Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES COM FÍSTULA ARTERIOVENOSA NA HEMODIÁLISE DE UM HOSPITAL ESCOLA
Thiago Pereira Kovalski, Sandie Lauren Kahl Mueller Kovalski, Regina Helena Medeiros, Clenice Pudlo, Cristiani Sarro

Última alteração: 2015-11-27

Resumo


INTRODUÇÃO: A Doença Renal Crônica (DRC) é caracterizada pela perda lenta, progressiva e irreversível da função renal, com deterioração bioquímica e  fisiológica de todos os sistemas. Ela tornou-se um problema de saúde pública devido a crescente morbimortalidade e aos elevados custos para a manutenção nas terapias substitutivas existentes. A hemodiálise é um recurso amplamente utilizado que oferece melhor qualidade de vida, sendo que,  para sua realização, é necessário que o paciente possua uma Fistula Arteriovenosa (FAV). Devido à necessidade de 6 punções semanais para o acesso vascular, o aparecimento de hematoma é comumente presente, dificultando a eficácia do tratamento hemodialítico que, por vezes, é interrompido, até que seja sanado. Tendo em vista  que o hematoma em FAV é uma complicação relevante e, muitas vezes, a repunção no mesmo local, resulta também em hematoma, impedindo a qualidade do tratamento dos pacientes em hemodiálise (HD). A abordagem deste assunto  torna-se  importante, não só para aperfeiçoar a eficácia do cuidado de enfermagem, bem como, propor estratégias de melhorias no atendimento aos portadores de DRC que possuem FAV. No Brasil, atualmente há três técnicas de punção em FAV que podem ser realizadas, sendo que elas apresentam vantagens e desvantagens, devendo ser utilizadas de acordo com a estrutura da FAV de cada paciente como: punção em escada ou corda; punção em área e punção em botão e/ou casa de botão – buttonhole. Na punção em escada ou corda, a qual foi objeto deste estudo, às punções são distribuídas sistematicamente ao longo de todo o comprimento da veia arterializada. Cada agulha é inserida aproximadamente 2 cm acima ou abaixo do último ponto de punção, gerando o uso uniformizado do vaso onde os sítios de punção são alternados para evitar a formação de aneurismas e estenoses por trauma repetitivo da parede vascular. Tradicionalmente a técnica de punção utilizada em acessos vasculares em HD é a de escada ou corda. OBJETIVO: Caracterizar os participantes do estudo, portadores de DRC, que possuíam FAV que tiveram ou não hematoma no local de punção no período de junho de 2014 a março de 2015, da Unidade de Terapia Renal Substitutiva (UTRS) de um Hospital Escola. MÉTODO: Estudo transversal, retrospectivo, descritivo e quantitativo, realizado em uma UTRS de um hospital escola. Os participantes do estudo foram 72 pacientes portadores de DRC, com idade igual ou maior que 18 anos, que possuíam FAV e realizavam três sessões de hemodiálise por semana, no período de junho de 2014 a março de 2015. Para a descrição das características sociodemográficas e para a relação dos participantes do estudo que tinham ou não hematoma. Foram coletadas e analisadas as seguintes variáveis: gênero, idade, raça, situação conjugal, escolaridade, profissão e procedência. Para a descrição clínica das doenças prevalentes para DRC e hematoma em FAV, foram coletadas as doenças prévias registradas nas fontes de dados da instituição. Para a descrição da prevalência de hematoma em FAV foi coletado o tempo da mesma. A coleta de dados ocorreu nos meses de março e abril de 2015. Utilizou-se um questionário para coleta de dados elaborado exclusivamente para o estudo em questão. Para o preenchimento deste, foi recorrido aos dados retrospectivos, disponíveis no sistema de gestão Nefrosofft e Tasy, implantados na UTRS para colaborar no serviço e no acompanhamento do tratamento hemodialítico e na planilha de dados dos indicadores que medem o risco mensal do aparecimento de hematoma em FAV da UTRS. Através desta planilha, foram coletados os dados em relação ao aparecimento de hematoma em FAV. Nela, constavam as seguintes informações: tempo de FAV do paciente, profissional que realizou a punção, tempo de profissão do profissional que puncionou, cuidados de