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A SUBJETIVIDADE COMO AÇÃO DE HUMANIZAÇÃO COM O DIALÍTICO DURANTE A HEMODIÁLISE: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Última alteração: 2015-12-10
Resumo
A temática central deste estudo é a humanização com pacientes portadores de insuficiência renal aguda ou crônica em processo de diálise. A diálise ocorre quando os rins acabam por não desenvolver a função de filtragem, podendo ser classificada como Insuficiência Renal Aguda (IRA) ou Doença Renal Crônica (IRC). Este se trata de um relato de experiência no Projeto de Humanização: Humanizar para Humanizar-se e a subjetividade como forma de humanizar a sessão de hemodiálise se configura como a temática central deste. Relatar a experiência da vivência e do diálogo com grupo de dialíticos em sessão de hemodiálise na perspectiva da humanização. Trata-se de um estudo qualitativo crítico-reflexivo do gênero relato de experiência, resultado da vivência com um grupo de dialíticos do Centro de Diálise de uma unidade hospitalar da Atenção Terciária localizada no município de Sobral-CE da 11ª Secretaria Regional de Saúde (SERES) que atende pacientes dos 55 (cinquenta e cinco) municípios da zona noroeste do estado, região de abrangência da secretaria. A experiência é resultado do Projeto de Humanização: Humanizar Para Humanizar-se, ocorrido às segundas-feiras das 13h às 17h naquela instituição, resultado da parceria entre uma das instituições de ensino superior e a unidade hospitalar. Por conta do horário era possível o contato com dois grupos diferentes, de sessões diferentes, pois um grupo iniciava a sessão de diálise às 11h da manhã e outro às 15h, variando o tempo da sessão de acordo com a aceitação do organismo tanto para os clientes como para seus acompanhantes enquanto os mesmos fazem hemodiálise. As sessões de hemodiálise ocorrem em três dias alternados da semana, segunda, quarta ou sexta para um grupo e terça, quinta e sábado para outro grupo. O primeiro contato com os clientes em diálise bem como com a Equipe de Enfermagem foi bem sensível, pois os voluntários eram para eles pessoas alheias à rotina daquele setor. Os clientes já têm delimitados os espaços para realização da diálise, elegendo cada um, reconhecidamente, uma poltrona para a rotina do procedimento. O diálogo entre eles, muito provavelmente por conta do quadro de saúde em que se encontram, é consideravelmente restrito, ainda que os mesmos estejam semanalmente naquele recinto, permitindo uma maior aproximação apenas da Equipe com quem já mantinham contato anteriormente e raramente com os demais colegas na mesma situação. A barreira de proteção foi sendo rompida muito lentamente a princípio com a Equipe de Enfermagem quando os voluntários buscavam compreender como se dava a rotina daquele setor, quem realizava as sessões de hemodiálise, quanto tempo durava cada sessão, como era a máquina de diálise, o procedimento de troca de turnos, e as procedências dos dialíticos. A equipe de muita prontidão explicou aos membros voluntários do projeto todo o percurso de cada sessão, inclusive abordando a possibilidade de um paciente sofrer hipotensão e precisar ser transferido imediatamente para a emergência o que, segundo eles, já havia ocorrido. A partir dessa aproximação com a equipe e seguindo orientações da mesma os voluntários do projeto conseguem aproximação com os clientes que estavam em diálise oferecendo atividades que pudessem entretê-los durante o início da diálise haja vistas que o procedimento é cansativo e logo eles se tornam apáticos sendo também necessário o acompanhamento e olhar sensível para que não ocorresse nenhuma intercorrência com os dialíticos por conta dos efeitos adversos. Não era fácil conseguir que eles propiciassem aproximação e desta feita um dos recursos indicados foi que os voluntários preenchessem as fichas antes do início da sessão. Nesse momento ocorria a possibilidade do discurso e da exposição de como eles se sentiam como portadores de uma insuficiência renal aguda ou crônica, de suas angústias, traumas bem como a forma como perderam a função renal. Os relatos eram carregados de emoções e era possível perceber a extensão das situações de fragilidade e de vulnerabilidade, quando os mesmos expunham sobre como é conviver com a realidade do acúmulo de líquidos e suas dificuldades em deslocamento de suas cidades até a unidade de Atenção Terciária e realização de suas tarefas domésticas e cotidianas relacionando assim com a sua dependência direta de cuidadores. A audição dos relatos permite, a partir do olhar crítico-reflexivo, a inferência de que para os homens a perda ou redução da funcionalidade dificulta a aceitação da situação de portador de doença renal e consequentemente da necessidade de realizar a hemodiálise, sendo mais acentuada a percepção no relato dos homens que o observado na fala das mulheres. É visível que a indisponibilidade do gênero masculino ao diálogo pode estar atrelada a uma série de dificuldades de aceitação tanto do ser homem, macho, trabalhador e chefe da casa como de suas funções biológicas normais, a citar, por exemplo, a sua sexualidade que é cientificamente comprovado que sofre severas influências havendo impotência no sexo masculino e redução da libido no sexo feminino deixando perceber focos de baixa autoestima. Os relatos consideram ainda as dificuldades de traslado e a sensação de impotência frente à fila de espera, o que não abala neles a “fé” de que conseguirá logo, logo ser convocado para o transplante. O diálogo não apenas aproxima como também proporciona a percepção de si e do outro e não apenas da máquina a que está ligado (fala dos dialíticos). Ainda que com um diálogo muito restrito, a relação entre eles flui de formal natural e espontânea, os mesmos se reconhecem por nomes, discursos e situações muito próximas, desenvolvem momentos de descontração e articulam boas gargalhadas, presume-se que pelo tempo de convivência e de compartilhar da mesma situação. O ponto de apoio que eles consideram essencial e que favorece a viabilidade do momento acontecer de forma menos dolorosa é a equipe de enfermagem e como se tratam de relações, a perda de um é sentida por todos, ficando inclusive na Equipe de Enfermagem a sensação de vazio visto que cada membro da equipe conhece minuciosamente cada um dos que fazem a hemodiálise. Há intensa reclamação das sensações de náuseas e mal estar por conta do Eprex, mas não deixa de ser expressivamente bela a relação que há naquele setor entre os clientes que passam pela sessão de hemodiálise e a Equipe de Enfermagem de forma muito sensível e com um olhar apurado acompanha cada sessão atentando-se aos sinais vitais e possíveis situações de risco que possam por ventura trazer a uma intercorrência na sessão.
Palavras-chave
Diálise; Saúde; Enfermagem; SUS; Humanização.