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(RE)SIGNIFICANDO O CUIDADO EM SAÚDE NAS PORTAS DE ENTRADA DAS EMERGÊNCIAS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): A RELEVÂNCIA DO PROGRAMA PERMANECER SUS NO FORTALECIMENTO DA HUMANIZAÇÃO
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: Este trabalho objetiva relatar a relevância do Programa Permanecer SUS e suas práticas acolhedoras no contexto da humanização nos estabelecimentos de saúde e também seus impactos na reorientação do cuidado em saúde e formação em saúde. O Programa Permanecer SUS é uma iniciativa da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) que contempla o fortalecimento da política nacional de humanização e melhora no atendimento nas emergências de hospitais e maternidades no município de Salvador, Bahia, por meio do acolhimento mediante escuta qualificada. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A humanização no Sistema Único de Saúde (SUS) é pautada em uma política nacional como um meio de fomento de relações interpessoais entre profissionais, usuários, comunidades e estabelecimentos de saúde visando o bom funcionamento do sistema, baseadas na complexidade de se enxergar a saúde, tentando abarcar as necessidades emocionais, psicológicas e sociais dos integrantes do SUS. As práticas de humanização nos serviços das unidades de saúde tentam intervir nos reflexos do modelo de saúde regido pelo sistema capitalista, que prega o modelo mecanicista da vida, curativismo e o individualismo; neste modelo hegemônico em sua concepção cartesiana o corpo vivo é constituído de partes separadas, que usualmente dão defeitos e precisam de intervenção médica para reparo e concerto, excetuando assim o lado biopsicossocial do processo saúde e doença. O programa Permanecer SUS é uma iniciativa da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) que surgiu como resposta ao problema concreto da insatisfação dos usuários do SUS quanto ao atendimento ofertado nas portas de entradas das emergências de hospitais da sua rede na capital baiana, Salvador. Este programa visa o fortalecimento da política Nacional de Humanização e implementação do acolhimento nas emergências por meio da escuta qualificada. O programa foi implantado no ano de 2008 e hoje é realidade em hospitais, maternidades e centros de referência, tendo como mediadores deste processo de acolhimento na prática, estagiários da modalidade não obrigatório, dos cursos de saúde oferecidos instituições de ensino superior, tais como: medicina, medicina veterinária, bacharelado interdisciplinar em saúde, saúde coletiva, nutrição, fonoaudiologia, fisioterapia, farmácia, odontologia, enfermagem, biomedicina, educação física, terapia ocupacional, psicologia e serviço social. Os estagiários são bolsistas do programa com duração de um ano com processo seletivo via concurso público. A composição da carga horária é dividida em atividades práticas nas unidades de saúde e educação permanente, que é uma política pedagógica de ensino e aprendizagem no campo do trabalho em saúde que produz a articulação do trabalho, ensino e cidadania, além da integração multiprofissional, consistindo em uma tecnologia bastante relevante no que tange ao fortalecimento da humanização e sendo um espaço motivador e de interação entre os estagiários do permanecer SUS. O Cuidado em Saúde diferenciado na prática humanizadora do Permanecer SUS é pautado na integralidade das ações e serviços de saúde frente aos problemas de saúde e necessidades da população; esta atenção à saúde integral deve ser baseada nas necessidades dos usuários que vão desde a saúde biológica, perpassando pela garantia de acesso aos serviços de saúde e tecnologias disponíveis, desenvolvimento de vínculo nas equipes de trabalhos e usuários e o empoderamento dos sujeitos na gestão da própria vida que permeia os saberes populares e o técnico-científico, sem imposição dos trabalhadores da saúde. Portanto, para o alcance dessa rede de produção de cuidados, a escuta qualificada e o acolhimento devem ser fortalecidos. O programa que vem sendo discutido interage nesse papel de mediador no tripé: serviço, usuário e gestão. Um dos campos de atuação do programa Permanecer SUS em Salvador ocorre na Maternidade Albert Sabin (MAS), situada no bairro de Cajazeiras, um dos mais populosos do município. Esta maternidade cobre três distritos sanitários, porém atende com demanda aberta. A maternidade ainda possui vinculação de pacientes a unidade, um dos princípios da Rede Cegonha, uma estratégia do Ministério da Saúde que se dispõe a implementar uma rede de cuidados que assegurem às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, também assegurando as crianças nascimento seguro e desenvolvimento saudável. A deficitária de cobertura e ordenamento da atenção primária no município, assim como os problemas na estrutura, gestão e quantitativo de leitos disponíveis das maternidades, leva à sobrecarga no atendimento da emergência na Maternidade Albert Sabin, que somando a estrutura ineficiente da mesma, estruturação do cuidado em saúde aos moldes biologicistas e curativistas e aos diversos fatores que levam a violências obstétricas nas unidades obstétricas, culminam em insatisfação quanto ao atendimento e desumanização na assistência a saúde para este público específico de crianças e mulheres que estão em um estágio psicossocial bastante vulnerável. O grupo de estagiários presentes na maternidade Albert Sabin (no ano 2015) é composto de nove estagiários oriundos de graduações e instituições de ensino distintas que realizam acolhimento mediante escuta qualificada na porta de entrada da sua emergência, que vão além de ouvir, ver e entender as usuárias que chegam a unidade, mas escutam, enxergam e compreendem as nuances perceptíveis com uma escuta qualificada baseada na integralidade e conceito ampliado de saúde; compartilhando saberes e firmando vínculos com usuários e trabalhadores na busca da melhoria do atendimento, resolução de problemas e humanização. IMPACTOS: O programa contribui para a interação ensino e serviço dos estudantes de graduação e os trabalhadores do Sistema de Saúde, além de propiciar um elo, vínculo e interação dos usuários com os profissionais e as unidades de saúde, culminando em humanização, inclusão social, acolhimento e reorientação da formação em saúde. O programa ainda articula ensino, serviço, trabalho e gestão através do acolhimento, condicionando assim a formação de futuros profissionais de saúde em consonância aos princípios de diretrizes do SUS ligados às demandas reais da sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A produção do cuidado é intrínseca ao direito a saúde com os princípios de qualidade integralidade e equidade com o papel do exercício da cidadania e respeito à individualidade dos usuários de saúde que deve ser baseado nas necessidades dos mesmos, para que se faça a resolubilidade dos problemas pelos serviços e ações disponíveis e necessários. O programa Permanecer SUS é uma experiência ousada e inovadora que reinventa os processos de cuidado que além de propor reorientação da assistência à saúde nas emergências, acaba por interferir positivamente no processo de trabalho e gestão dos profissionais de saúde e na formação em saúde dos graduandos da área de saúde, indo em contrapartida com a saúde que é não pensada na integração das questões socioculturais, econômicas, ambientais e psicológicas.
Palavras-chave
humanização; saúde; acolhimento; cuidado em saúde; integralidade.
Referências
FERLA, A. A. et al. Cadernos de textos VER-SUS/Brasil: [documento eletrônico]. 1. ed. Porto Alegre: Rede Unida, 2013. 106 p.
CAPRA, F. O ponto de Mutação. 22 ed. São Paulo: Cultrix, 2001.