Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
A DOCÊNCIA NO PRÓ-SAÚDE E PET-SAÚDE: NARRATIVAS DE PROFESSORES
Geovannia Mendonça dos Santos, sylvia helena souza da silva batista

Última alteração: 2015-10-29

Resumo


INTRODUÇÃO:  Desvelar as relações que constituem e são constituídas no trabalho docente em saúde emerge como um caminho singular para compreender o cotidiano acadêmico. Neste cotidiano, professores e universitários podem ter no diálogo uma via de comunicação e de troca. Pois ao educando não cabe apenas escutar e obedecer ao educador, mas ambos aprendem nas relações dialógico-dialéticas. No âmbito do Programa de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (PRÓ-SAÚDE) e do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE), expressam-se diferentes desafios, destacando-se a docência no cenário das políticas indutoras de formação em/para a saúde, a relação na tríade ensino - serviço - comunidade e o papel de mediação exercido dentro deste campo de formação. Inscrevem-se e configuram-se diversos e multifacetados espaços de aprendizagem da docência: outros modos de formar e aprender em saúde demandam processos singulares de formação dos professores. Este trabalho assume como objetivo analisar trajetórias, concepções, práticas pedagógicas, motivações e expectativas de professores atuantes no PRÓ-SAÚDE e no PET-SAÚDE que atuam nos campi São Paulo e Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo. CAMINHO DA PESQUISA: Participaram deste estudo 13 professores, sendo nove do campus Baixada Santista e quatro do campus São Paulo. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, integralmente transcritas e transcriadas em narrativas. A narrativa hoje tem sido utilizada como um dispositivo metodológico tanto no ensino quanto na pesquisa e diversos pesquisadores tem se aprofundado no tema trazendo discussões muito pertinentes sobre seu uso e modos de construção. Empreendeu-se uma análise de conteúdo, do tipo temática. O projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP e aprovado sob número 244.464, de acordo com as normas da Resolução nº466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). CONHECENDO OS PROFESSORES E SUAS NARRATIVAS: O curso com a maior representação entre os docentes participantes da pesquisa foi o de Terapia Ocupacional (31%), com média de idade é de 52 anos, tempo médio na docência de 19 anos e 92% possuem doutorado. Todos desempenham a função docente e outras funções como atividades de gestão, participação em grupos de trabalho, bancas de apresentação de trabalhos e etc. A análise realizada possibilitou apreender seis eixos temáticos. No eixo MOTIVAÇÕES/MOTIVAÇÕES PARA O PET a categoria Comprometimento com a formação destaca o contato vivido com os alunos. A possibilidade de continuar aprendendo e ensinando e a importância de oferecer e participar de uma formação mais ampla, que possa repercutir nas práticas de atenção e cuidado assim como na construção do SUS. Na categoria Vontade de ser professor surge o gosto pelo ensino e busca por um fazer significativo. A categoria Experiências anteriores traz como motivação para a docência as vivências na pós-graduação, como estágios e diferentes inserções, bem como as práticas em serviços. Quanto à motivação para a docência junto ao PRO-SAÚDE/PET-SAÚDE, a categoria Aproximação com os Serviços/Rede municipal de saúdes, destaca a aproximação com as secretarias de saúde, melhora na relação com os serviços e participação em um projeto que propõe parcerias. A categoria Intercâmbio de experiências e saberes apresenta a troca de experiências com diferentes atores na rede de serviços e na universidade e principalmente a troca de experiência com os alunos. No eixo orientador FORMAR EM SAÚDE emergiu a categoria comprometimento com a formação de futuros profissionais de saúde, onde apontam como significado possibilitar que os alunos reflitam acerca do modo como o cuidado em saúde hoje é produzido. Na categoria Repensar o modo de produzir cuidado em saúde, os docentes destacam que estas experiências de formação permitem pensar em um jeito comprometido de produzir cuidado em saúde, pautado nas demandas dos usuários e que também estas experiências ampliam a concepção dos profissionais de saúde. No eixo DOCÊNCIA a categoria Ensinar é aprender aponta a docência como prazerosa, sendo uma atividade que envolve aprendizado mútuo e constante. Na categoria formar alunos para uma prática em saúde ampliada os docentes se definem como facilitadores de aprendizagem, discussão e atribuem à docência em saúde o objetivo de preparar cidadãos comprometidos com questões éticas que dizem respeito a diferentes âmbitos e como os desafios apontam questões relacionadas ao exercício da docência nos serviços de saúde. No eixo PONTOS FORTES, a categoria Vivência nos serviços: por entre a atenção básica, a integração ensino-serviço e o compromisso com a capacitação dos Serviços Profissionais, apresentam como pontos fortes do PRÓ-SAÚDE/PET-SAÚDE a prioridade de ações para a Atenção Básica e as parcerias entre Universidade e Secretarias. Na categoria financiamento, avanços e riscos, afirmam a importância de fazerem parte de um projeto com financiamento, mas essa questão não é uníssona. Na categoria formação de profissionais para pensar na integralidade do cuidado, ressaltam a possibilidade de formar profissionais mais críticos e reflexivos a partir das experiências apresentadas em campo. No eixo FRAGILIDADES, a categoria Integração ensino-serviço: as (im) possibilidades da Integração e Interlocução apontam os diferentes modos de conduzir grupos de trabalho e cenários de prática idealizados. Na categoria trabalho do professor: os impasses da desvalorização e da sobrecarga aparecem à desvalorização do docente como tutor no PRO-SAÚDE/PET-SAÚDE (e projetos de extensão de maneira geral) e o modo como ao mesmo tempo em que há uma política nacional que valoriza a indução de uma formação ampliada em saúde, institucionalmente é realizada uma avaliação que desvaloriza o docente que atua nessa lógica, privilegiando uma docência voltada para a produção científica. Na categoria currículo, relatam que o PET deveria ser um projeto de currículo, ampliado para todos os alunos. A categoria preceptoria dos impasses da formação e da rede de troca aponta como fragilidade o papel do preceptor coligada a questão do recebimento de bolsa. No eixo POSSIBILIDADES a categoria Diferencial na formação do aluno, docente e preceptor, aponta o PRO-SAÚDE/PET-SAÚDE como um grande campo de formação para alunos, docentes e preceptores. Na categoria aproximação entre Universidade e Serviço, as possibilidades aparecem no sentido de potencializar o que vem sendo feito e/ou perpetuar um modo de fazer e cuidar em saúde. A categoria mudança na formação e currículo sinaliza que o processo de mudança na formação depende de todos os atores envolvidos e que projetos como estes contribuem para que as instituições de ensino e secretarias de saúde possam estar motivadas a contribuir com a formação voltada para o SUS. APRENDENDO COM AS NARRATIVAS: Para os docentes que atuam no PRÓ-SAÚDE/PET-SAÚDE não há dúvida de que, para uma efetiva transformação, além de trabalho e tempo, são necessárias mudanças curriculares e institucionais que envolvam não apenas as questões referentes ao modo como os discentes são formados. Mas também, sobre condições e oportunidades aos docentes, afim de que seja possível suscitar, naqueles que ainda não se sensibilizaram, um maior comprometimento com a formação em/para a saúde. As políticas indutoras seriam, desta forma, meios para promoção de uma formação ampla, privilegiando todos aqueles que, envolvidos com o processo, formam e estão em processo de formação. Os movimentos analíticos das narrativas permitem reconhecer a importância da formação in loco, a valorização do trabalho docente em detrimento da supervalorização da pesquisa como métrica central da avaliação docente, a formação de cidadãos e profissionais para atuarem no SUS e a integração entre universidade, serviço e comunidade como pilar fundamental para o desenvolvimento de projetos que tenham como objetivo a reorientação da formação em saúde nos diferentes espaços e para diferentes atores.

