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Atenção à hanseníase: um olhar além da avaliação do PNASS
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: A história da hanseníase no Brasil se cruza com a própria história do país, e consolida socialmente o estigma envolvendo a doença. A partir de 1962, com o fim da obrigatoriedade da internação compulsória, associado aos avanços tecnológicos na área da saúde, ao incentivo para o diagnóstico precoce e à descentralização do tratamento nos serviços de APS, estas instituições sofreram severas reduções no número de usuários. A experiência de avaliação de um serviço asilar, vivenciada durante a execução da avaliação externa promovida pelo Programa Nacional de Avaliação dos Serviços de Saúde (PNASS), levantou inquietações sobre as razões da persistência do único estabelecimento asilar de hanseníase do estado de São Paulo e sobre a adequação dos instrumentos avaliativos para esse específico equipamento de saúde. DESENVOLVIMENTO: Trata-se de um estabelecimento de saúde especializado em hanseníase, 100% SUS, localizado na região centro-oeste paulista. Em função do perfil do estabelecimento, muitos dos critérios de avaliação não se aplicaram e a singularidade de todo o ambiente associado à história da instituição, despertou um grande interesse em conhecer melhor sua estrutura e condições gerais de funcionamento. RESULTADOS: Fundado na década de 1930, iniciou suas atividades com cerca de 2.100 internos, entre homens, mulheres e crianças, rapidamente dobrou o número de internações. Apresenta atualmente uma estrutura de 118 leitos, além das residências domiciliares, e uma equipe composta por 29 médicos e 161 profissionais de diferentes áreas, como Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia, Nutrição, entre outros. Com uma área de 242 mil m2, os 139 usuários que se mantêm como moradores dividem-se entre os que residem em casas nas dependências do hospital e os considerados doentes crônicos com importantes limitações de autonomia e complicações clinicas, mantidos nas enfermarias. Entre os moradores, há doentes, familiares e agregados dos internos, além de pessoas que foram abandonadas apesar de já estarem curadas. Está localizado acerca de 15 quilômetros do centro da cidade e é cercado por pinheiros, de modo que o ar “fosse filtrado antes de chegar à cidade”, garantindo o isolamento da instituição. As instalações são bem antigas, porém de fácil acessibilidade aos trabalhadores. Em decorrência do isolamento, os próprios internos organizaram-se em mutirão e além da construção das casas, construíram uma “minicidade” com matadouro, capela, coretos, praças, oficinas, sapataria, cemitério, etc. Muitas destas instalações encontram-se atualmente extintas, no entanto, os internos relataram a existência de fábrica de tijolos, ladrilhos, colchões, sabão, serralheria e carpintaria, que funcionavam dentro do estabelecimento como mecanismo de geração de emprego e mão de obra local. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A presente experiência proporcionou um misto de sentimentos envolvendo a discriminação e preconceito de toda uma sociedade, associado à tristeza do isolamento vivenciado por aqueles internos. Mas sobressai a toda esta história de reclusão e abandono, a humanização do local, evidenciada nas atitudes entre funcionários e pacientes e por um grande vínculo afetivo. Em função do histórico de reclusão, os próprios pacientes não desejam ter alta, e acaba por se tornar parte da própria instituição.
Palavras-chave
Avaliação em Saúde; Hanseníase; Programa Nacional de Avaliação dos Serviços de Saúde
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. Brasília. 2015.
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