Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Eugenismo e as Politicas Afirmativas de Saúde: Vivencias e temáticas necessárias para a formação inicial dos Profissionais de Saúde
Geyssyca Morganna Soares Guilhermino, Jesianne Nataly Macedo de Araujo, José Douglas Tobias Magalhães da Silva, Raissa Lorena Bandeira Landim, Sandra Bomfim de Queiroz, Renato Duarte de Castro, Rosiete Silva das Neves, Nataniele Silva Canuto, Larissa Alves do Nascimento

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


APRESENTAÇÃO: Em meados do século XX, quando as teorias de Darwin eram amplamente aceitas na Inglaterra, houve uma grande preocupação quanto à “degeneração biológica” do país, devido ao declínio na taxa de nascimento ser muito maior nas classes alta e média do que na classe baixa. Para muitos, parecia lógico que a qualidade da população pudesse ser aprimorada com a promoção da união de parceiros bem-nascidos e por proibição de uniões indesejáveis. O darwinismo social é um conceito, de que na luta pela sobrevivência muitos seres humanos eram não só menos valiosos e destinados a desaparecer, culminando em uma nova ideologia de melhoria da raça humana por meio da ciência. Devido à revelação das atrocidades nazistas desacreditou a eugenia científica e eticamente, e fez com que a palavra desaparecesse abruptamente do uso. No entanto, a eugenia não desapareceu, mas se refugiou em muitos casos sob o rótulo “genética humana”. O futuro eugênico do Brasil era imaginado como uma nação homogênea, sem variação racial e sem as imperfeições que segundo os eugenistas maculavam o “tipo racial” do brasileiro. O Cientista e antropólogo Edgar Roquette-Pinto afirmaram que ao promover a imigração branca da Europa para o Brasil, o efeito da miscigenação seria a eliminação gradual da população negra, branqueando a população como um todo. Para mensurar o sucesso destas políticas populacionais, a eugenia Neo-Lamarckiana enfatizou muito a beleza, argumentando que uma população eugênica era a mais bonita. Desde a década de 1980, a cultura fitness vem ganhando espaço. Ela está na arquitetura das academias de ginásticas, nos corpos dos personal trainers, em shopping centers, outdoors, capas de revistas, supermercados, programas de tevê, praças e parques demonstrando força, rigidez, juventude, longevidade, saúde e beleza. Portanto as pessoas velhas principalmente as mulheres, com rugas e a flacidez muscular, típicas do processo de envelhecimento, são descritas como algo que deve ser permanentemente evitado. Sendo atualmente, ofertados produtos, bens e serviços a essa população. A cirurgia plástica complementa o trabalho iniciado pela miscigenação ao proporcionar a oportunidade de se aproximar às características físicas de uma “brasilidade” ideal. Aqueles que se “misturaram menos” são considerados mais bonitos porque tem uma ascendência predominantemente europeia, mas ainda possuem o hibridismo considerado essencial para ter uma identidade brasileira. E a beleza das pessoas de ascendência predominantemente africana ou indígena não é avaliada por cirurgiões plásticos como um padrão brasileiro desejável ou admirável sendo visto como problemas estéticos a ser corrigidos. Diante do exposto, o objetivo do foi falar e fazer uma reflexão sobre as políticas afirmativas de saúde proporcionando aos discentes palestrar e ouvir relatos de seus colegas, dos profissionais, e dos usuários dessas políticas. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A experiência retratada ocorreu no IV Seminário Alagoano sobre Ética, Alteridade, Diversidade, Eugenismo e o Profissional da Saúde no Museu da Imagem e do Som de Alagoas – (MISA) promovido pela Universidade Estadual de ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) como atividade de ensino, de forma indissociável da pesquisa e da extensão, das disciplinas Ética, Alteridade e Diversidade no Cuidado em Saúde” e “Educação para as Relações Etnicorraciais e Políticas Afirmativas do Sistema Único de Saúde (SUS)”. No evento foram abordadas temáticas como eugenismo, saúde da mulher negra, dos povos de terreiros, dos quilombolas, dos indígenas, da comunidade GLBT, além de debate sobre cotas raciais na universidade e questões de gênero. Os discentes da UNCISAL dos cursos de enfermagem, medicina, fonoaudiologia, terapia ocupacional e fisioterapia apresentaram trabalhos sobre algumas temáticas. Os alunos de medicina discorreram sobre eugenismo  desde  sua origem até o contexto sócio-cultural do Brasil. Durante a apresentação ficou evidente  o quão foi e é cruel essa incorporação da cultura eugênica apregoando valores estéticos tidos como referenciais centrados do eurocentrismo. RESULTADOS/IMPACTOS: Durante a apresentação dos mesmos ficou evidente o quão foi e é cruel essa incorporação da cultura eugênica mostrando que existe uma raça superior e melhor do que as outras, ocasionando muitas vezes a negação de sua própria origem e a incorporação dos padrões do melhoramento genético. Os profissionais  acabam discriminando, excluindo e até mesmo negando atendimento as pessoas que são considerados por eles fora dos padrões, utilizando apenas os seus valores morais e éticos,  desconsiderando o que as políticas afirmativas de saúde e o SUS preconiza. O seminário trouxe uma vertente muitas vezes desconhecida para a maioria dos discentes, o que foi muito importante para o graduando perceber como o eugenismo tira o véu do seu olhar, que não associava os preconceitos com o eugenismo tendo assim uma visão diferenciada sobre a temática. Como isso interfere na vida pessoal do aluno permitindo que ele se identifique mais com sua descendência afro-indígena, facilitando que rememore as discriminações étnicas de que foi vítima e fortaleça sua autoestima. Essas temáticas discutidas e desveladas na universidade favoreceu a desconstrução de valores eugênicos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: E, em pleno 2015, perceber que existe ainda um espectro valorativo de uma raça superior e melhor do que as outras, ocasionando, muitas vezes, a negação de sua própria origem e a incorporação dos padrões do melhoramento genético, por parte de brasileiros. Essa realidade interfere de modo significativo na cultura, nos costumes de uma sociedade interferindo de modo significativo na auto-imagem que a população tem que si mesma, sendo influenciada e manipulada por padrões eugênicos. Na apresentação foi discutida também a visão dos profissionais de saúde nesse processo, no qual muitos não têm conhecimento sobre essa temática e acaba reproduzindo apenas o que está posto na sociedade. Contudo, o profissional de saúde deve ter uma visão holística da sociedade compreendendo o contexto sociocultural no qual está inserido, conseguindo perceber o que está muitas vezes mascarado de melhoramento genético por seus idealizadores, a eugenia seria para eles, a ciência que proporcionaria as condições teóricas, técnicas e metodológicas para o controle reprodutivo da espécie humana, favorecendo assim para eliminar o considerado defeituoso e assim intervir para que as melhores características humanas proliferassem no conjunto populacional transformando assim a sociedade em um grande laboratório. Deve, ainda, ser capacitado para exercer sua função, respeitando a diversidade dos usuários, sendo, portanto, necessário que se tenha mais discussões e debates sobre essas temáticas.

Palavras-chave


Eugenismo;Politcas Afirmativas de Saúde; Profissionais de Saúde

Referências


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3. SANTOS, J.L. dos. A ciência do melhoramento das especificidades genéticas humanas. (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2007.

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5. GUERRA, A. Do holocausto  nazista à nova eugenia do século xxi.cienc. cult. São Paulo. vol.58, n. 1, 2006.