente, dos temas e situações que frequentemente se encontraram “fora do lugar” na prática diária da vida social; as contribuições da vivência para identificar as limitações da educação formal e para repensar as grades curriculares da Graduação de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES/UFRJ).   Foi possível a cada individuo uma autorreflexão sobre o seu papel como agente transformador da sociedade estimulando assim sua pró-atividade políticossocial não antes percebida ou experimentada pelos viventes. Ao final do estágio cada estudante de gestão pública refletiu a cerca de sua experiência multidisciplinar no VER-SUS e das mudanças quanto às respectivas percepções sobre o posicionamento e atuação do gestor público na área da saúde. Da maneira como é feita, a vivência se torna de suma importância para a formação de um gestor público, principalmente, para aqueles que vierem a atuar na área da saúde. Acreditamos na importância da vivência para a formação do indivíduo enquanto agente social, e principalmente, para o sistema de saúde que carece de profissionais com visão ampliada, cientes que a integralidade do cuidado, a universalidade e a equidade são princípios que estão intimamente associados à qualidade do atendimento oferecido e a capacitação profissional. Portanto, a partir desses pressupostos, propõe-se que o VER-SUS possua maior interação e divulgação perante aos cursos de gestão pública, administração pública, gestão de políticas públicas, e cursos correlatos, para acessar um maior número de profissionais em formação e incitar reflexão e inserção do sujeito no sistema único de saúde. É de extrema necessidade que o gestor público conheça o sistema de saúde, aplicando-se a interação entre diretrizes do SUS e o que é ensinado nas salas de aula: o controle social e a gestão participativa.

Palavras-chave


VERSUS CAMPO DE PÚBLICAS

Referências


ALVESSON, M. Beyond Neopositivist, Romantics and Localist: a Reflexive Approach to interview.Academy of Management Review, 28(1), 13-33, 2003.

FERNANDES, F. (1979), Mudanças sociais no Brasil 3. ed. São Paulo, DIFEL.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17a. Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. 
OLIVEIRA, S. R.; PICCINNI, V. C. Validade e Reflexividade na Pesquisa Qualitativa. IN: Anais do XXXI Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, 2007.