enfermagem realizados no local do hematoma e a data da ocorrência do evento adverso. Os dados relacionados às variáveis do estudo, que não estavam preenchidos, foram considerados como perdas. Em relação à análise estatística, foram produzidos dois tipos de tabelas para avaliação dos resultados: a descritiva, com o objetivo de apresentar as características sociodemográficas e as analíticas em que analisou as variáveis em comparação de ter ou não hematoma de em FAV, nos participantes do estudo. Foi utilizada análise univariada para descrever a prevalência de hematoma, bem como os fatores em estudo. Os dados categóricos foram descritos como frequência e porcentagem. Foram comparadas as variáveis categóricas e o desfecho de hematoma, utilizando o teste qui-quadrado de Pearson e teste exato de Fisher. Assim, foi possível conhecer a Razão de Prevalência (RP), o Intervalo de Confiança (IC95%) e valor p, associados a cada um dos fatores em estudo, identificando o efeito desses sobre o desfecho. Inicialmente foram investigadas as características sociodemográficas; em seguida, realizadas análises bivariadas entre todos os fatores em estudo e os desfechos (comparações) de ter ou não hematoma. Considerou-se estatisticamente significantes o p≤0,05. Os dados foram digitados e analisados no StatisticalPackage for the Social Sciences (SPSS) versão 22.0. Considerando os aspectos éticos e legais na pesquisa científica, foi solicitado o parecer do Conselho Científico e Editorial (COEDI) da Instituição, mediante apresentação do projeto de pesquisa e posterior aprovação do mesmo sob o protocolo nº 37/2014 e desenvolveu-se o Termo de Confiabilidade Sigilo  Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O nome dos participantes do estudo foi mantido em sigilo. Não houve influência no tratamento ou seguimento hemodialítico dos mesmos, devido à pesquisa. RESULTADOS: Observou-se, que dos 72 pacientes com DRC em tratamento hemodialítico, que possuíam FAV, 31 apresentaram hematoma,  estes, foram caracterizados como sendo  14 (50%) do sexo feminino; 17 (38,6%) do sexo masculino; 15 (45,5%) com idade entre 20 e 60 anos; 25 (47,2%) da cor branca; 18 (56,3%) não casados e 30 (44,1%) com 1º grau de escolaridade. Apresentaram significância estatística a situação conjugal (p=0,043) e a escolaridade (p= 0,007). As doenças prevalentes para DRC, que se destacaram para o aparecimento de hematoma em FAV foram: quatro (66,66%) insuficiência cardíaca congestiva; cinco (55,55%) síndrome nefrótica; três (50,00%) rim policístico; seis (46,15%) rim contraído; 19 (43,18%) hipertensão arterial sistêmica; sete (33,33%) diabetes mellitus; dois (33,33%) hiperplasia prostática e gota um (20%). Dos participantes que tiveram a FAV puncionada até 60 dias de maturação, 7 (77,8%) apresentaram hematoma, já os que tiveram a FAV puncionada após um período ≥ 60 dias, 24 (38,1%) apresentaram hematoma, com p=0,003, RP 2,04 e IC (1,28-3,27), mostrando, assim, significância estatística. A prevalência do aparecimento de hematoma na FAV foi de 43%. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A punção da FAV com um tempo maior de 60 dias de maturação demonstrou uma ocorrência menor de hematomas. O conhecimento científico das características dos pacientes com DRC, que realizam hemodiálise pela FAV. É fundamental para aperfeiçoar a eficácia do cuidado de enfermagem, minimizar o aparecimento de hematoma, bem como, propor estratégias de melhorias no atendimento hemodialítico, ampliando a realização de estudos científicos com esta abordagem. Apontam-se como limitações deste estudo, que a amostragem dos participantes foi pequena e encontrou-se deficiência nos registros. Enfatiza-se, também, a necessidade de maior estudo em relação à técnica mais adequada, assim como, uma maior vivência clínica do enfermeiro no uso de diferentes técnicas de punção da FAV, ampliando as habilidades e os recursos disponíveis aos pacientes.

Palavras-chave


Doença Renal Crônica; Fístula Arteriovenosa; Hematoma em Fístula Arteriovenosa; Hemodiálise.

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