Palavras-chave


Docentes, Saúde, Educação Superior;Ensino; Políticas de Educação Superior.

Referências


¹ BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 1991.

² BATISTA, N. A.; SILVA, S. H. S. A docência em saúde: desafios e perspectivas.  In: BATISTA, N. A.; BATISTA, S. H. (org.). Docência em saúde: temas e experiências. São Paulo: SENAC, 2004. 283 p.

³ ___________ Docência universitária em saúde, formação e interdisciplinaridade. In: BATISTA, N. A.; BATISTA, S. H.; ABDALLA, I. G. (org.). Ensino em saúde: visitando conceitos e práticas. São Paulo: Arte & Ciências, 2005. 356 p.

4 BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Interministerial nº 421, de 03 de Março de 2010. Institui o Programa de Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE) e dá outras providências. Brasília, 2010.

5 BRASIL. Ministério da Saúde. Edital nº 24, de 15 de dezembro de 2011, Seleção de projetos de instituições de educação superior. Brasília, 2011.

6 CALDAS, A. L. TRANSCRIAÇÃO EM HISTÓRIA ORAL. NEHO-HISTÓRIA: 71-79, Revista do Núcleo de Estudos em História Oral. São Paulo, n° 1, USP/FFLCH/DH, Novembro, 1999.

7 CAMPOS, Haroldo de, Metalinguagem: Ensaios de teoria e crítica literária, 3ª ed. São Paulo: Cultrix, 1976.

8 CUNHA, M. I. – Conta-me agora! As narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. In.: Revista da FE/USP, v. 23, n. ½, jan./ dez. 1997, pp. 185/195. Disponível em <http://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/59596/62695> Acesso em: 07 mar. 2015

9 ___________ Inovações pedagógicas e reconfiguração do ensinar e aprender na universidade. Universidade de Coimbra. 2004. Disponível em <http://www.ces.uc.pt/lab2004/pdfs/MAriaIsabelCunha.pdf>. Acesso em: 7 mar. 2015.

10 EVANGELISTA, M. B. Entre a expressão e a intenção: possibilidades de construção narrativa através da transcriação em história oral. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH - São Paulo, julho 2011.

11 HADDAD, A.E. et al. Pró-Saúde e PET-Saúde: a construção da política brasileira de reorientação da formação profissional em saúde. Rev. bras. educ. med. [online]. 2012, vol.36, n.1, supl. 1, pp. 03-04.

12 MEIHY, J. C. S. B. Os novos rumos da História Oral: o caso Brasileiro. Revista de História. São Paulo, n. 155, 2 sem/ 2006. p. 191- 204. Disponível em < http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=285022045011>. Acesso em: 7 mar. 2015

13 REGO, C. e BATISTA, S.H.S.S. Desenvolvimento doente em medicina: um campo fecundo. Rev. Bras. Educ. Med. N 32, v. 3, 2012.