Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS E AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE: UM COMPROMISSO COM A PRIMEIRA INFÂNCIA
Maria do Socorro de Sousa, Márcia Maria Tavares Machado, Tânia Maria de Sousa França, Tâmara Maria Bezerra Costa Coelho, Ticiana Melo de Sá Roriz, Elisa Parente Costa

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


APRESENTAÇÃO: As Políticas Públicas para a Primeira Infância vêm ganhando espaço na Agenda Internacional dos governantes em todos os níveis de governo. No Brasil a população estimada em 2013 é de 201.062.789 habitantes, sendo 11.082.305 de crianças na faixa etária de 0 a 4 anos. Neste contexto conforme o Censo do IBGE de 2010 a população do Ceará é de 8.778.576 habitantes, sendo 518.665 crianças de 0 a 04 anos que compõem um dos segmentos mais vulneráveis da população devendo ser o principal foco de atenção nas ações governamentais e não governamentais. Por isto a Prefeitura Municipal de Fortaleza-CE através da Secretaria de Saúde e em parceria com as setoriais de Educação, Cidadania e Direitos Humanos, Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, investe atualmente em ações direcionadas à Primeira Infância, priorizando a concepção e a implantação do Programa Cresça com Seu Filho. A experiência abaixo detalhada,   configura-se na proposta de apresentação do presente trabalho. O processo de implementação do referido programa, reconhece o trabalho já desenvolvido pelos agentes comunitários de saúde e enfermeiros, no acompanhamento às famílias por meio das visitas domiciliares. Tendo o  foca nessa ação, o trabalho se compromete em potencializá-la em prol da primeira infância, acreditando no seu poder provocador de mudanças. Com base na compreensão que educação permanente é aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho foi organizada uma formação que teve início em 2014 continuando intensamente em 2015 totalizado até o momento, mais de 400 enfermeiros e ACS participantes. A formação tem como objetivo: Aprimorar e desenvolver competências dos enfermeiros e agentes comunitários de saúde ACS, participantes desse programa, tornando-os capazes de orientar nas visitas domiciliares o cuidar de crianças de 0 a 3 anos, qualificando o processo de desenvolvimento integral na primeira infância. Desenvolvimento A formação está estruturada em três módulos de aprendizagem, onde estão descritos os respectivos objetivos de aprendizagem, a temática pertinente a cada módulo e o roteiro de atividades a serem desenvolvidas pelos facilitadores e participantes. A formação se desenvolve com base em três diálogos: Emocional, ampliação do conhecimento e regulação.  Diálogo compreendido como um encontro de conhecimentos constituídos histórica e culturalmente por sujeitos, ou seja, o encontro desses sujeitos na intersubjetividade, que acontece quando cada um, de forma respeitosa, coloca o que sabe à disposição para ampliar o conhecimento crítico de ambos acerca da realidade, contribuindo com os processos de transformação e de humanização. O diálogo: Emocional é norteado por quatro princípios: 1º Princípio: manifestar sentimentos positivos para a criança, 2º Princípio: seguir a iniciativa da criança, 3º Princípio: estabelecer um diálogo íntimo com a criança, 4º Princípio: elogiar o seu filho. O diálogo: Ampliação do conhecimento (cognição e linguagem) é norteado por três princípios: Princípio 5º: Ajudar a criança a focar a sua atenção. Princípio 6º :mostrar entusiasmo ao nomear e descrever objetos e situações, Princípio 7º : ampliar o saber com imaginação e lógica. O terceiro Diálogo: Regulação – prescritivo e de limites norteia-se pelo principio 8º subdividido em três aspectos.  A subdivisão compreende: a) Regular a ação da criança passo a passo; b) Colocar limites de forma positiva; c) Dar apoio à criança para que leve seu projeto até o fim. A metodologia da formação contempla períodos de concentração – atividades que acrescentam e sistematizam o conhecimento na relação teórico-prática e períodos de dispersão – aplicação dos conhecimentos sistematizados no período de concentração, relacionando permanentemente ensino, serviço e comunidade. Tendo como referência a problematização; a participação ativa no processo de ensino-aprendizagem; as histórias de vida como fundamental para a construção do conhecimento; o saber a priori como ponto de partida. Também merece destaque no desenvolvimento as turmas serem da mesma unidade de saúde e da mesma equipe de saúde da família, favorecendo que os trabalhos de equipe sejam realizados nas mesmas equipes do próprio trabalho.   Resultados O momento de dispersão faz a diferença no ensino-aprendizagem, uma vez que no início de cada módulo os participantes narram como tem sido a aplicação na prática cotidiana, as dificuldades enfrentadas e as possibilidades levantadas. O ensino quando relacionado com o serviço apresenta-se muito produtivo. A formação alerta os participantes para um fazer com mais dedicação às atividades relacionadas às situações que a priori pareciam menos importantes, como a escuta atenta ao choro da criança. Na formação de mais de 400 participantes, embora os mesmos tenham se empenhado a colocar em prática o que aprenderam, buscando alcançar resultados positivos para seu trabalho, junto às famílias e comunidades, foi percebido que o planejamento das ações dos ACS, ainda apresenta limitações, necessitando que as formações dediquem mais espaço e aprofundamento para esta temática. Outro ponto que mereceu reflexão é a resistência inicial a formação, pelos ACS e enfermeiros, devido à percepção de que teriam maior demanda de trabalho. Mas no decorrer da formação dar para perceber uma mudança de compreensão inclusive, especialmente quando os participantes expressam nas avaliações como eles estão mudando na sua própria família ao afirmarem o que de mais significativo aprenderam na formação: “Agora entendo que a importância desse curso é o aprendizado da criança; Para mim foi muito importante para aprimorar o meu trabalho no campo e em casa com o meu filho dando mais valor aos sentimentos que muitas vezes achamos insignificantes; Aprendi que nessa faixa de idade se a criança perder algum vínculo, jamais vai poder recuperar, isso pode trazer grandes problemas a vida toda; Aprimorar a qualidade das visitas tendo um olhar às crianças e cuidadores;  A importância que tem de cuidar do seu filho de forma adequada abordando os aspectos emocionais, expressivo cognitivo e regulador; Mudar o olhar, ser mais atenciosa, compreensiva e poder sempre está aberta para aprender com o mundo, em casa e do trabalho; Saber olhar  diferente. Olhar um todo.” CONSIDERAÇÕES: A formação dos seis grupos já realizada alertou como os formadores devem escutar, acolher inicialmente o grupo, suas histórias, seus saberes, tornando-os sujeitos ativos do processo ensino-aprendizagem.  As resistências iniciais explicitaram que a relação entre trabalho e educação ultrapassa os conteúdos curriculares preestabelecidos, exigindo que o trabalho seja visto de forma viva e parte fundamental dos processos de Educação Permanente em Saúde concretizando a articulação ensino, serviço e comunidade.

Palavras-chave


FORMAÇÃO – SAÚDE - PRIMEIRA INFÂNCIA.

Referências


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