Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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REORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA NA REGIÃO DOS MORROS DO MUNICÍPIO DE SANTOS: EXPERIÊNCIA DA EQUIPE DE SAÚDE DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE SÃO BENTO NA TRANSIÇÃO PARA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
SIMONE PERCINCULA ANDRADE DA ROCHA BARBOSA, NATALIA CRISTINA BRITO MELLO, TATIANA DAS NEVES FRAGA MOREIRA, MARIA LÚCIA MARTINS DA SILVA NOVAES, DANIELA GONÇALVES GODOY MOUTINHO, LUANA MAYUMI DE MELO SHIMOKOMAKI

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS: O início do PSF se deu logo após o sucesso do trabalho dos primeiros agentes de saúde do sertão do Ceará, em 1987.  Esses profissionais eram mulheres, moradoras da comunidade, que visitavam as famílias com objetivo de levar informação sobre a importância do pré-natal, puericultura, vacinação, cuidados com diabetes e hipertensão, dentre inúmeros cuidados da atenção básica. Essas ações resultaram na diminuição dos índices de mortalidade materno-infantil, internações hospitalares por diarréia e infecções respiratórias agudas, aumento do percentual de mulheres com inicio de pré-natal no primeiro trimestre e ampliação de redes de atenção à saúde em territórios historicamente vazios. Com avaliação positiva do trabalho das agentes de saúde, é criado em 1991 o Programa dos Agentes Comunitários de Saúde (PACS) que se estendeu nas regiões do norte e nordeste, e depois para as demais regiões (BRASIL, 1997). E em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF) é estabelecido por meio de normas e diretrizes do Ministério da Saúde (MS), como uma das estratégias para reorganizar o modelo de assistência do Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo era de estender a cobertura assistencial em áreas de maior risco social e estruturar os sistemas municipais de saúde imprimindo uma nova dinâmica aos serviços e ações em saúde. Assim, o PSF foi um programa voltado à reorganização da atenção primária. Atualmente a nomenclatura foi modificada para Estratégia de Saúde da Família (ESF), pois segundo Brandalise (2014) a partir de 1994 a Saúde da Família “deixou de ser um programa focalizado passando a ser uma estratégia de mudança do modelo de atenção no SUS”. O presente relato de experiência busca descrever alguns passos do percurso realizado por uma equipe de saúde da atenção primária que foi reestruturada do modelo tradicional – unidade básica de saúde (UBS) – para o modelo de ESF, demonstrando a metodologia aplicada no período de transição. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O atual cenário da saúde no Brasil vive um intenso avanço no que se refere à criação de diversos programas, projetos e políticas. Dentre eles destacamos a reorganização da Atenção Básica (AB), através da mudança de modelo de assistência à saúde e ampliação das equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) nos municípios de todo país (PNAB, 2012). Na cidade de Santos, no ano de 2006, iniciaram as primeiras equipes de ESF na AB. Essas equipes foram criadas em áreas onde a referência de atenção primária à saúde não estava localizada próximo à comunidade. Com a inclusão de novos equipamentos de saúde iniciaram-se as atividades no modelo de assistência da ESF. Após oito anos da criação destas primeiras equipes, o município volta a organizar a AB expandindo a ESF. Essa proposta priorizou as áreas de alta vulnerabilidade, bem como as grandes dificuldades de acesso proporcionadas por extensas escadarias, vielas, becos e ruas extremamente íngremes. A partir do mês de maio do ano de 2014, começaram as ações para a transição do modelo de atenção. As unidades eleitas para iniciar o processo foram a UBS Jabaquara e UBS Morro São Bento. RESULTADOS:No Morro São Bento, a equipe de saúde iniciou as ações a partir de um censo realizado pelos agentes comunitários de saúde (ACS) com levantamento dos moradores da comunidade, domicílio a domicílio, elencando os espaços públicos, como escolas, creches, igrejas, centro de atividades esportivas, bem como o comércio local, os mercados, bares, restaurantes. Este