Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
VER-SUS: Perspectiva de uma saúde mais integral para a população
Arianne Tiemi Jyoboji Moraes, Adriane Pires Batiston

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente artigo aborda o primeiro projeto de Vivências e Estágios no Sistema Único de Saúde (VER-SUS). Realizado no ano de 2012, em Mato Grosso do Sul, teve como objetivo relatar sobre a participação de acadêmicos de diversas áreas da saúde, tendo em vista os princípios doutrinários do SUS, no trabalho em equipe interprofissional. O que é imprescindível para que haja um cuidado integral à população, no entanto, muitas vezes a prática em cada área de atuação torna-se segmentada. Essa fragmentação no atendimento agrava-se quando o serviço torna-se estritamente biomédico, tendo o médico como figura central e detentor de uma posição superior a outros profissionais. No entanto, quando se trata de atenção à saúde, partindo de uma ideia transdisciplinar, todos os trabalhadores são inclusos neste processo de serviço. Dentre os profissionais que poderiam estar inclusos nesses serviços estão os assistentes sociais, biólogos, biomédicos, profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, médicos veterinários, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. Todos esses são considerados profissionais da saúde, conforme a Resolução nº 287/1998 do Conselho Nacional de Saúde. Quanto maior a composição de saberes para a produção do cuidado ao indivíduo, maior será a capacidade de enfrentar os problemas relacionados à saúde. Entretanto, quando existe a assistência em saúde focada apenas em um profissional como, por exemplo, em ações centradas em médicos ou enfermeiros, a produção do cuidado não se torna integralizada e unificada em torno do usuário do sistema de saúde. Com o intuito de estimular a formação de profissionais mais aptos à demanda do SUS, foram realizadas algumas mudanças curriculares na graduação das áreas da saúde, sendo assim, o Ministério da Saúde (MS) criou em 2002 a Assessoria de Relações com o Movimento Estudantil e Associações Científico-Profissionais da Saúde cujo objetivo foi estimular o trabalho multiprofissional, valorizando a saúde coletiva e prestigiar o SUS. A partir destas ações e outras vivências correlacionadas, foi proposto o projeto VER-SUS/BRASIL em 2003, que teve como projeto piloto, uma vivência no Estado do Rio Grande do Sul, em 2002. Após um período de estagnação, foi lançada novamente mais uma edição do VER-SUS/ Brasil pelo MS em 2011 e 2012, com foco nas redes de atenção à saúde, mas principalmente na atenção básica, visto que é considerada a organizadora do processo de cuidado. O cenário de estágio foi proposto em regiões de saúde, portas de entrada, mapas de saúde, redes temáticas, entre outros. Desenvolvido o trabalho no estado de Mato Grosso do Sul, a primeira vertente do projeto ocorreu em janeiro de 2012, quando a secretaria de nove municípios se dispôs a apoiar o projeto. As cidades em que ocorreu o VER-SUS foram Campo Grande, Rochedo, São Gabriel do Oeste, Ivinhema, Costa Rica, Maracaju, Dourados, Corumbá e Ladário. Cada cidade recebeu um grupo de 5 a 7 pessoas, exceto Campo Grande e Dourados, as quais receberam 8 e 3 grupos respectivamente, com aproximadamente 5 a 7 pessoas em cada grupo. Esses grupos foram direcionados às cidades de vivências de acordo com a sua origem, ou seja, os acadêmicos participaram em cidades diferentes da de origem. As inscrições para o projeto foram amplamente divulgadas pelas redes sociais nos meses de dezembro e início de janeiro. Através da lista de inscritos disponibilizada pela organização do projeto, foi possível constatar que neste período, através do site versus.otics.org, foram realizadas 122 inscrições de acadêmicos da área da saúde para a modalidade estudante e 26 para a modalidade facilitadora. Dentre os inscritos na modalidade estudante, 109 representavam o sexo feminino e 13 o sexo masculino. E