Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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INTENSIFICAÇÃO DE CUIDADOS NA CRISE PSICÓTICA: EXPERIÊNCIA DE RESIDENTES DE PSICOLOGIA EM UM HOSPITAL-DIA NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL
Luciana Santos Rodrigues, Vanessa Santana da Costa Lima

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


Este relato de experiência tem como objetivo compartilhar a vivência e a experiência, com seus entraves e potencialidades, de duas residentes do Programa de Residência em Psicologia Clínica e Saúde Mental no atendimento a pacientes em crise no Centro Docente Assistencial de Narandiba – CENA, hospital-dia anexo ao Hospital Especializado Juliano Moreira – HJM, em Salvador/BA, durante um ano (maio/2014 a abril/2015). Esta atuação está vinculada às práticas dos residentes de primeiro ano – R1, que incluem a vivência da internação – integral ou hospital-dia –, serviço de emergência e triagem e atendimento ambulatorial. Vale ressaltar que nossa prática clínica é orientada pela psicanálise, o que nos possibilita um olhar singular sobre o sujeito em crise psicótica. Este ‘cardápio’ de práticas teve como resultado nos aproximar mais, de forma tensa e intensa, do sujeito psicótico em crise, assim como dos discursos da saúde mental, da intensificação de cuidados e do movimento antimanicomial. O asilo psiquiátrico do século XIX, sob o comando do médico, tinha a função de produzir o fenômeno da loucura, na sua forma essencial, o que correspondia ao pensamento da época. Era um lugar de confronto da verdade perturbada do louco com as vontades ortodoxas da época. Nesse confronto, o médico, utilizando de um método perturbador, subjugava o doente para assim poder dominá-lo. Esse local de confronto passou a ter a função de diagnóstico e de classificação. Para esse confronto, os médicos se utilizavam de diversas técnicas, entre elas isolamento, interrogatório, punição, pregação moral, trabalho obrigatório, dentre outras. Essas técnicas de subjugação transformavam o médico em “mestre da loucura”, que tinham o poder de trazer à luz e dominar a verdade escondida do louco. O que estava em questão nesse modelo era o poder excessivo do médico. Essa forma de “cuidado”, que privilegia o excessivo poder do médico psiquiatra sobre o indivíduo, ao invés de privilegiar o cuidado especializado a este indivíduo, traz o incômodo ao sabermos que tais práticas e relações de poder sobre o outro “louco” permanecem, de forma atenuada, com diferentes matizes, nos atuais dispositivos de saúde mental. A nossa prática no CENA nos fez experimentar uma modalidade de cuidado intensivo, em contraponto à oferta de integração integral do HJM. Uma prática que tem como fundamento a crença de que é preciso preservar o lugar deste sujeito na família, na comunidade, na cidade. É preciso que os laços sejam mantidos. Ofertamos, portanto, a prática do cuidado “um a um”, promovida por uma equipe multidisciplinar, com a participação necessária, efetiva e implicada da família, levando em conta as necessidades de cada usuário em crise.  

Palavras-chave


Saúde Mental; Hospital-dia; Crise psicótica