Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ESTRATÉGIAS LÚDICAS PARA A ADESÃO AO TRATAMENTO ANTI-HIPERTENSIVO EM ESTRATÉGIA DA SAÚDE DA FAMÍLIA
Aloma Renata Ricardino, Carlisson Novaes Sena Xavier, Andréia Insabralde de Queiroz Cardoso

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: As doenças do aparelho circulatório representam um importante problema de saúde pública em nosso país. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) e o Diabetes mellitus (DM) constituem os principais fatores de risco para as doenças do aparelho circulatório. Entre suas complicações mais frequentes decorrentes encontram-se o infarto agudo do miocárdio, o acidente vascular cerebral, a insuficiência renal crônica, a insuficiência cardíaca, as amputações de pés e pernas, a cegueira definitiva, os abortos e as mortes perinatais. São consideradas uns dos principais fatores de risco (FR) modificáveis e dois dos mais importantes problemas de saúde pública. A adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso é um fator primordial para o controle efetivo da HAS. Porém, a falta de adesão é difícil de quantificar, podendo variar de zero a mais de 100% em pacientes que usam mais do que as medicações prescritas. Entre 40% a 60% dos pacientes em tratamento não usam medicação anti-hipertensiva. Esta porcentagem é maior quando a falta de adesão se relaciona terapias não medicamentosas. A não adesão as modalidades de tratamento constituem um problema e deve ser entendida como um dos principais obstáculos para o sucesso do tratamento da HAS e DM 4. A identificação de fatores determinantes para a falta de adesão ao tratamento é muito importante na aplicação da estratégia terapêutica e na obtenção de resultados satisfatórios. Este é um relato de experiência de um projeto de intervenção que teve como objetivo a implantação de estratégias lúdicas para adesão ao tratamento dos pacientes com Diabetes Mellitus e/ou Hipertensão Arterial da Unidade de Saúde da Família Saco do Rocha /Acajutiba-Ba. Propondo a melhorara do controle dos níveis pressóricos, glicêmicos e consequente redução das comorbidades e otimização da qualidade de vida da população em questão. MÉTODO: Este é um relato de experiência baseado na realização de um projeto de intervenção durante o Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família da UFMS/FIOCRUZ. O referido projeto foi desenvolvido na Unidade de Saúde da Família do Saco do Rocha, em Acajutiba na Bahia. Inicialmente foi realizado um levantamento nos dados do SIAB 5 da Unidade, no qual ficou evidente a prevalência de hipertensos de 7,03 % e diabéticos 2,09 % índices muito aquém das prevalências nacionais. Com base nestes dados e nas consultas médicas e visitas domiciliares foi desenvolvido um projeto multidisciplinar pautado na utilização de meios lúdicos para a adesão dos Hipertensos e Diabéticos, denominado “Métodos dos Saquinhos”. Fizeram parte do projeto todos os Hipertensos e Diabéticos cadastrados no programa HIPERDIA. Foram excluídos do projeto pacientes psiquiátricos que possuíam estrita necessidade de um cuidado em tempo integral. O projeto ocorreu entre os meses de fevereiro a agosto de 2014. RESULTADOS: Inicialmente foi realizada uma busca desta clientela e nas visitas domiciliares foi perceptível a grande dificuldade da população, principalmente dos pacientes idosos e analfabetos, em seguir corretamente o tratamento e as recomendações no que tange as mudanças no estilo de vida. O esquecimento dos horários, a não distinção entre os diversos medicamentos, o não entendimento da prescrição e a falta de alguém que possa lhes auxiliar a tomar as medicações corretas na hora certa, foram algumas das justificativas comuns entre os clientes. A proposta de implantação do projeto de meios lúdicos para a adesão dos Hipertensos e Diabéticos, denominado “Métodos dos Saquinhos”, foi aceita pela equipe de saúde e baseia-se nas seguintes ações: a) orientação aos ACS sobre HAS e DM, assim como os motivos que podem levar um paciente a não adesão ao tratamento; seleção de pacientes em uso de polifarmácia que não aderem a terapêutica; b) compra do material a ser usado. Sacos coloridos de tecido, com tamanho de 20x15 cm nas cores azul, vermelho e preto. Marcadores permanentes (azul, vermelho, preto); c) distribuição e orientação aos pacientes; d) visitas regulares para atualização dos medicamentos nos sacos e avaliação dos resultados. O material deve ser usado da seguinte forma: nos sacos azuis colocava-se as medicações a serem usadas pela manhã, e cada cartela recebia marcação com marcador permanente na mesma cor do saco, sendo que um "blister" de comprimido deveria ser pintado para orientar que um comprimido daquela cartela deveria ser tomado e a cor azul indica que a medicação deverá ser tomada pela manhã. No caso de dois comprimidos de cada cartela, dois blisters deveriam ser pintados. Nos sacos vermelhos recebiam as cartelas das medicações a serem usadas pela tarde/almoço, seguido da marcação da cartela e blister como os da manhã.  