Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Educação popular em saúde como estratégia para a prevenção da dengue nos Conselhos Locais de Saúde
Elvira Caires de Lima, Edirlei Machado dos Santos, Natália Ferreira dos Santos, Adriano Maia dos Santos, Patrícia Reis dos Santos
Última alteração: 2015-11-04
Resumo
Trata-se de um relato de experiência vivenciado no projeto PET - Saúde cujo objeto de intervenção foi o desenvolvimento de práticas educativas em saúde para ações de prevenção e controle da dengue realizada nos Conselhos Locais de Saúde (CLS). As práticas educativas podem ser consideradas como importante instrumento no processo de desconstrução das práticas dos sujeitos, tendo como possibilidade mudança de posturas e consequentemente o reconhecimento da necessidade de adoção de medidas de prevenção e controle da doença. Definiu-se como referencial para o presente estudo a pedagogia da autonomia de Freire que propõe a construção do processo ensino-aprendizado pautada numa relação de respeito à autonomia do ser educando. O objetivo desse estudo foi descrever a experiência das ações de educação popular em saúde nos CLS para a prevenção e controle da dengue no município de Vitória da Conquista, Bahia. As atividades foram realizadas por um grupo de cinco discentes do curso de graduação em ciências biológicas, dois preceptores profissionais da rede de serviços do SUS (uma enfermeira e uma bióloga) e um tutor, professora da UFBA. As atividades foram estabelecidas a partir da articulação ensino - serviço - comunidade, realizada nos meses de janeiro a dezembro de 2014. Foram visitados 19 CLS e envolvidos na mobilização um total de 649 pessoas entre conselheiros de saúde, profissionais de saúde e usuários do SUS. As atividades de educação popular em saúde foram realizadas por meio de exposições dialogadas sobre a dengue, em que se abordou as formas de prevenção e transmissão da doença, sinais e sintomas, epidemiologia da doença no município e a importância da participação popular na eliminação de possíveis criadouros da larva do mosquito. Os encontros duraram aproximadamente 30 minutos, eram conduzidos pelos discentes através de rodas de conversa, de modo a promover a fala dos participantes na tentativa de estimular a reflexão sobre as práticas sanitárias da comunidade. Observou-se com essa experiência que a educação popular em saúde é um instrumento capaz de produzir mudanças comportamentais individuais e coletivas a partir da transformação da autopercepção do sujeito e das relações que ele estabelece com seu entorno. No entanto, evidenciou-se discreta participação dos membros nas reuniões dos CLS o que apontam para a necessidade de (re) significar as representações sobre participação popular e envolvimento comunitário, bem como fortalecer práticas de educação em saúde numa perspectiva da pedagogia libertadora. Identificou-se que a comunidade não se sentia responsável pela problemática da dengue, o que fazia com que a mesma delegasse a responsabilidade pelo controle da doença à secretaria de saúde e a outros setores. Este estudo demonstra que os CLS ainda são espaços pouco utilizados que precisam ser reconhecidos como cenário legítimo de discussões e manifestações populares. Os órgãos de controle social podem tornar-se parceiros importantes para o desenvolvimento de ações de relevante impacto social como o controle da dengue. Portanto, é imprescindível investir e insistir no planejamento e efetivação de atividades de educação em saúde numa perspectiva libertadora, que incitem mudanças no comportamento individual e o envolvimento dos sujeitos com a vigilância de suas ações.
Palavras-chave
Educação em saúde; participação comunitária, dengue.
Referências
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