ainda, 67 eram de faculdades particulares e 55 de faculdades públicas. Todos residiam no estado de Mato Grosso do Sul. Na modalidade estudante, constavam inscritos de 9 áreas diferentes em saúde, sendo 62 da enfermagem, 34 da fisioterapia, 8 da farmácia, 7 da medicina, 3 da psicologia, 3 da nutrição, 2 da fonoaudiologia, 1 da medicina veterinária, 1 da pós-graduação em Saúde Coletiva e 1 da odontologia. Na modalidade facilitadora, encontravam-se 10 inscritos da enfermagem, 8 da fisioterapia, 3 da psicologia, 1 da odontologia, 1 da saúde coletiva, 1 da farmácia e 2 da medicina. Considerando as duas modalidades, houve desistência de 21,31% dos candidatos, dentre esses, o acadêmico de medicina veterinária, sendo assim, o número de participantes do VER-SUS no estado foi de 96 estudantes, englobando 8distintas áreas da saúde e 7 instituições de ensino. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: O trabalho interprofissional envolve um processo de cooperação que engloba um conjunto de habilidades, saberes e atividades especializadas, que quando se relacionam proporcionam uma assistência à saúde mais integralizada. Isso é importante, pois quando se trata de apenas uma área da saúde não é possível lidar com todas as dimensões que englobam as necessidades em saúde de cada indivíduo. Apesar de a saúde no Brasil ter ganhado novos rumos, as universidades ainda formam separadamente os profissionais que precisarão trabalhar juntos, baseando-se na organização disciplinar e nas especialidades, o que resulta em um estudo fragmentado dos agravos em saúde do indivíduo, e assim, são formados profissionais que dominam diversas tecnologias, mas cada vez mais incapazes de lidar com os aspectos subjetivos da população como os morais, sociais e culturais. Deste modo, é importante que haja a adequação do ensino, para a construção de processos de trabalhos e competências profissionais mais fortalecidas, integrando o ensino à realidade dos serviços do SUS. Nesta primeira edição do VER-SUS, que ocorreu em Mato Grosso do Sul, considerando apenas os dados dos inscritos na modalidade estudante, pode-se constatar que a maior parte, 50,81%, dos acadêmicos era do curso de enfermagem. O grande interesse desses acadêmicos pelo projeto poderia estar relacionado ao fato de a profissão integrar a equipe de ESF. No entanto, essa relação torna-se duvidosa quando comparada ao número de acadêmicos de outras áreas, como a medicina e a odontologia, que mesmo fazendo parte da equipe representaram uma minoria inscrita. A pouca procura por esses acadêmicos (medicina 5,73% e odontologia 0,81%) é preocupante, quando a ideia é estimular o trabalho em equipe na atenção básica. Esses dados foram similares à pesquisa realizada por Silva etal., na qual foi constatado que os estudantes dessas áreas ainda apresentam uma resistência à atividades que visam à aprendizagem do trabalho em equipe interprofissional. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Para uma assistência em saúde mais íntegra é necessário que se exerçam as diretrizes que o SUS preconiza, como um atendimento que vise à universalidade, equidade e à integralidade. Contudo, quando observamos a real situação do país percebemos alguns déficits, os quais devem ser trabalhados e isso ocorrerá com as lutas sociais, os usuários, os profissionais da saúde e os gestores. O VER-SUS provoca os acadêmicos para que eles reflitam sobre a sua formação e as necessidades de mudanças no atendimento realizado no SUS, buscando formar profissionais mais favoráveis ao trabalho em equipe, aos trabalhos preventivos e de promoção em saúde, com um foco maior nas necessidades dos indivíduos. A interação com outros estudantes proporciona a troca de conhecimentos, a cooperação entre os futuros profissionais da saúde e a conscientização dos deveres de cada profissão. Além do que, o trabalho em equipe interprofissional minimiza a sobrecarga de algumas profissões.

Palavras-chave


estágio; equipe; saúde