Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
ENFERMEIRO-REFERÊNCIA E O APOIO MATRICIAL: CAMINHOS QUE SE CRUZAM
Paula Knoch Mendonça, Margarete Knoch Mendonça, Luciane Aparecida Pereira de Lima

Última alteração: 2015-12-06

Resumo


APRESENTAÇÃO: Relato de experiência cujo objetivo é apresentar a vivência como Enfermeiro-Referência em um hospital, durante os anos de 2011 a 2015 e em 2015, a experimentação de apoio matricial ao Comitê de Gestão da Qualidade do Serviço de Enfermagem da Secretaria Municipal de Saúde (SESAU) de Campo Grande-MS. São expressões tecnológicas do cuidado, que a partir do cotidiano dessas experiências estão possibilitando o cruzamento de caminhos metodológicos para o desenvolvimento das práticas avançadas de enfermagem e da enfermagem baseada em evidências, estimulando o diálogo aprofundado dessa temática junto aos colegiados de enfermeiros em Mato Grosso do Sul. Desenvolvimento do trabalho: Durante a experiência profissional, como enfermeira assistencial, em uma instituição de saúde filantrópica, recebeu o convite em participar do projeto Enfermeiro-Referência (ER). Este projeto foi uma iniciativa da própria instituição, em 2010, depois de detectada a necessidade de apoiar os enfermeiros especialistas, que muitas vezes, e não conseguem atender todas as demandas dos pacientes e da instituição. O objetivo é capacitar os enfermeiros especialistas, a fim de se tornarem referência em seu próprio setor e para o hospital, em uma determinada área temática, como por exemplo: terapia nutricional, dor, diabetes e estomaterapia. A indicação e convite para participarem do projeto foram feitos pela coordenação de enfermagem e seguem os critérios de avaliação de desempenho, perfil para o desenvolvimento do trabalho, disponibilidade de horário e interesse do profissional. Foi realizada uma capacitação com discussões de casos utilizando a metodologia “ProblemBased Learning”, estudos clínicos e visitas com o enfermeiro especialista/referência para conhecer a atividade a ser desempenhada. Além disso, os ER são motivados a participarem na elaboração de um projeto de melhoria institucional, apresentar os resultados para a gerência de enfermagem e em eventos científicos. Após essa etapa de capacitação, o enfermeiro está apto para desempenhar suas atividades e passa a ter as seguintes atribuições: capacitação dos profissionais na área de atuação/referência; orientação aos profissionais de enfermagem na prática diária, atendimento em outros setores por telefone ou in loco e esclarecimento de dúvidas; assistência direta aos pacientes nos momentos intra-hospitalar e de alta. Todas as intervenções realizadas junto aos pacientes e as capacitações de profissionais de enfermagem são feitas no registro eletrônico, e em prontuário, em caso de atendimento aos pacientes. O registro eletrônico possibilita o acesso às informações e a troca de experiências das intervenções realizadas por todos os ER. Como atividades de atualização e manutenção na função de ER, os mesmos participam de reuniões mensais nos temas de sua área, com exigência de frequência mínima de 70%. Os benefícios concedidos ao ER incluem o recebimento de um certificado; a participação em confraternização anual; oportunidades de participação em eventos da área de referência; uma folga anual, se frequência mínima de 70% nas reuniões mensais; e o acúmulo de banco de horas, em casos de atendimento fora do turno de trabalho. Em 2015, apresentamos essa vivência no Comitê de Gestão da Qualidade do Serviço de Enfermagem da SESAU em Campo Grande-MS. Nesta oportunidade, fizemos a comparação e o “cruzamento” da tecnologia de ER com Apoio Matricial (AM). Considerando que o AM em saúde objetiva assegurar retaguarda especializada a equipes e profissionais encarregados da atenção a problemas de saúde. O Comitê já vinha exercitando o AM ao tentar oferecer tanto retaguarda assistencial, quanto suporte técnico-pedagógico aos enfermeiros dos serviços, na construção compartilhada de diretrizes tecnológicas de enfermagem, dentro da equipe de saúde. Resultados e/ou impactos: A vivência como ER possibilitou desenvolver um olhar diferenciado para a prática clínica diária; perceber as dificuldades da equipe de enfermagem; orientar a equipe multidisciplinar; compartilhar os problemas com a equipe; e propor melhorias. Para o serviço, funciona como apoio aos enfermeiros especialistas; atende as demandas do hospital em todos os horários; ajuda no próprio setor; e otimiza o tempo do especialista e do paciente. Também pode ser considerada como uma corresponsabilização desses profissionais junto aos especialistas inseridos nos serviços de saúde. Entende-se que o ER tem semelhança com a metodologia de Apoio Matricial (AM), sendo esse equipe “e/ou enfermeiro” de referência, pois são arranjos organizacionais e uma metodologia para a gestão do trabalho em saúde, objetivando ampliar as possibilidades de realizar-se clínica ampliada e integração dialógica entre distintas especialidades e profissões. Em uma perspectiva mais ampla, contribui para melhorar a capacidade de resposta assistencial e gerencial dos serviços. Ambas as tecnologias: ER e AM podem ser aperfeiçoadas. O Projeto de ER destacou a capacitação dos profissionais de enfermagem em uma área específica, empoderando-os para uma intervenção consistente baseada em evidências científicas e o desenvolvimento do interesse de aprofundar do debate das práticas avançadas de enfermagem e da enfermagem baseada em evidências. Desta forma obtém-se qualificação dos mesmos na área de atuação e assim a melhoria da assistência; a distribuição das atividades a fim de zelar pela qualidade do serviço prestado. Além disso, valoriza o trabalhador, proporcionando o seu reconhecimento tanto na área de atuação como na área de referência Já o AM contribui com a capacidade de análise do processo de trabalho e na ampliação do olhar, para enxergar outros aspectos de sua vida. Isso favorece que o conjunto das intervenções terapêuticas, tragam mais benefícios do que danos e que o projeto terapêutico envolva um compromisso com o usuário. O AM é uma forma de organizar e ampliar a oferta de ações em saúde, que lança mão de saberes e práticas especializadas, e aumenta a resolutividade. Possibilita um modelo de atendimento voltado para as necessidades de cada usuário, pois as equipes conhecem os usuários que estão sob seus cuidados e isso favorece a construção de vínculos terapêuticos e a responsabilização das equipes. Constituem-se, portanto, como ferramentas indispensáveis para a humanização da atenção e da gestão em saúde. Considerações finais: A proposta de ER e AMpode ser vista, nos serviços de saúde,como uma quebra do modelo hegemônico de administração por tarefas e centrado em um único profissional, pois amplia a clínica e se torna uma mudança de paradigma, compreendido como um compartilhamento de saberes e constituição de locais de construção coletiva do cuidado, respeitando os limites profissionais e os princípios éticos. O método do AM depende da existência de espaços coletivos, ou seja, do estabelecimento de algum grau de cogestão ou de democracia institucional, assim o cruzamento do ER e AM no âmbito do Comitê tem possibilitado um modelo de cuidado em saúde mais horizontal, dialógico e interdisciplinar e com mais cogestão.