Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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UTILIZAÇÃO DA METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO DE UM GRUPO TUTORIAL DO PET-SAÚDE
Jenniffer Francielli Sousa Alves, Bruce Daniel Queiroz, Juliane Ferreira Andrade da Fonseca, Lívia Alves da Silva, Ludmilla Campos Fernandes Silva, Rafaella Villa Moraes, Valéria Carvalho Araújo Siqueira

Última alteração: 2015-10-23

Resumo


O Programa de Educação pelo Trabalho para a saúde (PET-Saúde) é um programa de articulação entre os Ministérios da Saúde e da Educação, destinado a fomentar grupos de aprendizagem tutorial. O PET Vigilância em Saúde é uma proposta a partir do PET-Saúde, que tem como objetivo promover a formação de grupos de aprendizagem tutorial para desenvolvimento de atividades em áreas estratégicas do Sistema Único de Saúde (SUS). Incentivando a integração ensino-serviço-comunidade, por meio da inserção de docentes e estudantes de graduação na rede pública de saúde, de forma que as necessidades dos serviços sejam fonte de produção de conhecimento e pesquisa nas instituições de ensino, dentre os subprojetos do PET Vigilância em Saúde (VS), temos a Rede Cegonha, o qual trata esse estudo. O presente grupo tutorial de estudo contou com quatro alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Enfermagem, Psicologia e Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso. A Rede Cegonha é uma estratégia implantada em 2011 pelo Governo Federal e integra a política de Estado para humanização do parto e nascimento. Consiste numa rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério. Visa, também, assegurar à criança o direito ao nascimento seguro, ao crescimento e desenvolvimento saudáveis, por meio de um modelo que garanta acesso, acolhimento, resolutividade e a redução da mortalidade materna e infantil. Para a elaboração do projeto de intervenção, utilizou-se a metodologia da problematização, incorpora o esquema do Arco de Maguerez. Tal arco parte da realidade social e após análise, levantamento de hipóteses e possíveis soluções, retorna à realidade. As consequências deverão ser traduzidas em novas ações, desta vez com mais informações, capazes de provocar intencionalmente algum tipo de transformação nessa mesma realidade. Para o desenvolvimento dessa metodologia, é necessário seguir alguns passos: (1) observação da realidade (levantamento do problema); (2) pontos chaves; (3) teorização; (4) hipóteses de solução e a (5) aplicação à realidade (prática). A metodologia da problematização ultrapassa os limites do exercício intelectual, na medida em que as decisões tomadas deverão ser executadas ou encaminhadas considerando sempre sua possível aplicação à realidade, no campo de atuação de cada estudante. O objetivo do estudo foi relatar a experiência do PETSaúde-VS/Rede Cegonha na construção do projeto de intervenção através da utilização da metodologia da problematização. As atividades foram desenvolvidas pelo grupo tutorial de estudo e pela preceptora e enfermeira da Equipe de Saúde da Família (ESF) e coordenado por uma tutora docente do curso de enfermagem (UFMT). A ESF em questão localiza-se na periferia do município de Cuiabá/MT e atende a cerca de quatro mil pessoas, com 1.040 famílias cadastradas. O grupo acompanhou a rotina do local semanalmente, observando atentamente possíveis problemas baseados nas diretrizes da Rede Cegonha. A equipe realizava encontros para discutir os apontamentos de cada aluno e após diálogos e concordâncias, observou-se que os problemas se concentravam na atenção à saúde da mulher, sendo eles essencialmente relacionados à(aos): baixa adesão das mulheres ao exame de colpocitologia oncótica (CCO); diagnósticos, por vezes tardios de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) na comunidade incluindo em gestantes, sendo este agravo não notificado no sistema de informação; casos de gravidez não planejada, muitas delas em adolescentes; ausência de atividades educativas voltadas as adolescentes, mulheres e gestantes; e programa de planejamento familiar ineficiente. Após elencados os problemas, buscou-se a teorização nas referências bibliográficas para os temas em que se basearam a construção das hipóteses de solução. Para que fossem solucionados os problemas elencados, pensou-se na criação de um dispositivo cujo foco é o desapego às ideias pré-concebidas e a liberação do processo de pensar desobrigado das regras do pensar lógico e racional, ou seja, criou-se um grupo de discussão formado pela equipe multiprofissional da ESF visando trazer à tona angústias e dificuldades enfrentadas pela equipe na unidade, principalmente com relação à saúde sexual e reprodutiva, planejamento familiar, gestação, ISTs e CCO. Os grupos de discussão foram divididos em 3 etapas: a 1ª ETAPA- foi uma oficina de sensibilização da equipe de saúde: sendo realizados três encontros com a equipe do USF para integrá-los no projeto, incentivando sobre a importância de seu papel como profissional de saúde na comunidade e promover a realização das ações de vigilância em saúde da mulher, conforme os problemas já identificados. A 2ª ETAPA– foi com o grupo de mulheres da comunidade, trabalhando sob a ótica de empoderamento desse grupo, sobre o seu direito a sexualidade, sobre o planejamento familiar, saúde sexual, e controle das ISTs. Já a 3ª ETAPA foi a oficina de sexualidade na adolescência, com encontros mensais na escola da área de abrangência a fim de realizar uma reflexão com os adolescentes sobre saúde sexual e projetos de vida. Dessa maneira, grupos de discussão foram realizados com os profissionais da equipe. As mulheres da comunidade e os adolescentes da escola da localidade da área de abrangência, observando-se consequentemente um aumento no número de coletas de CCO, bem como também um aumento de Neoplasia Intra-epitelial Cervical (NIC). Sendo este diagnóstico um alerta para uma atenção maior para não evolução ao Câncer de Colo de Útero, evidenciando a importância de estar realizando a conscientização das mulheres da área de abrangência da USF para que elas procurem realizar o exame anualmente e deem sequência ao tratamento adequado ao diagnóstico apontado no resultado do exame. Conclui-se que a utilização da metodologia da problematização, possibilitou intervir de maneira eficaz de modo que se partiu dos pontos elencados pelos profissionais e comunidade como problemas reais da ESF e a teorização destes forneceram o suporte para que efetivassem as ações transformadoras. A contribuição deste estudo para a saúde, além de mudanças de práticas no local de estudo, também possibilita a reflexão dos acadêmicos e profissionais acerca do planejamento de suas ações em saúde. Além de fortalecer a integração ensino - serviço - comunidade e estimular o olhar crítico dos docentes e profissionais a partir de problemas reais existentes na comunidade, levando não apenas a reflexão da temática, mas também a aplicação de estratégias e ações a realidade, visando à solução ou a minimização dos problemas elencados.

Palavras-chave


Vigilância em Saúde; Educação para a saúde; Estratégia Saúde da Família.

Referências


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