Nos sacos pretos deveriam estar as cartelas das medicações usadas a noite, seguindo a marcação da cartela e blister como citado anteriormente nas outras cores. Os ACS faziam visitas mensais aos pacientes para atualizar os medicamentos nos saquinhos a medida que os mesmos eram consumidos. O projeto dos saquinhos foi explicado a comunidade através de rodas de conversa, com esclarecimentos sobre HAS e DM. Dos 65 hipertensos que responderam o questionário, houve predomínio do sexo feminino 53 (82%). Em relação à escolaridade, 21 (34%) pacientes eram analfabetos, 37 (57%) apresentavam nível fundamental incompleto. Já em relação à faixa etária estudada ocorreu predominância entre 61 a 70 anos: 26 pacientes. Com relação ao gênero as mulheres representam 70,3% dos pacientes cadastrados no programa HIPERDIA. As principais razões para não adesão ao tratamento farmacológico encontradas foram: ‘esquecimento próprio’, seguindo-se de ‘não são encontradas no posto’, ‘não tem dinheiro para comprar’, ‘medo de ficar dependente/viciado’ e ‘não entende a prescrição’. Tendo em vista as estratégias dos sacos e da marcação das cartelas de forma isoladas, constatamos que os resultados obtidos foram aquém do esperado. Seja pela falta de medicamentos na farmácia da unidade básica de saúde. No caso dos sacos coloridos, a arrumação das medicações era uma tarefa difícil de ser realizada e de certa forma, negligenciada, pela população estudada. Outro problema evidenciado foi a falta de recursos humanos suficientes para efetuar a marcação e distribuição dos medicamentos. Depois de implantada a estratégia, foi monitorada a pressão arterial dos cadastrados em dois momentos diferentes (a primeira visita antes de introduzida a estratégia e a segunda visita duas a três semanas após a introdução da mesma) do nível de controle dos níveis tencionais de cada paciente. Como resultado observou-se discreta redução dos níveis tensionais destes pacientes nesse período. Entretanto, foi perceptível que a arrumação das medicações nos sacos era uma tarefa difícil de ser realizada diariamente por uma população com determinado déficit cognitivo e/ou nível educacional reduzido. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ficou evidente que, após a implantação de estratégias lúdicas para melhorar a adesão ao tratamento medicamentoso de pacientes hipertensos e diabéticos, houve considerável queda dos níveis pressóricos destes pacientes. Por essa ação avaliada positivamente percebeu-se a necessidade de dar continuidade a esse projeto e ampliá-lo através do apoio dos profissionais da equipe de saúde e da Secretaria Municipal de Saúde de Acajutiba - Ba. Assim, a equipe da ESF tem plena consciência que esse projeto pode dar certo, mas está inacabado e necessita de revisão constante para melhor utilizá-lo como instrumento de ação na melhoria da adesão ao uso de medicamentos pelos pacientes.

Palavras-chave


hipertensão arterial sistêmica; diabetes melito; estratégia saúde da família

Referências


  1. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial.  Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão / Sociedade Brasileira de Nefrologia. Arq Bras Cardiol 2010; 95(1 supl.1): 1-51
  2. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2013-2014/Sociedade Brasileira de Diabetes; [organização José Egidio Paulo de Oliveira, Sérgio Vencio]. – São Paulo: AC Farmacêutica, 2014.
  3. Barbosa, R. G. B. ; Lima, N. K. C. Índices de adesão ao tratamento anti-hipertensivo no Brasil e no mundo. Revista Brasileira de Hipertensão, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 35-38, 2006.
  4. Andrade JP, Vilas-Boas F, Chagas H, Andrade M. Epidemiological aspects of adherence to the treatment of hypertension. Arq Bras Cardiol 2002;79(4):380-38.
  5. DATASUS: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabnet.exe?idb2012/g02.def. Acesso em 13  fev. 2014.
  6. Minayo MCS, Hartz ZMA, Buss PM. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciênc Saúde Colet. 2000 Jan-Jun;