Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Resgatando nossas Marias
Bianca Garcia Cappelli

Última alteração: 2015-11-04

Resumo


Atuando como Coordenadora de um Centro Especializado de Atendimento à Mulher em situação de violência de gênero - CEAM Chiquinha Gonzaga - equipamento da Secretaria Especial de Política para as Mulheres do município do Rio de Janeiro, que integra a Rede de Serviços Especializada para Enfrentamento à Violência contra a Mulher. Recentemente uma assistente social cursando a Residência Multiprofissional em Saúde da Família na ENS/FIOCRUZ escolheu o Ceam para realizar seu estágio optativo. Certo dia uma amiga sua, assistente social que trabalha do NASF, lhe passa uma mensagem aflita. Faz o relato de uma visita domiciliar que não pode ser realizada porque o morador expulsou todos da casa, não deixando que nenhum cuidado fosse ofertado, nem a sua companheira, nem a ele. Era um caso conhecido na vizinhança, Dona Maria sofria violência domestica há muito tempo, já fora usuária de drogas, “estava limpa agora”, mas seu companheiro, conhecido como “Menor” era usuário e fazia pequenos “serviços” para os “meninos” da localidade para conseguir algum dinheiro. Além disso, ele tinha histórico de transtorno mental. O agravante veio do fato de que todos da equipe de saúde, rede de apoio e vizinhança, identificavam que ela corria grande risco. Já estava cega, presumia-se em decorrência das muitas pancadas que levara na cabeça. Realizamos uma reunião e decidimos que precisávamos atender Dona Maria imediatamente e confirmando o risco, encaminhá-la para nosso abrigo, que atende mulheres em situação de violência, que estão em risco iminente de morte. Fizemos contato com o CMS e nos colocamos a disposição para realizar o atendimento. Devido à distância, nos propusemos a fazê-lo no próprio CMS, aproveitando para discutir o caso em conjunto com a equipe de saúde. A assistente social do NASF fez toda articulação, ficou em contato conosco e o atendimento foi agendado. Devido às circunstâncias a equipe do CMS precisou pensar, em conjunto com o NASF, uma estratégia para tirar Dona Maria de casa e trazê-la para atendimento, pois como estava cega há pouco tempo, não conseguia sair sozinha. Somando-se a isso, foi preciso fazer tudo de maneira a não despertar nenhuma suspeita no “Menor”, que poderia ameaçar as pessoas. Tudo agendado chegamos ao local. Dona Maria foi trazida pela tia do “Menor” e sua filha, que haviam se transformado em rede de apoio, providenciando para que ela tivesse acesso à alimentação. Reunidos o Ceam, a equipe de saúde, a rede de apoio, e a gerência do CMS, tivemos uma conversa longa e difícil, mas todos chegaram à mesma conclusão: era imperativo tirar Dona Maria daquela situação. Precisávamos fazer isso sem que o “Menor” ligasse seu “desaparecimento” a sua tia, então pedimos que ela fosse embora com a filha. Alguns minutos depois uma pessoa do Ceam acompanhou a equipe de saúde e Dona Maria para resgatar alguns de seus pertences. Voltaram, entramos no carro e levamos Dona Maria para o Ceam, de onde, após atendimento individual, seguiu para o abrigo. Trabalho intersetorial, multiprofissional e possível. Dona Maria está segura. Agora pode planejar uma vida livre da violência.

Palavras-chave


Violência contra a mulher e interesetorialidade