Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE E DA EDUCAÇÃO SOBRE A INTERSETORIALIDADE
Rose Manuela Marta Santos, Tatiana Almeida Couto, Adilson Ribeiro SANTOS, Nathalie Oliveira Gonçalves, Sérgio Donha Yarid

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


INTRODUÇÃO: O conceito ampliado de saúde indica a necessidade de ações que estabeleçam diálogo intersetorial, a fim de operacionalizar parcerias e articular saberes e experiências para a solução dos problemas encontrados. Essa forma de enfrentamento, através de ações entre os setores da educação, saúde, cultura, justiça é denominada intersetorialidade. A Política Nacional de Promoção da Saúde traz a premissa básica de uma gestão transversal, integrada e intersetorial que propõe o empoderamento do sujeito para que o mesmo se coresponsabilize por seu cuidado. Ainda hoje, verifica-se um desencontro nas questões voltadas à intersetorialidade, onde, os setores da sociedade seguem em busca de suas metas e obrigações sem articulação com os demais setores. De acordo com estudos que tratam da intersetorialidade, é possível notar que existe um distanciamento entre os setores educação e saúde. Os profissionais do setor saúde deve lançar mão de ferramentas e estratégias com intuito de adequar-se ao papel de educador, buscando garantir a autonomia dos usuários sobre seu autocuidado e sensibilização dos mesmos para adoção de hábitos de vida saudáveis. O setor educação por sua vez, tem papel considerável na transformação social, atuando diretamente no direcionamento dos preceitos do exercício da cidadania, bem como para a promoção da saúde. Assim, o que se espera com a intersetorialidade é mais que a união de setores, mas sim, criar uma dinâmica entre as redes de atenção para direcionar o aparato governamental com base territorial e populacional. Desta forma, as redes de cooperação, planejamento de metas deve ganhar o espaço das ações isoladas. A união entre os setores educação e saúde é fundamental para a concretização da promoção da saúde, pois, segundo Rodríguez, Kolling e Mesquida, “a saúde e a educação são inseparáveis e interdependentes, pois, para se ter educação, precisa-se da saúde, ao mesmo tempo em que a saúde só é alcançável quando se tem uma boa educação’’. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é analisar as concepções dos profissionais dos setores educação e saúde. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória com abordagem qualitativa. Foram participantes do estudo 14 profissionais, sendo 06 enfermeiros, 07 professores e 01 coordenador pedagógico das Escolas e das Unidades de Saúde da Família – USF da sede do município de pequeno porte no recôncavo da Bahia. Como critério de inclusão, enfermeiros das equipes de Saúde da Família que estavam em exercício da profissão há um ano, docentes das duas instituições públicas estaduais do ensino fundamental que a pelo menos um ano ministram disciplinas ligadas a Ciências da Saúde e o coordenador pedagógico. Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro semiestruturado para a entrevista dos profissionais. As entrevistas foram gravadas, codificadas e transcritas na íntegra e posteriormente foi realizada a exploração do material e categorização do conjunto de falas com o objetivo de identificar os sentidos dos discursos. Os informantes foram identificados no texto por letra e número, de acordo a ordem crescente das entrevistas realizadas, ou seja, entrevistado Enfermeiro nº 1, (E1), entrevistado Professor nº 1 (P1), assim sucessivamente. A análise de dados deu-se por meio da Técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin. Este estudo foi acompanhado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, tendo recebido parecer favorável com o parecer n° 21803. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Da avaliação dos depoimentos dos participantes emergiu uma categoria relacionada à concepção dos profissionais acerca da intersetorialidade e uma subcategoria referente centralização das ações que foi sinalizado pelos profissionais. Categoria 1: Concepção dos profissionais acerca da intersetorialidade. Foi possível notar nesta categoria que os profissionais dos setores saúde e educação demonstraram que intersetorialidade envolve ações de diversos setores da sociedade, aliando planejamento e metas para atender as necessidades de saúde da população o que corrobora com o pensamento de autores de outros estudos sobre a intersetorialidadede, tendo a intersetorialidade como a junção de conhecimentos para a resolução de problemas da coletividade. E1: A intersetorialidade seria no meu ponto de vista, várias secretarias, exemplo, de saúde, educação, desenvolvimento social, esportes, se aliassem para um objetivo, e que fossem traçadas metas, planejamento e programação em conjunto para que o resultado respondesse a maior parte das necessidades da população [...] P6: O setor educação e saúde devem estar ligados, pois as concepções de saúde começam a ser elaboradas na escola [...] P7: Entende-se que sejam os setores interligados em prol de uma ação coletiva [...]. Observou-se também em algumas falas na concepção dos setores focadas na solicitação dos setores que, quando solicitadas, são atendidas além de sinalizarem a demora em resolver demandas requeridas. E3: Quando precisamos, é claro que podemos contar com os outros setores, por exemplo, a equipe do NASF é uma ação intersetorial e que nós temos a disposição. A ação social também, apesar da lentidão, ajuda [...] E5: Com relação ao setor transporte mesmo, eu tenho esse apoio. Assim como a assistência social, que sempre precisamos de apoio psicológico também. Subcategoria 1.1: Centralização das ações: Foi possível identificar nas falas abaixo que as ações dos setores ocorrem de forma centralizada, sendo cada setor focado na sua demanda, não interagindo com os demais setores da sociedade. E2: No caso, aqui no município vejo ações centralizadas, sem muito efeito, sabe? [...]E3: A intersetorialidade aqui no município sinceramente, não anda bem. Vejo cada um em seu ‘’mundinho’’ P2: Acontece, porém quando solicitamos a secretaria que nos envie algum profissional para a escola, para palestras. P8: Acontece de vez em quando, mas não é uma coisa efetiva aqui na escola [...]. Portanto, percebe-se que no município as ações são setoriais e desarticuladas, evidenciando ações centralizadoras, deixando de enxergar as necessidades humanas e, consequentemente limitando a promoção e prevenção da saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Pode-se observar que os profissionais do setor da saúde apontam que a intersetorialidade envolve diversos setores da sociedade aliando planejamento e metas para atender as necessidades de saúde da população, além de indicarem a intersetorialidade como apenas na solicitação dos setores que, quando requeridas, são atendidas; o entrevistado do setor educação não conceituou o termo de forma apropriada, centralizando a intersetorialidade somente entre os setores saúde e a educação, demonstrando desta forma desconhecimento ou imparcialidade. Assim, os trabalhadores do setor saúde mostram-se mais familiarizado com os conceitos de ações intersetoriais, enquanto os da educação mostraram pouco conhecimento do tema, relacionando às visitas dos profissionais de saúde da Unidade de Saúde da Família à escola da área adstrita. Para a concretização das ações intersetoriais entre educação e saúde no município, faz-se necessário rever as políticas públicas voltadas para a integração dos setores na sociedade.

Palavras-chave


Ação Intersetorial; Promoção da Saúde; Saúde Pública.

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