Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
Avaliação Formativa e Processual em Sessão Tutorial: construindo pistas de aproximação para o instrumento de avaliação
Mirella Ferreira da Cunha Santos, José Carlos Rosa Pires de Souza, Iane Franceschet de Sousa, Ana Paula Machado, Rafaela Palhano Medeiros Penrabel, Socorro Andrade de Lima Pompílio, Renato Bichat Pinto de Arruda, Tânia Gisela Biberg-Salum

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Nas metodologias ativas, o estudante é o ator principal do processo educacional, que é dinâmico e estimula a construção do conhecimento por meio de uma aprendizagem crítica e autônoma. Ele, com o apoio do docente, devem ter total responsabilidade pelo seu autoaprendizado. A ênfase nesta estratégia é a busca ativa de informações e habilidades pelo acadêmico. A ele compete definir as melhores formas e o ritmo de estudar, bem como avaliar o progresso da sua formação.  A aprendizagem baseada em problemas (ABP) é um método pelo qual o acadêmico, ou o trabalhador de saúde, através de sessões tutoriais, utiliza a situação de um paciente, uma questão da assistência à saúde ou um tópico de pesquisa, como estímulos para aprender. Após análise inicial do problema, os acadêmicos definem seus objetivos de aprendizagem e buscam as informações necessárias para abordá-lo. Após, relatam o que encontraram e o que aprenderam. A ABP na educação dos profissionais de saúde tem três objetivos: a aquisição de um corpo integrado de conhecimentos, a aplicação de habilidades para resolver problemas e o desenvolvimento do raciocínio clínico.  Na ABP a avaliação do discente acontece em duas vertentes, a formativa, em que se valorizam aspectos do domínio afetivo e outra somativa, centrada nos domínios cognitivo e psicomotor. A concepção da avaliação formativa e processual da tutoria encontra-se respaldada na psicologia sócio-histórica, que tem como embasamento a teoria de Vygotsky, ou seja, o desenvolvimento humano a partir das relações sociais que são estabelecidas entre os diferentes atores que participam do processo ensino-aprendizagem, tendo em vista seus múltiplos contextos sociais. Portanto, o trabalho da tutoria pode ser analisado, também, como um espaço instigante para sistematização do conhecimento, considerando a sua função mediadora na construção do conhecimento.  Para tanto, é imperioso que a avaliação se dê em processo, ou seja, durante o próprio transcurso da atividade, de forma a serem captados eventuais desvios ou problemas e, dessa forma, poder se intervir de modo a favorecer uma resposta adequada às questões que se apresentarem.  Nesse sentido, o papel do docente tutor assume posição de destaque na avaliação, permitindo que uma série de dificuldades apareça tais como a atitude preventiva de professores que não se sentem à vontade para fazer críticas, subjetividade, falta de anonimato da avaliação efetuada durante as sessões tutoriais. Dessa forma é necessário que os tutores sejam capacitados, treinados e estejam em harmonia para diminuírem os vieses e a subjetividade durante o processo avaliativo formativo.  Considerando essas dificuldades e necessidades esse trabalho pretende relatar a experiência vivenciada no Curso de Medicina da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), durante a construção de um instrumento de avaliação formativa e processual para os módulos temáticos do curso e a elaboração de pistas de aproximação para cada um dos itens constituintes do instrumento avaliativo. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O Curso de Medicina da UEMS iniciou a primeira turma em março de 2015. A construção dos módulos temáticos e longitudinais do primeiro ano do curso foi realizada pela própria equipe de docentes, com apoio técnico-pedagógico de consultoria externa. Entende-se por construção dos módulos a elaboração de todo o material didático, instrucional e avaliativo, considerando as características e particularidades de cada cenário de aprendizagem. Dessa forma a construção do Instrumento de Avaliação do Estudante (IAE) a ser aplicado nas sessões tutoriais seguiu um longo caminho de desconstrução, reconstrução e aperfeiçoamento, realizado ao longo de oito meses (Janeiro-Agosto/ 2015) que resultou em um IAE prático e factível composto por um rol de “pistas de aproximação” que servem como norteadores para cada item a ser avaliado. