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Para além do AVE
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Desde sua criação, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) vêm contribuindo, significativamente, para a potencialização das ações em atenção primária no Brasil. Em sua atuação, o NASF recorre a ferramentas variadas, como o Apoio Matricial, o Projeto Terapêutico Singular (PTS) e a Clínica Ampliada. Em 2011, profissionais de um NASF da periferia de São Paulo (fisioterapeuta e fonoaudióloga), inspiradas em tais recursos, criaram um grupo direcionado a pacientes que haviam sido acometidos pelo AVE (Acidente Vascular Encefálico) há mais de dois anos. Identificaram que esses pacientes, considerados crônicos, não se enquadravam em critérios para encaminhamento a serviços especializados de reabilitação na atenção secundária. Assim, tinham poucas expectativas de recuperação de sua capacidade funcional e cognitiva, muitas vezes, comprometidas pelo adoecimento. O grupo de AVE acolheu e continua acolhendo esses pacientes, que buscam, sobretudo, melhoria da qualidade de vida, por meio da redução de sequelas como hemiplegia, alterações de fala, equilíbrio e marcha. Semanalmente, profissionais da equipe multiprofissional propõem exercícios para melhorar a amplitude de movimento e força, a flexibilidade, o alongamento, a memória, dentre outros aspectos que venham a favorecer a independência na realização das atividades de vida diária (AVDs) e das atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). Também são dadas orientações para evitar e controlar a hipertensão, por meio da reeducação alimentar e da adoção de hábitos saudáveis. Pôde-se observar que, de modo geral, a participação no grupo aproximou UBS e pacientes. Na maioria, pacientes hipertensos que passaram a realizar o controle de sua pressão arterial e o acompanhamento clínico regular. Ao longo do tempo, percebeu-se que os encontros geraram resultados positivos como melhoria da motivação, da socialização e do autocuidado. A equipe NASF também se mantém atenta às necessidades que surgem e vêm intervindo em questões como conflitos familiares, agravos do quadro de saúde e vulnerabilidades, aspectos tão ou mais significativos que as sequelas do AVE. Os participantes passaram a utilizar o grupo como local de troca de informações e vivências e, espontaneamente, solicitam o apoio dos colegas e das profissionais da equipe no manejo de suas dificuldades na vida cotidiana, familiar, afetiva e produtiva, devido à confiança que se estabeleceu entre eles. Diante disso, conclui-se que a experiência em Clínica Ampliada e Apoio Matricial colaboraram para que as profissionais tivessem um olhar mais abrangente em relação aos sujeitos e seu processo de saúde-doença, considerando que a reabilitação em pacientes de AVE não se restringe ao bem-estar físico, mas que depende de uma infinidade de fatores que merecem atenção e investimento por parte das equipes de saúde. A participação no grupo contribuiu para maior vinculação com a UBS, que pôde ser compreendida não mais como espaço restrito à cura de doenças, mas, sim, como possível fonte de saúde e qualidade de vida.
Palavras-chave
Saúde da Família; Acidente Vascular Cerebral; Atenção Primária à Saúde.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes do NASF. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. (Caderno de Atenção Básica n. 27)