Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
PRODUÇÃO DO CUIDADO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA PARA A PREVENÇÃO DO CÂNCER DE MAMA
Tatiana Almeida Couto, Rose Manuela Marta Santos, Adilson Ribeiro dos Santos
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: O câncer de mama é o tipo mais frequente nas mulheres e os cuidados direcionados para esta patologia se iniciam na Atenção Primária – AP, com ações de promoção, prevenção, detecção precoce dos casos na comunidade e cuidados paliativos. Nesta perspectiva, a Unidade de Saúde da Família (USF) realiza o rastreamento dos casos, baseados na identificação dos fatores de risco na comunidade e disponibilizando essas informações, bem como, estratégias para controle e diminuição da exposição a estes riscos. No processo de prevenção do câncer de mama, destaca-se a organização do serviço de atenção, bem como o direcionamento do paciente às redes de atenção à saúde, articulando intersetorialmente com os demais profissionais dos níveis responsáveis. Sendo que para a identificação precoce, para a redução das barreiras de acesso aos serviços especializados e adequado rastreio da população alvo é necessário o fortalecimento gerencial e a qualificação contínua do Sistema Único de Saúde – SUS. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) como uma das principais portas de entrada do usuário ao SUS tem a possibilidade de rastrear, em âmbito da atenção primária, precocemente este tipo de câncer. Levando em consideração os fatores de risco como o fator hereditário, obesidade, menopausa, terapia de reposição hormonal, consumo do álcool. Assim, a produção do cuidado deve estar pautado na confiança entre usuário/profissional, na habilidade em ter um bom relacionamento terapêutico, uma escuta qualificada e boa resolutividade. Diante da importância da AP ao câncer de mama, percebe-se fatores que interferem nesse processo de cuidado como entraves existentes nas USF, baixa qualificação dos profissionais, desarticulação entre as redes de atenção, atraso na entrega de exames citopatológicos, alta demanda e incapacidade dos gestores em articular o fluxo de demanda nos níveis de atenção, resultando em diagnóstico tardio que pode acarretar o óbito do paciente. Neste contexto, este estudo tem como objetivo analisar a produção do cuidado na atenção primária diante da prevenção do câncer de mama. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Esta é uma pesquisa de revisão de literatura de cunho descritivo e abordagem qualitativa, embasada no questionamento: o que vem sendo publicado na literatura acerca da produção do cuidado na atenção primária diante da prevenção do câncer de mama. Para a construção do estudo foram realizadas buscas na Biblioteca Virtual de Saúde durante agosto de 2014. A busca dos estudos iniciou com a definição dos descritores a serem pesquisados: “câncer de mama’’, “neoplasias de mama”, “atenção primária”, “atenção básica’’, “diagnóstico precoce”, “prevenção do câncer de mama”. Definidos os critérios de inclusão: artigos completos, em português e ano de publicação entre 2008 e 2013. Critério de exclusão: pesquisas que não contemplavam a temática e artigos duplicados. Assim, com os descritores isolados e a união deles, foram encontrados 10.603 artigos, porém, com base nos critérios de inclusão foram selecionados 591 artigos. Após a leitura dos resumos e também do artigo na íntegra foram selecionados 07 artigos. Para a análise dos artigos foi utilizado a análise temática de Bardin. Foi realizada a leitura exaustiva dos artigos articulada à questão norteadora bem como o objetivo do estudo. Posteriormente, deu-se a interpretação dos dados encontrados, a síntese dos mesmos e as realizadas as inferências e interpretações pertinentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A atenção primária tem a importante função no rastreamento do câncer de mama, porém, se depara com muitos desafios nessa atenção. Estudos apontam falhas na ampliação do rastreamento, na organização da rede e construção de ferramentas para planejamento e monitoramento. Destacam também a dificuldade no acesso aos exames de rastreamento e as referências para diagnóstico e tratamento de alta complexidade, dificuldade de articulação entre os níveis de atenção. Outras dificuldades foram destacadas como o baixo tempo de atuação, a rotatividade entre os profissionais de saúde e a ausência de uma política de educação permanente em saúde. Destaca-se também uma valorização do exame clínico em detrimento da solicitação de mamografia, reduzindo as solicitações de tal exame. Outros estudos identificaram que o desconhecimento da população como fator limitador ao rastreamento, sendo que os indivíduos referem conhecimento sobre a necessidade da realização precoce. Foram destacadas questões culturais e de gênero como fatores limitadores da detecção precoce do câncer de mama, enfatizando que a realização da consulta ginecológica feita por homem ou mulher interfere na adesão às práticas de prevenção. As mesmas autoras destacam relatos de sentimentos de vergonha quando o profissional era homem. Estudos reportam a utilização de um programa como estratégia utilizada para rastreamento de câncer no nordeste brasileiro, onde foi realizado avaliação da cobertura e busca ativa das mulheres e destacam que a avaliação das ações do programa são positivas e adequadas ao seu propósito. Outro fator que chamou atenção na prevenção do câncer foi encontrado a existência de desigualdades socioeconômicas e raciais na assistência, sendo que a prevalência da realização de mamografia encontrou-se na classe econômica A/B e, a raça branca e indígena realizou mais mamografia do que as raças negras e pardas. Neste contexto a produção do cuidado na ESF na prevenção ao câncer de mama perpassava por várias questões como o direcionamento e organização da rede de atenção. Além, das cotas para a realização de exames específicos, tornando, muitas vezes, tardio a detecção da neoplasia. CONCLUSÃO: Existem diversos entraves no que tange a prevenção do câncer de mama na atenção primária e a principal delas é a inoperância da intersetorialidade, o que coloca o usuário em situação de vulnerabilidade ao percorrer e voltar por caminhos sem respostas nos níveis de atenção. É necessária uma reestruturação da política de atenção ao câncer de mama voltado para a atenção básica, pois, é neste nível de atenção que se foca a prevenção, facilitando assim a detecção precoce dos casos na comunidade. Desta forma, para a reorientação do modelo de atenção, o ministério lançou o caderno de atenção básica, para o controle dos cânceres do colo do útero e da mama. Assim, para que as estratégias encontradas no caderno do ministério possam surtir efeito é necessário que os profissionais e os gestores atuem com responsabilidade, é necessário que haja o empoderamento dos sujeitos, fortalecimento das redes de atenção e qualificação dos profissionais por meio da educação permanente.
Palavras-chave
Câncer de mama; Diagnóstico precoce; Atenção primária à saúde.
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