Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A Formação Médica desde uma Referência Territorial: Aproximações com o Campo da Saúde Coletiva
Felipe Silveira da Costa

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


A formação médica no Brasil situa-se em um momento de formulação de práticas voltadas às necessidades sociais da população. Isto tem tensionado a mudanças curriculares, considerando o território vivo com seus processos sociais, ambientais e biológicos. Nessa perspectiva foi proposto o curso de medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul enquanto possibilidade de proposição de um modelo de formação integrado à realidade do território em que está inserido. Um dos componentes curriculares que expressam essa característica foi o da Saúde Coletiva que possibilitou a partir das reflexões desenvolvidas no contexto do encontro entre as diferentes disciplinas que compõem esse campo, a produção de um espaço de ensino-aprendizagem que têm possibilitado a ampliação da formação médica tendo como base o território em sua multiplicidade. O presente trabalho almeja refletir sobre o curso de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul em suas aproximações com o território enquanto campo de prática e produção de saberes mediados por vínculos significativos com comunidades locais e os sistemas municipais de saúde. Para tal, foram reunidos relatos e documentos produzidos a partir da prática de professores e estudantes em municípios do entorno da universidade que incluíam comunidades quilombolas, rurais, indígenas, de assentados rurais e urbanas. Durante o processo de construção do currículo no componente de Saúde Coletica, foi proposto um percurso pedagógico que aproximasse os estudantes do território em que a Cuniversidade estava inserida. Foram propostos momentos de imersão no território vinculados ao componente curricular de Saúde Coletiva de forma processual e longitudinal ao longo de oito semestres, desde o início do curso. Tais atividades propuseram como cenário de prática comunidades representativas da região: assentados rurais, periferia urbana, quilombolas e indígenas. Realizando o processo de construção de vínculos significativos entre estudantes, professores, comunidades e profissionais de saúde locais criou-se um processo de ensino-aprendizagem fortalecendo assim o desenvolvimento local comunitário a partir da interação e diálogo de saberes. Foram desenvolvidas nas imersões atividades que possibilitaram a vinculação da academia com o território enquanto um território vivo, ampliando a percepção dos saberes a serem incorporados na formação médica e contribuindo concretamente com os desafios vivenciados pelas populações de municípios no entorno da universidade. Esse cenário tem levado a uma instigante produção de sentidos no âmbito do componente curricular que se coloca não simplesmente em uma posição de reflexão teórica e destacada da realidade, mas enquanto possibilidade de reflexão e ação sobre o vivido. Isto têm levado a composição de um ambiente de aprendizagem mais significativo e, ao mesmo tempo, salientado tensionamentos decorrentes do processo de transição paradigmática presente na saúde e também no lugar do médico enquanto ator importante. Assim, desde os mais diversos espaços, estudantes, professores, pessoal técnico-administrativo, gestores municipais, trabalhadores da saúde e comunidade têm expressado seu contentamento e desconforto com as mudanças propostas, fatos que têm sido aproveitados enquanto substrato pedagógico, aliando à multiplicidade do cenário dos territórios visitados à também multiplicitária realidade do contexto político-institucional em questão.

Palavras-chave


Formação Médica; Saúde Coletica; Território.

Referências


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