censo foi finalizado em julho/2014, e com este levantamento verificamos qual o quantitativo de equipes necessárias, a divisão das áreas, e micro áreas, e em seguida a distribuição dos profissionais lotados nesta unidade de saúde e a solicitação dos demais para complementação. Com a chegada de novos ACS, realizaram-se mutirões para o cadastramento da população local. Após a chegada dos demais profissionais iniciou-se o processo de capacitação para o novo modelo. Considerou-se a possibilidade de capacitar os profissionais que iriam compor as novas equipes, e em reunião realizada no mês de outubro/2014, onde participaram os gestores locais, coordenação da AB, e outros profissionais que já atuam no modelo de ESF, acordou que a proposta mais indicada seria as oficinas. Foram levantados os temas que seriam abordados, e qual a melhor metodologia a ser aplicada, resultando em três oficinas: a primeira aconteceu no final do mês de outubro, e as demais ocorreram respectivamente, em novembro e dezembro/2014. O uso de oficinas proporcionou um melhor entendimento da estratégia, uma vez que utilizou os saberes dos profissionais da unidade, a Coordenação Regional e de outros profissionais que já atuavam no modelo ESF. Os gestores e profissionais das novas equipes da ESF fizeram visitas a outras unidades de saúde do munícipio, que já utilizam o modelo de saúde da família, para compreender como era desenvolvido o trabalho, e de como se organizavam no atendimento, disponibilidade das agendas, realização dos programas, identificação dos prontuários, entre outras ações. A ESF tem como base de seus princípios a promoção de saúde da família, a integralidade, territorialização e continuidade das ações de saúde sendo a porta de entrada do usuário no serviço (BRASIL, 2003). Após a composição das equipes, a unidade de saúde e os profissionais foram incluídos no modelo de ESF no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES). Para atender à população do Morro São Bento foi composto três equipes da ESF e duas equipes de saúde bucal, que contam com o apoio do Núcleo de Apoioà Saúde da Família (NASF) da Região dos Morros. Com o território demarcado, equipes organizadas e cadastradas, iniciou-se o atendimento ao usuário no modelo da ESF, a partir do primeiro dia de dezembro/2014. Os profissionais foram mobilizados para realizar os agendamentos de consultas com foco na orientação e divulgação do novo modelo de assistência vigente na unidade, com intuito de informar a comunidade sobre as mudanças que estavam ocorrendo. Percebemos a necessidade do acolhimento aos usuários, e utilizamos a escuta ativa e ampliada para maior resolutividade da assistência. As agendas de atendimento foram reorganizadas, e conforme a população acessava a unidade de saúde, as equipes dividiam-se para orientar e explicar o novo modelo de trabalho. Percebemos a necessidade do acolhimento aos usuários, que utilizou a escuta ativa e ampliada para maior resolutividade da assistência. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Desta forma, concluímos que para a transição foram fundamentais as etapas de censo demográfico, ingresso de novos profissionais para composição das equipes, capacitação dos profissionais para o novo modelo e orientação da população utilizando a escuta como principal ferramenta de vinculação. O êxito no atendimento ao público é resultado do trabalho em equipe, que com diferentes olhares, saberes e fazeres compartilharam seus conhecimentos e, esse modo de trabalho fortaleceu as ações elaboradas. A comunicação surge como elemento facilitador para o desenvolvimento das ações de saúde, e o conhecimento sobre a comunidade que os profissionais da ESF possuem é originado pelas trocas de saberes, discussões de casos em reuniões de equipe, visitas domiciliares e de reconhecimento de território. A proposta se aproxima do pensamento Freireano (FREIRE, 2014) nos aspectos da horizontalidade e do conhecimento da realidade local para realização dos trabalhos.

Palavras-chave


Estratégia de Saúde da Família; Agentes Comunitários de Saúde; reorganização da Atenção Básica; vulnerabilidade.

Referências


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