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: O IAE construído coletivamente pelos tutores e pelos membros da Comissão de Avaliação consiste de dez itens, a saber: (1) Desempenho ao interpretar o problema; (2) Desempenho ao discutir o problema; (3) Habilidade na seleção, organização e formulação dos objetivos de aprendizagem; (4) Desempenho como membro do grupo na abertura do problema; (5) Desempenho ao demonstrar estudo que leve à resolução dos objetivos propostos; (6) Desempenho ao demonstrar senso crítico em relação às informações trazidas; (7) Capacidade de síntese e exposição das informações; (8) Capacidade de aplicar o conhecimento adquirido na resolução do problema; (9) Capacidade de realizar e receber críticas; (10) Desempenho como membro do grupo tutorial no fechamento do problema. Esses itens são avaliados utilizando-se uma escala de Likert com notas de 1 à 5 sendo: 1 – inapropriado para o nível de treinamento (ruim); 2 – abaixo do esperado para o nível de treinamento (regular); 3 – adequado para o nível de treinamento (bom); 4 – acima do esperado para o nível de treinamento (muito bom); 5 – desempenho excepcional para o nível de treinamento (excelente). Dessa forma os critérios possibilitam um parâmetro numérico (1-3) e dois parâmetros qualitativos (ex: acima do esperado para o nível de treinamento ou muito bom). O processo para que se chegasse a esse formato de IAE ocorreu durante todo o primeiro semestre de 2015, uma vez que o IAE utilizado até então não correspondia às necessidades avaliativas do cenário tutorial, muitas vezes supervalorizando as notas dos estudantes e desestimulando os tutores durante o processo da avaliação formativa ao dificultar o feedback e a possibilidade de apontar eventuais falhas a serem corrigidas pelos discentes. Assim, em Agosto/2015 o atual IAE passou a ser utilizado pelos tutores nas sessões tutoriais. O que se percebeu a partir daí foi que ao mesmo tempo em que o instrumento se mostrou de fácil preenchimento, clareza nos itens a serem avaliados e nos critérios estabelecidos, a subjetividade ainda superava a objetividade que se pretendia com o novo IAE. Percebeu-se que cada tutor estipulava parâmetros específicos em cada item, o que gerou diferenças muito grandes entre as notas de cada grupo tutorial. Assim, o grupo de tutores, a coordenação do curso, a comissão de avaliação e demais docentes propuseram utilizar a subjetividade para construir pistas objetivas para cada item e critério. Os tutores redigiram os parâmetros que estavam utilizando individualmente em suas avaliações e, em plenária, foi redigido um único documento com pistas de aproximação que seguiram este raciocínio: “Quando eu devo atribuir a nota 1 no item (1) Desempenho ao interpretar o problema? E quando eu devo atribuir a nota 2 no mesmo item?” e assim sucessivamente para cada um dos dez itens, e cada um dos cinco critérios. O resultado foi uma tabela com pistas claras e objetivas de situações ou condições para que determinada nota seja ou não atribuída em cada um dos itens. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Entende-se que em qualquer processo de aprendizagem existem objetivos a serem alcançados e para que haja a verificação disso é necessária a avaliação. O processo de construção coletiva vivenciado pelos tutores e demais docentes do curso de Medicina da UEMS é um reflexo de como as metodologias ativas em especial a ABP exige dos docentes um exercício interno de desconstrução e reconstrução de paradigmas. Acreditamos que não houve apenas a implantação de um novo sistema avaliativo nas sessões tutoriais do curso de Medicina da UEMS, mas um entendimento, por parte dos docentes e discentes, acerca de uma nova concepção de por que e como avaliar.    

Palavras-chave


Aprendizagem Baseada em Problemas; educação médica; avaliação educacional