Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PERCEPÇÃO DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA SOBRE OS PROBLEMAS ÉTICOS VIVENCIADOS
Rose Manuela Marta Santos, Tatiana Almeida Couto, Adilson Ribeiro SANTOS, Nathalie Oliveira Gonçalves, Sérgio Donha Yarid

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


INTRODUÇÃO:  A Reforma Sanitária na década de 80 marcou a história das políticas públicas de saúde, pois, a atenção à saúde que até então estava focada nas práticas hospitalares tomava outros rumos. A partir de então a saúde passou a ser direito de todos e dever do estado e após a reforma foram traçados novos moldes para a saúde pública, voltados para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida da população. Neste contexto, o Programa Saúde da Família - PSF foi implantado com intenção de uma reorientação na atenção à saúde, direcionando as práticas de saúde voltadas ao coletivo e a família, este programa posteriormente foi mais bem denominado como Estratégia Saúde da Família – ESF. A ESF é a porta preferencial de entrada do usuário ao Sistema Único de Saúde – SUS e tem como proposta o estabelecimento de vínculos, acolhimento dos usuários e resolutividade nas necessidades demandadas. A atenção à saúde se difere quanto ao nível como primário, secundário e terciário. Desta forma, os serviços oferecidos se diferem quanto aos cenários, instituições, as crenças e condutas dos profissionais e usuários e assim, as soluções dos problemas encontrados e, sendo assim, os problemas éticos encontrados na produção do cuidado também se diferem quanto ao nível. Os problemas éticos encontrados na atenção hospitalar estão bem descritos na literatura, pois, tais problemas são mais dramáticos que os da atenção primária. E, por conseguinte, é de suma importância a identificação destes problemas éticos pelos profissionais de saúde na APS, pois, tais problemas são menos percebidos neste âmbito por não se tratar de caso de vida e morte. A ESF por envolver uma assistência de alta complexidade e baixa densidade tecnológica é importante que os profissionais adquiram habilidade, além de identificar, solucionar os problemas éticos na produção do cuidado. Neste contexto, este estudo tem como objetivo analisar a percepção dos profissionais da Estratégia Saúde da Família sobre os problemas éticos vividos na atuação profissional. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo exploratório com abordagem quantitativa. Participaram do estudo 26 enfermeiros, 12 médicos e 15 cirurgiões - dentistas que compõem as equipes de Saúde da Família de um município do sudoeste da Bahia - Brasil. Para a coleta de dados foi utilizado o Inventário de Problemas Éticos na Atenção Primária em Saúde - IPE/APS que contém 41 questões em escala likert que visa à mensuração de problemas éticos na Atenção Primária à Saúde - APS. Os dados do IPE/APS estão divididos em 03 grupos e para este estudo foi abordado os dados do segundo grupo, que se refere às relações entre as equipes e é composto por 09 problemas éticos, onde, os profissionais assinalam se concebem a afirmativa como problema ético ou não. Válido ressaltar que o IPE/APS foi construído com base em estudos anteriores com profissionais da APS, onde foram apontados os problemas éticos que acontecem na atuação profissional. Desta forma, todas as afirmativas são consideradas como problema ético. Os dados foram analisados no SPSS 21.0, sendo utilizada a estatística descritiva demonstradas com frequência absoluta e relativa. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética, tendo recebido parecer favorável com o nº 475.600. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Com relação à afirmativa que diz: os profissionais das equipes de ESF atuam com falta de compromisso e envolvimento, todos os profissionais consideraram a afirmativa como um problema ético. Na afirmativa que diz: as equipes de saúde da família não colaboram umas com as outras, apenas 1 (3,8%) enfermeiro não considerou como um problema ético. A parceria entre as equipes próximas é salutar para a resolução imediata de alguns problemas que porventura possam acontecer, principalmente, no que diz respeito a falta de insumos. Nas afirmativas que dizem respeito a existência da falta de respeito entre os membros da equipe da ESF e que os profissionais da equipe não apresentam perfil para trabalhar na ESF, todos os profissionais consideraram as afirmativas como problema ético. Com relação à dificuldade de cumprir, na prática, o papel e as responsabilidades de cada profissional da equipe de Saúde da Família, apenas 4 profissionais não consideraram como problema ético, sendo 3 (11,5%) enfermeiros e 1 (6,7%) cirurgião-dentista. Apesar de poucos profissionais não considerarem como problema ético, este é um problema que pode ocorrer quando alguns profissionais que estão inseridos na ESF não terem perfil ou afinidade para trabalhar na saúde coletiva. Todos os profissionais consideraram um problema ético na afirmativa: profissionais se omitem diante de uma prescrição inadequada ou errada. Na afirmativa: usuários pedem a um dos membros da equipe de saúde da família que os outros membros não tenham acesso a alguma informação relacionada à sua saúde, apenas 1 (3,8%) enfermeiro não considerou como problema ético. É importante ressaltar que é imprescindível manter a confidencialidade das informações dos pacientes e está expresso na carta dos direitos dos usuários da saúde, exceto quando autorizado pelo usuário, imposição da justiça ou quando seu estado de saúde coloque em risco a comunidade. Na afirmativa relacionada aos funcionários da UBS levantarem dúvidas sobre a conduta do médico da equipe da ESF, 2 profissionais não consideraram como problema ético, sendo 1 (3,8%) enfermeiro e 1 (6,7%) cirurgião-dentista. Referente aos usuários pedirem a um dos membros da equipe de saúde da família que os outros membros não tenham acesso a alguma informação relacionada à sua saúde, mesmo em situação em que seja necessária a participação da família no cuidado, todos os profissionais consideraram como problema ético. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Foi possível notar que a maioria dos profissionais percebe as situações - problemas que lidam no dia a dia com problemas éticos.  Porém, ainda assim, apesar de todas as afirmativas constarem como problema ético no IPE/APS, alguns profissionais entendem que não são. A não percepção destes problemas quer seja pelo fato de ocorrerem diariamente tornando-o como normal da rotina, quer seja pelo fato do profissional ter dificuldade em perceber e diferenciar os problemas existentes na APS pode gerar a não eficácia da resolução destes problemas. Pode-se perceber, portanto, a necessidade da formação continuada dos profissionais que atuam nas equipes de Saúde da Família, a fim de abrir espaços de diálogo e reflexão sobre os conflitos éticos vividos na atuação profissional.

Palavras-chave


Bioética; Ética; Atenção primária à saúde; Saúde da Família.

Referências


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