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A importância do Estágio de Vivência no SUS na formação acadêmica no campo de públicas
Última alteração: 2015-10-30
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo descrever a importância do programa do Ministério da Saúde e Rede Unida - Vivências e Estágios da Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS) na formação multidisciplinar de quadros para atuar no campo de públicas, na expressão da vivência dos estudantes da graduação de Gestão Pública e Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES/UFRJ). O programa de vivências e Estágios da Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS) surge, em 2002, com o objetivo de valorizar e potencializar o compromisso ético político dos participantes no processo de implantação do SUS, permitindo que os mesmos tenham um maior contato com os seus princípios e contribuindo na ampliação do conceito de saúde e no amadurecimento da prática multiprofissional e interdisciplinar, assim como para a integração da tríade ensino-gestão-controle social. Entende-se o estágio de vivência como uma ferramenta de para fomentar a discussão e reformulação da luta iniciada pelo Movimento da Reforma Sanitária no país, nos anos 1970, por um sistema de saúde amplo e que entenda e cuide dos seus usuários de forma holística. Desde 2009 vem sendo implementado o Programa Nacional de Formação em Administração Pública (PNAP), uma iniciativa no âmbito do Sistema UAB realizada em parceria entre a CAPES e diversas Instituições Públicas de Ensino Superior como estratégia de descentralização e fortalecimento da gestão pública, especialmente em âmbito local, e em pleno contexto de expansão da educação superior por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), objetivando ampliar o acesso e a permanência na educação superior. Inicia-se no ano de 2010, o Programa de Graduação de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social, GPDES, na UFRJ, em formato presencial com caráter pluridisciplinar, oferecido conjuntamente pela FACC (Faculdade de Administração e Ciências Contábeis), FND (Faculdade Nacional de Direito), IE (Instituto de Economia), IPPUR (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional) e NEI [Núcleo de Estudos Internacionais (extinto em 2013)]. Visando formar cada vez mais indivíduos capacitados científica, técnica e eticamente para a preservação e o aperfeiçoamento da ação pública nos mais diferentes campos e níveis: elaboração e implementação de políticas, planos, programas e projetos, assim como gestão, monitoramento e avaliação das práticas e intervenções de agências governamentais e não governamentais. O objetivo do presente trabalho é analisar a experiência de aprendizado multidisciplinar resultante das diversas vivências e experiências obtidas no VER-SUS ao estudante do Campo de Públicas no Estado do Rio de Janeiro. Desde a edição de 2012.1 do VER-SUS na Cidade do Rio de Janeiro, o GPDES possui participação ativa, construindo uma relação que visa, principalmente, a formação de atores sociais críticos e dispostos a transformar a gestão pública e a sociedade como todo. Essa confluência proposta pelos modelos de ensino possibilita o aprimoramento do gestor público na área da saúde, objetivando uma formação compromissada com os princípios e a ética na implementação e no aprimoramento do Sistema Único de Saúde, tornando-se assim, ator e potencializador das mudanças necessárias na nossa sociedade. Esse grupo procurou adotar uma proposta alternativa de pesquisa que permitisse a participação, o debate e a reflexão na questão proposta. Portanto, foi adotada uma postura critica e reflexiva, em um estudo exploratório, visando a desafiar a “Educação Bancária” (FREIRE, 1987) por meio do reconhecimento de que o conhecimento surge da experiência e da realidade concreta do homem e este compreende o seu caráter histórico e transformador. Assim, impulsionados pelos ensinamentos de Florestan Fernandes (1979), o qual reflete que a expansão orgânica da civilização baseada na ciência e na tecnologia científica requer, essencialmente, a universalização e o respeito pelos direitos fundamentais da pessoa humana, a democratização da educação e do poder, a divulgação e a consagração de modelos racionais de pensamento e de ação, a valorização e a propagação do planejamento em matéria de interesse público, refletimos na participação plural de estudantes de diversas formações tanto na área da saúde quanto outros cursos tais quais direito, design e gestão pública, propriamente dita, proporcionou uma rica troca de experiência além da quebra de paradigmas interprofissionais. Sendo nítida a percepção da necessidade da intersetorialidade dos profissionais a fim de que se possa construir um SUS mais forte e unido, sendo este um dos maiores legados que o VERSUS refletiu na produção acadêmica individual e coletiva destes estudantes-pesquisadores. A metodologia reflexiva (ALVESSON, 2003) do estudo foi desenvolvida da ação para a atuação. A primeira etapa consiste na participação da construção do Ver SUS junto a Comissão Estadual na pactuação com os municípios até a imersão, que necessariamente se corporifica no produto deste trabalho: o campo. Assim como a construção do relatório final, entregue à Comissão Nacional do Projeto VER-SUS, a segunda etapa consiste em, a partir de encontros entre os estudantes-pesquisadores, discutir as dimensões de análise da reflexividade, formuladas a partir de OLIVEIRA E PICCININI (2007): a metodologia do VER-SUS e a forma como os estudantes-pesquisadores do campo de públicas se relacionaram com os objetos e sujeitos do estudo; os principais questionamentos e (re) posicionamentos diante da realidade vivida, mais especificamente, dos temas e situações que frequentemente se encontraram “fora do lugar” na prática diária da vida social; as contribuições da vivência para identificar as limitações da educação formal e para repensar as grades curriculares da Graduação de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES/UFRJ). Foi possível a cada individuo uma autorreflexão sobre o seu papel como agente transformador da sociedade estimulando assim sua pró-atividade políticossocial não antes percebida ou experimentada pelos viventes. Ao final do estágio cada estudante de gestão pública refletiu a cerca de sua experiência multidisciplinar no VER-SUS e das mudanças quanto às respectivas percepções sobre o posicionamento e atuação do gestor público na área da saúde. Da maneira como é feita, a vivência se torna de suma importância para a formação de um gestor público, principalmente, para aqueles que vierem a atuar na área da saúde. Acreditamos na importância da vivência para a formação do indivíduo enquanto agente social, e principalmente, para o sistema de saúde que carece de profissionais com visão ampliada, cientes que a integralidade do cuidado, a universalidade e a equidade são princípios que estão intimamente associados à qualidade do atendimento oferecido e a capacitação profissional. Portanto, a partir desses pressupostos, propõe-se que o VER-SUS possua maior interação e divulgação perante aos cursos de gestão pública, administração pública, gestão de políticas públicas, e cursos correlatos, para acessar um maior número de profissionais em formação e incitar reflexão e inserção do sujeito no sistema único de saúde. É de extrema necessidade que o gestor público conheça o sistema de saúde, aplicando-se a interação entre diretrizes do SUS e o que é ensinado nas salas de aula: o controle social e a gestão participativa.
Palavras-chave
VERSUS CAMPO DE PÚBLICAS
Referências
ALVESSON, M. Beyond Neopositivist, Romantics and Localist: a Reflexive Approach to interview.Academy of Management Review, 28(1), 13-33, 2003.
FERNANDES, F. (1979), Mudanças sociais no Brasil 3. ed. São Paulo, DIFEL.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17a. Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
OLIVEIRA, S. R.; PICCINNI, V. C. Validade e Reflexividade na Pesquisa Qualitativa. IN: Anais do XXXI Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, 2007.