Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE SEXUAL DE HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS NO BRASIL
Fabiane Soares Gomes, Inês Dourado, Sandra Brignol, Lígia Kerr

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


 APRESENTAÇÃO: A população de Homens que fazem sexo com homens apresenta elevado risco de exposição ao HIV e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis devido às características das práticas sexuais e do comportamento sexual, sendo, portanto, considerada uma das populações-chave para epidemia do HIV e que tem apresentado elevada incidência de outras DST´s. No entanto, o acesso aos serviços de saúde tem sido problemático devido ao preconceito e discriminação comumente vivenciados por eles, inclusive por parte dos profissionais de saúde. E, por consequência, as experiências negativas nas unidades de saúde se conformam como obstáculos para viabilizar o acesso a cuidados integrais e tratamentos, em função do medo e discriminação acometidos. Portanto, é indispensável que o atendimento aos que acessam os serviços de saúde seja de qualidade e o aconselhamento pós-diagnóstico de HIV/DST, efetivo, de modo a promover ações educativas que visem à prevenção de novas infecções, detecção precoce e tratamentos efetivos. Além disso, é necessário pensar e apoiar estratégias que visem conter o preconceito e discriminação tão presentes na sociedade, que, por vezes, influenciam nas condutas dos profissionais de saúde e na assistência prestada a esta população. Ademais, é de grande importância para a Saúde Pública garantir que as ações próprias do aconselhamento sejam realizadas efetivamente, de modo a evitar novas infecções e romper com a cadeia de transmissão, logo, viabilizar o controle destas doenças. Desta maneira, este estudo tem por objetivo investigar os aconselhamentos prestados a HSH com sintomas de DST´s que acessaram diferentes serviços de saúde.  DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo de corte transversal, multicêntrico, realizado em 10 cidades brasileiras, Brasília, Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba, Itajaí, Manaus, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e Santos, nas quais foram realizados inquéritos comportamentais com Homens que fazem sexo com homens, maiores de 18 anos. A técnica de recrutamento utilizada é o RDS – RespondentDrivenSampling – que consiste numa amostragem tipo “bola de neve”, por ser bastante eficaz para populações de difícil acesso. Neste, os participantes convidam outras pessoas elegíveis à pesquisa a partir de sua rede de contato, sendo as primeiras – denominadas sementes – escolhidas de modo não aleatório pelo grupo de pesquisa de modo a obter um grupo heterogêneo e bem representativo. A coleta dos dados foi feita por meio de questionário eletrônico padronizado e testado, em um local de conveniência do participante ou num espaço específico do estudo em cada município. E para a análise dos dados foi utilizado o software STATA 12, no qual foi feita análise descritiva das variadas e associações bivariadas entre diferentes serviços de saúde e algumas orientações aconselhamento pós-diagnóstico de doença sexualmente transmissível a partir do teste Qui- Quadrado de Pearson, considerando nível de significância 5%. Para tanto, foram considerados os 483 homens que apresentaram pelo menos um sintoma de DST e que procuraram algum serviço de saúde.   RESULTADOS: Neste estudo foram avaliados os aconselhamentos prestados aos HSH que procuraram um serviço de saúde após apresentarem algum sintoma clínico característico de doença sexualmente transmissível (DST) – tais como verruga, feridas, corrimento ou bolhas no pênis –, seja no posto de saúde, hospital público ou hospital/clínica particular. Dos 483 entrevistados, 256 (53%) foram atendidos nos postos de saúde, 124 (25,7%) em hospitais públicos e 103 (21,3%) em hospital e/ou consultório particular.  Alguns aconselhamentos são indicados nos casos de diagnóstico de alguma doença sexualmente transmissível, dentre elas a orientação quanto à necessidade de uso de preservativo durante as relações sexuais; comunicar aos parceiros sobre a doença e a necessidade do tratamento; e orientações para realizar testes de HIV e sífilis, como meio de aproveitar a oportunidade e identificar outras DST's comumente associadas. Do total dos participantes, 84% receberam orientação quanto o uso de preservativo nas consultas, sendo tal procedimento maior nos hospitais e consultórios particulares, chegando a mais de 90% nos clientes atendidos, seguidos dos postos de saúde e hospital público, com 84,4% e 78,2%, respectivamente. E as diferenças na proporção do aconselhamento quanto o uso de preservativo nestes três serviços de saúde foi estatisticamente significante (p<0,05). Ao se questionar se haviam sido comunicados quanto à necessidade de informar aos parceiros sobre a doença, como também a importância do tratamento, cerca de ¾ dos entrevistados indicaram terem sido orientados, sendo tal proporção semelhante nos três serviços estudados – 75,8% nos postos de saúde, 74,2% nos hospitais públicos e 73,8% nas clínicas/hospitais particulares. Quanto às orientações para o teste de sorologia de HIV, houve evidências estatísticas (p<0,05) que indicaram diferenças importantes entre os grupos. 72,3% dos atendidos em postos de saúde foram orientados a fazer o teste, enquanto que nos hospitais públicos esta proporção se reduz a 67,7% e nos consultórios e hospitais particulares a 57,3%. O semelhante não ocorre quanto às orientações para o teste de sífilis, que não apresentaram diferenças importantes:do total dos HSH, apenas 59,6% foram orientados a investigar a sorologia, sendo esta proporção maior nos postos de saúde, em que 62,9% declararam terem sido informados, enquanto que nos hospitais públicos foram 58,1% e no outro apenas 53,4%.   CONSIDERAÇÕES FINAIS: O controle da epidemia de HIV/AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis coloca para os serviços de saúde grandes desafios, dentre eles a promoção de ações educativas e medidas de prevenção efetivas. Ainda, enfrentar questões como acesso aos serviços de saúde – que sejam resolutivos e de qualidade –, e combate a todos os tipos de discriminação, constituem-se em exercícios indispensáveis para modificar este quadro social. Deste modo, grandes esforços devem ser direcionados a fim de melhorar a assistência aos sujeitos que apresentam DST´s e, principalmente, reduzir as perdas de oportunidades para diagnóstico e tratamentos oportunos, a partir da promoção de ações educativas, de controle e prevenção de novas infecções em todos os níveis assistenciais a partir dos aconselhamentos. Sem perder de vista que há a necessidade de abordar questões como estigmas sociais e preconceitos, que acabam por acentuar a vulnerabilidades de grupo populacionais que não atendem ao padrão heteronormativo. O efeito de intervenções educativas não é questionável, embora não possa ser garantido mudanças efetivas de comportamento. Entretanto, é comprovado que ações educativas em saúde podem, de fato, orientar e empoderar os indivíduos nas escolhas sobre seu próprio cuidado. Logo, não é concebível que orientações próprias do aconselhamento sejam desconsideradas, esquecidas, dado a grande importância delas para o controle da epidemia de HIV e de outras doenças. 

Palavras-chave


Gay; Doenças Sexualmente Transmissíveis; Serviços de Saúde; Assistência Ambulatorial.