Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A IMPLICAÇÃO DO ESTÁGIO E VIVÊNCIA NA REALIDADE DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DO MARANHÃO PARA A FORMAÇÃO DE FUTUROS PROFISSIONAIS HUMANIZADOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Romullo Jose Costa Ataides, Ronan Lacerda Barbosa, Thyago Leite Ramos, Agamenon Rodrigues Sena Neto, Francisco Eduardo Ramos da Silva, Tiago Leite Ramos, Vitor Pachelle Lima Abreu

Última alteração: 2016-04-29

Resumo


APRESENTAÇÃO: O Sistema Único de Saúde (SUS) possui importantes espaços potenciais de apoio à formação como cenário de aprendizagem com o objetivo de produzir novas práticas pedagógicas e de cuidado em saúde. Segundo Benevides e Passos (2005), “sujeitos sociais, atores concretos e engajados em práticas locais, quando mobilizados, são capazes de, coletivamente, transformar realidades, transformando-se a si próprios neste processo”. Com esse intuito, é possível edificar conexões entre os profissionais de saúde e com usuários para produzir autonomia e corresponsabilidade, sendo necessário conhecer bem a realidade envolvida. Nesse contexto, o VER-SUS (Vivência e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde) tem como o objetivo compreender o contexto no qual os usuários do SUS estão inseridos, quebrando preconceitos e mostrando as necessidades deles, que são, em alguns casos, desrespeitados. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O VER-SUS IMPERATRIZ aconteceu nos primeiros dez dias do mês de agosto, sendo composto por 60 estudantes de todo o Brasil -80% dos participantes vivenciando esse projeto pela primeira vez e o restante, já experientes, facilitando as discussões e debates-, expondo as realidades do SUS de várias regiões do país. No entanto, o intuito era conhecer a realidade local e a aplicabilidade de ações. Esse projeto foi realizado com metodologia ativa de imersão total, ou seja, convivência coletiva de aproximadamente 200 horas com intensos debates e com vivências em diversos locais como o lixão local, tribo indígena, templo de umbanda, assentamento rural, além dos diversos níveis de atenção à saúde. Durante essas visitas, rodas de conversar com os usuários nesses contextos foram organizadas para que os viventes pudessem conhecê-los, compreendê-los e auxiliá-los nessas diferentes situações sociais. Além deles, conversas com profissionais e gestores municipais dos mais diversos setores de saúde onde acontece a prestação de serviços do SUS também foram realizadas. Ademais, havia debates temáticos sobre os locais vivenciados, histórico da saúde no Brasil com determinantes sociais, as dificuldades de acesso e preconceito/opressão enfrentado por alguns grupos de usuários como homossexuais, negros, índios, deficientes, psiquiátricos entre outros. RESULTADO: No início, o Sistema Único de Saúde foi apresentado a todos os viventes e facilitadores por meio de funcionários da gestão municipal que compartilharam todas as dificuldades e qualidades do sistema local. Após isso, os integrantes conheceram o histórico do SUS, tendo ênfase na participação social para criação e consolidação desse modelo de saúde. Não obstante, muitos temas foram abordados para que os viventes pudessem desenvolver a empatia que, em muitos, não existia ou era praticamente inexistente. Isso contribuiu para que, quando fossem iniciadas as vivências, o indivíduo buscasse uma nova perspectiva, não apenas a da acadêmica ou a de gestão. Ademais, nos primeiros dois dias, pôde-se garantir maior integração dos participantes por meio de dinâmicas e apresentações, treinando o ouvir e o escutar dos mesmos. Como resultado desse olhar de conhecer o diferente, os integrantes puderam assimilar a importância de compreender, entender e respeitar o usuário, cliente e funcionários com uma avaliação do ambiente no qual estão inseridos. Ainda assim, essas atitudes ajudam a repensar conceitos, preconceitos e paradigmas. Como primeiro campo de estágio, o lixão municipal foi o escolhido. Embora determinado em lei para o fim desses espaços, foi perceptível o descaso das autoridades, já que há mistura de resíduos sólidos de todos os gêneros, inclusive hospitalar. Muitos dos catadores não possuem escolaridade e sofrem preconceito por desempenharem tal atividade, distanciando-os até de procurarem assistência à saúde. Ainda com a mesma problemática, os umbandistas –segundo campo de estágio- fazem parte de um grupo que é segregado por suas crenças, distorcidas pela sociedade. O movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra foi apresentado para desmistificar os interesses desse grupo, além de deixar evidente a desigualdade existente no país. Assentamentos em locais distantes com condições precárias de acesso à saúde e educação. Ainda nesse período, hospitais públicos e particulares foram visitados comprovando a discrepância existente entre o público e o privado, mas que, serviços públicos, no privado, funcionam de forma ideal, sugerindo problema de gestão da máquina pública. Voltando-se para a atenção primária e de prevenção, várias unidades básicas de Imperatriz foram visitadas, sendo selecionadas pela área de abrangência, referência de atendimento e a que melhor desempenha suas atividades. Essa vivência evidenciou o quão a saúde não é igual e equânime dentro do município. Unidades que tinham uma boa gestão, planejamento e estrutura, embora não conseguisse abranger toda a área de cobertura em contraponto com outra que tinham apenas um médico, uma enfermeira e um agente comunitário de saúde para o desempenho das funções, sendo justificado tal escalonamento devido à falta de verba para o custeio. Outra realidade apresentada foi a dos pacientes com transtornos psicossociais - grupo que é discriminado até pelos profissionais de saúde, marginalizados pela sociedade e, até mesmo, por seus familiares-. Então, CAPS III, CAPS AD, casa de apoio a esses usuários foram visitadas, podendo-se perceber que algumas questões de gestão ocorrem, no entanto, há empenho de todos os profissionais para contornar os obstáculos. Como último local de vivência, foi escolhida a aldeia indígena em que os índios ainda mantêm boa parte de suas tradições, sendo educados em português e no idioma local; possuem uma unidade básica de saúde, ambulância e transporte para o município. Isso permitiu refletir o conceito de saúde e aprimorar o respeito pelas crenças locais, já que, embora tenham assistência, algumas formas de tratamento são recusadas. Considerações finais: Se entendermos humanização como a “a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde” (HUMANIZASUS, 2009), o VER-SUS, projeto do Ministério da Saúde com a Rede Unida, traz uma proposta efetiva para contribuir com a formação de futuros profissionais do SUS comprometidos eticamente/politicamente com as necessidades da população por meio de vivências e estágios que possibilitam ao estudante experimentar um espaço de aprendizagem, permitindo a humanização do atendimento já que valoriza os sujeitos de produção de saúde e reflete as nossas práticas sobre o diferente. Outrossim, para mudar a realidade do sistema e construir vínculos com os usuários, é necessário que haja conhecimento dessa realidade, sendo difícil garantir a singularidade e especificidade na criação de estratégias para romper com o modelo biomédico focado na doença se não feito dessa forma.

Palavras-chave


HUMANIZAÇÃO; SUS; VER-SUS;

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Ver – SUS Brasil: cadernos de textos / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. 256 p.: il. – (Série B. Textos Básicos de Saúde) (Cadernos HumanizaSUS ; v. 2)

COQUEIROA J. M.; SANTOS K. F.; LEAL S. R. Estágio de vivências no sus-ba: construindo espaços de aprendizagem entre estudantes e serviços de saúde. Revista Baiana de Saúde Pública. v.37, n.4, p.1042-1050 out./dez. 2013.