Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O PROCESSO DE TRABALHO NA ESF E SUA POTÊNCIA NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS
Adilson Ribeiro dos Santos, Alba Benemérita Alves Vilela, Rose Manuela Marta Santos, Tatiana Almeida Couto, Nathalie Oliveira Gonçalves, Edmilson Alves Santos, Tilson Nunes Mota, Túlio Batista Franco

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


INTRODUÇÃO: Como palco de produção do cuidado, a Estratégia Saúde da Família – ESF traz um processo de trabalho alicerçado nos pilares da promoção e vigilância da saúde, assim como da clínica, compondo este conjunto a produção do cuidado. Em sua gênese, o Programa Saúde da Família – PSF foi formulado como programa, posteriormente definido e defendido como estratégia, especialmente a partir de 1997, data da segunda publicação do Ministério da Saúde sobre conceitos, objetivos, diretrizes e implementação do PSF. Com um modelo que coloca o profissional dentro de diversas realidades dos usuários, rompendo com uma estrutura fria (salas climatizas), branca (existência de equipes nas mais diversas periferias), ditatorial (prerrogativa de um modelo dialógico, dentre outras), a ESF possibilitou uma maior atuação na micropolítica, ou seja, nas questões que envolvem os processos de subjetivação em sua relação com o político, o social e o cultural, sendo estes os elementos que configuram os contornos da realidade em seu movimento contínuo de criação coletiva. A ESF representa, pelo menos, duas novas formas de abordagem da questão da saúde da população: primeiro, busca ser uma estratégia para reverter à forma atual de prestação de assistência à saúde; segundo, é uma proposta de reorganização da atenção básica como eixo de reorientação do modelo assistencial, respondendo a uma nova concepção de saúde. Essa concepção é uma combinação da gestão da clínica, com a promoção da qualidade de vida e intervenção nos fatores que a colocam em risco – pela incorporação das ações programáticas de uma forma mais abrangente e do desenvolvimento de ações intersetoriais. Com um processo de trabalho centrado na equipe multiprofissional, em um ambiente de constantes trocas, a EPS é uma das ferramentas que tem o potencial de contribuir para a reorientação do modelo de atenção e para a consolidação da ESF como primeiro contato dos usuários ao sistema de saúde e ampliar as possibilidades de resolutividade da mesma. Ribeiro dos Santos e Coutinho (2014) trazem a EPS como uma ferramenta que pode promove a qualificação da formação, da gestão, do aprimoramento profissional e do controle social como uma das novas modalidades de reorientação do modelo de atenção à saúde. Reconhecendo no processo de trabalho na ESF como um dispositivo na produção de novos saberes das relações entre trabalhador/trabalhador e entre trabalhador/usuário este estudo tem como objetivo analisar a produção de conhecimentos fruto dos encontros produzidos na ESF. MÉTODO: Estudo qualitativo que se ancorou na cartografia como meio para a produção do estudo. A cartografia é um dispositivo de construção de conhecimentos formulada por Guilles Deleuze e Félix Guattari. Em sua aplicabilidade, uma construção cartográfica, possibilita tornar visíveis processos que só são percebidos através do olhar vibrátil, da dilatação do corpo sem órgãos para a captação dos afetos que constroem realidades, a partir dos encontros, da pessoa enquanto singularidade com o mundo. Este estudo aconteceu em uma unidade de saúde da ESF em um município baiano. Participaram todos os trabalhadores da equipe. Os preceitos éticos forma respeitados e para tal, submetido à Plataforma Brasil e aprovado com o parecer de número 479.436.  RESULTADOS: O processo de trabalho em saúde é centrado no trabalho vivo em ato, pois acontece no exato momento de criação, ou seja, o cuidado é produzido sempre com base em um encontro, do trabalhador com o usuário, e com os outros trabalhadores. O produto deste trabalho é consumido no exato momento da produção. Esse trabalho resulta do encontro emocionado e criativo entre trabalhador e usuário. Nessa relação há uma lógica instrumental operando, mas, sobretudo há, nos espaços relacionais, atos de fala e escuta toques e olhares que são constitutivos do processo de trabalho que produz o cuidado e nessa relação os sujeitos se encontram e fazem junto à produção da saúde. Em uma tarde, dialogando com a equipe sobre a produção de conhecimento no processo de trabalho na ESF foram contornando um mapa das várias maneiras de se produzir conhecimentos nos encontros entre trabalhadores e usuários.   Na nossa equipe mesmo, nós temos muito diálogo, assim, um com o outro, principalmente os agentes de saúde, então agente tenta assim fazer um tudo para que não haja diferença no equipe de trabalho. Nós temos uma experiência, um diálogo que não é de hoje trabalhamos assim. Então as informações que temos de trabalho, para os pacientes tem que ter muito diálogo um com o outro.   Percebe-se o quanto alguns membros da equipe valorizam o diálogo no processo de trabalho. Adiante, no mesmo momento, as relações permeadas pelas trocas não apenas entre trabalhadores, mas também com os usuários aparece como um dispositivo importante no processo de trabalho na produção de novos conhecimentos.   Os conhecimentos novos se dão também da experiência entre profissionais e moradores e a cada dia agente está aprendendo coisas novas. Aqui é a enfermeira chefe, ela traz bastante conhecimento para o posto.   Com suas especificidades o processo de trabalho em saúde, considerado vivo em ato, tem a capacidade de promover processos de subjetivação e de criação de novas realidades. A base do conhecimento gerado no trabalho é a experiência, sendo assim, o trabalho é por si só gerador de novos possíveis para o cuidado em saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS:  O processo de trabalho em saúde com sua alta capacidade de se reinventar, pode ser percebido como um local para além da produção do cuidado, mas como um local de produção de novos conhecimentos fruto dos encontros entre trabalhadores e destes com os usuários. Como uma profissional com um histórico nas ações de educação em saúde, a enfermeira aparece como uma profissional que promove novos conhecimentos na equipe. Desse modo, percebemos que para além de momentos formais, os encontros na ESF possuem a capacidade de deflagrar novos processos de aprendizagens, o que requer novos olhares para os processos de Educação Permanente em Saúde no trabalho em saúde. 

Palavras-chave


Trabalho, Estratégia Saúde da Família, Educação Permanente em Saúde, Educação Continuada

Referências


REFERÊNCIAS

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