Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Curso-Dispositivo de Metodologia de Apoio às Equipes de Saúde para Enfermeiros de Mato Grosso do Sul: uma experiência inovadora
Luciane Aparecida Pereira de Lima, Margarete Knoch Mendonça, Arminda Rezende de Pádua Del Corona, Viviane Torqueti Felisberto Souza, Luciana Contrera Moreno, Fabricia Rezende de Rezende, Raquel Braga Rosa
Última alteração: 2015-11-12
Resumo
APRESENTAÇÃO: O trabalho em equipe é tema de estudos em várias áreas no mundo do trabalho, é constitui um dos maiores desafios no campo da saúde. Campos (2007) desenvolveu pesquisas sobre o trabalho em equipe de saúde, desenvolvendo um método e maneiras de analisar e gerir pessoas trabalhando em conjunto. O método para análise e co-gestão de coletivos ou método da roda é utilizado para apoiar equipes interessadas em produzir valores de uso, apoia de modo simultâneo, a elaboração e implementação de projetos e a construção de sujeitos e de coletivos organizados. Esse método pode ser autoaplicável ou pode contar com o apoiador institucional. Esses apoiadores trabalham nas equipes ou nas unidades de produção, ajudando as equipes a construírem espaços coletivos, nos quais o grupo define tarefas e elabora projetos de intervenção. Nesse sentido, o apoiador compromete-se com as equipes e não somente com a alta direção. Os apoiadores têm uma inserção matricial na linha organizacional e seu trabalho é mediado por contratos com a equipe. O método da roda opera com o conceito ampliado de gestão, atua com função gerencial, política, pedagógica e terapêutica, fomentando a co-gestão do trabalho em saúde. Dessa forma a equipe de enfermagem composta por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem constituem uma unidade de produção, no qual suas decisões e as interações determinam a qualidade do cuidado no contexto de cada serviço de saúde. O enfermeiro é o gestor da equipe de saúde na atenção básica e é o responsável técnico pelos técnicos e/auxiliares de enfermagem. Faz, portanto, necessário repensar seu papel frente a organização dos serviços de saúde a partir da sistematização da assistência de enfermagem no âmbito individual, familiar e coletivo, bem como entre a equipe de saúde como um todo. O Comitê de Gestão da Qualidade do Serviço de Enfermagem da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande/MS, desde 2011, é constituído por seis colegiados de 10 a 12 enfermeiros atuantes nos serviços de saúde e na gestão. Os profissionais tem realizado um pratica de co-gestão e análises no cotidiano do trabalho do enfermeiro e do seu potencial na gestão da equipe de saúde. A partir dessas analises realizamos uma parceria com o Curso de Enfermagem da UFMS a fim de propor um projeto de extensão com um curso-dispositivo de metodologia de apoio as equipes de saúde para enfermeiros como ferramenta indutora de melhoria do acesso e da qualidade dos serviços de saúde, com formação de apoiadores enfermeiros, para a equipe de enfermagem no âmbito da sua própria equipe e do coletivo de enfermeiros nas unidades de produção. OBJETIVO: descrever a experiência da realização do Curso-Dispositivo de Metodologia de Apoio às Equipes de Saúde para Enfermeiros de Mato Grosso do Sul. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência da integração ensino-serviço por meio de um Projeto de extensão da UFMS, modalidade Curso coordenado por professores do curso de Enfermagem / CCBS da UFMS e enfermeiros do o Comitê de Gestão da Qualidade do Serviço de Enfermagem da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande – MS, no ano de 2015: Inicialmente o público alvo seriam os enfermeiros da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande-SESAU/MS e de outras Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso do Sul, capacitando-os por meio do Método do Apoio e de Metodologias Ativas para atuar nas equipes de saúde, , identificando e avaliando a situação de problemas e desenvolvendo um projeto de intervenção, com avaliação dos resultados junto as equipes de saúde. O curso teve o seguinte desenho: 3 Módulos Presenciais com duração de 3 dias, os quais acontecerem nos meses de junho, agosto e setembro de 2015, onde foram desenvolvidos vários conteúdos temáticos distribuídos em três eixos: Estudos Avançados de Enfermagem, Metodologias de Ensino e Pesquisa e Co-gestão. Simultaneamente, foi ofertado uma plataforma no sistema de EAD da UFMS, onde os participantes foram inseridos por sub-turmas de áreas e especialidades, visando a troca de experiência e discussão para a construção do projeto de intervenção com sua equipe de saúde. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: No primeiro encontro apresentamos a proposta de formação de apoiadores para o desenvolvimento dos colegiados, a vivência de apoiar e ser apoiado durante encontro e intercalando oferta e demanda do grupo possibilitou a ampliação e a sensibilização de enfermeiros para aprofundamento e vivencia do método da roda. No transcorrer do primeiro momento encontro do mesmo, alguns enfermeiros do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, Hospital Universitário - HUMAP/UFMS e Santa Casa de Campo Grande, demonstraram interesse em participar devido a potência do apoio do trabalho em equipe e da equipe de enfermagem, assim foram acolhidos e inseridos nas etapas presenciais e atividades a distância. Percebemos que no desenvolvimento de grupos de apoiadores para o fortalecimento dos colegiados e operacionalização das tarefas individuais do curso um aumento da co-responsabilização do cuidado em saúde entre as instituições de saúde. A grupalidade, o cuidado da equipe, o repensar das ações cotidianas, o apoio institucional e matricial, a busca de novos atores a participar do curso, a interação entre discentes, docentes e profissionais dos serviços, o aprofundamento das relações de solidariedade e vínculo entre os enfermeiros foram ganhando destaque nas rodas de apoiadores e nos colegiados existentes. Surgiram novos colegiados e a interação dos enfermeiros passou a colaboração em projetos interinstitucionais em redes quentes nos SUS. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O apoio institucional para a co-gestão tornou-se o desejo dos enfermeiros para a democratização das relações institucionais no âmbito macro e micro das equipes de saúde e da própria enfermagem. O curso-dispositivo se tornou uma experiência inovadora no contexto dos serviços de saúde e no curso de enfermagem, fomentando novos projetos tecnológicos entre a Secretaria de Saúde de Campo Grande, demais Secretarias Municipais de Saúde, Secretaria Estadual de Saúde, Hospitais, Universidade Federal e Estadual, o Centro CIPE no Brasil. A última etapa do curso foi a apresentação do projeto de intervenção disparados por cada Colegiado da Qualidade de Assistência de Enfermagem da SESAU e nos hospitais, durante o II Seminário da Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem. O curso-dispositivo no momento do seminário consolidou um debate no decorrer de todo processo do curso, a formação de um Comitê Estadual de Práticas Avançadas de Enfermagem, Núcleos de Estudos e Pesquisa em Enfermagem nos serviços de saúde em cooperação com os Cursos de Enfermagem das Universidades, o fortalecimento do Comitê de Gestão da Qualidade do Serviço de Enfermagem da SESAU e a criação da Rede de Enfermagem de Mato Grosso do Sul. Todos esses movimentos formando um coletivo de estudos e práticas de co-gestão, para aprofundamento do método para apoio a coletivos organizados para a produção, capacidade de análise e de intervenção, bem como o exercício constante do apoio institucional como método de apoio as equipes de saúde.
Palavras-chave
apoio institucional, co-gestão, projeto de extensão, equipe de enfermagem, rede de atenção a saúde, comunidade de práticas, comite, colegiado
Referências
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