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O ciclo gravídico puerperal representa para a mulher um momento de alterações hormonais, físicas e psicológicas, que podem interferir em sua saúde psíquica, por se tratar de um período vulnerável à ocorrência de crises, desencadeadas pelas profundas modificações intra e interpessoais próprias da gravidez. Sabe-se que esse processo consiste em um período que produz intensas transformações biopsicossociais, que acarretam mudanças na mulher e no meio no qual ela está inserida. Durante toda a gestação, a mulher fica propensa a sentir uma gama de sentimentos, podendo apresentar desde aumento da sensibilidade, oscilações de humor, insegurança, ansiedade, dentre outros. Didaticamente, os aspectos psicológicos decorrentes da gestação se diferenciam por trimestres. Sendo assim, o primeiro trimestre se configura a partir da descoberta da gestação, podendo surgir, por exemplo, sentimentos de ambivalência, enjoos, labilidade emocional. No segundo trimestre há a alteração do esquema corporal e a percepção dos movimentos fetais e seu impacto. No terceiro trimestre surgem ansiedades que se intensificam com a proximidade do parto, os temores do parto (medo da dor e da morte) e consequentemente há um aumento das queixas físicas. Vale ressaltar que essas e outras ansiedades surgem diferentemente em cada mulher, variando segundo sua história de vida, o meio social em que permeia suas crenças e costumes. Sendo relevante ainda considerar que o ciclo gravídico-puerperal propicia mudanças à gestante, ao seu companheiro, à sua família, e também sofre influências dos fatores psicossociais. Ao contrário do que a crença popular propaga de que a maternidade é um período de alegria para a mulher, essa pode gerar muito sofrimento psíquico. Gravidez não planejada, ou mesmo não desejada, vulnerabilidade social, e fragilidade de laços afetivos, são muitas vezes fatores que desencadeiam dificuldades maiores por parte das gestantes. Essas mudanças biopsicossociais também acompanham o puerpério, período no qual a mulher e sua rede de apoio social passam a conviver com uma nova realidade com a chegada do recém-nascido ao ambiente familiar. Este processo exige de todos os envolvidos novas adaptações na rotina e na dinâmica da família. Diante do exposto, percebe-se a necessidade de intervenções psicológicas realizadas as gestantes precocemente, a fim de oferecer espaço de escuta a essas mulheres, de modo que possam ser reconhecidas suas motivações, experiências e afetividade diante do ciclo gravídico puerperal, buscando prevenir transtornos relacionados a esse ciclo, bem como oferecer suporte a essa mulher e sua família. É considerando essa realidade que o Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB), na Região do Trairi do Rio Grande do Norte, unidade de referência no atendimento materno-infantil e no desenvolvimento de projetos de extensão com enfoque em equipe e atuação multiprofissional, inclusive com Residência Multiprofissional em Saúde Materno Infantil, busca realizar acompanhamento multiprofissional para prestar um cuidado integral e humanizado as gestantes. Dentre os projetos de extensão encontra-se o intitulado “Mãe Cidadã”, que é direcionado as gestantes que fazem acompanhamento na rede de atenção primária à saúde do município de Santa Cruz-RN e no hospital universitário, tendo como objetivo principal promover a educação em saúde, através de atividades lúdicas e educativas sobre temas que envolvem o período gravídico-puerperal, assim como identificar gestantes que necessitem de um cuidado mais especializado. Esse projeto é desenvolvido por meio de encontros semanais realizados nas dependências do Hospital Universitário, com as gestantes e a equipe multiprofissional, composta por psicólogo, assistente social, nutricionista, fisioterapeuta, enfermeira, farmacêutica e odontólogo. As ações educativas desenvolvidas têm foco no período gestacional, assim como também são trabalhados temas pertinentes ao puerpério, sempre contando com a participação ativa da equipe multiprofissional e das gestantes. A partir dessa experiência, o presente relato objetiva apresentar a atuação da psicologia no projeto multidisciplinar “Mãe Cidadã”. Considerando essa experiência rica e essencial na prática do profissional da Psicologia, em que é possível uma melhor compreensão da vivência das gestantes, identificando sua forma de perceber o momento, os afetos emergentes e apresentados, assim como o apoio ofertado pela rede sócio familiar. A psicologia se propõe a realizar atividades educativas e psicoeducativas que possibilitem um espaço de acolhimento e escuta, de modo que as participantes possam expressar suas emoções, angústias e ansiedades, no sentido de auxiliá-las a compreender os aspectos psicológicos relacionados ao ciclo gravídico puerperal e como melhor lidar com essas questões. Permitindo assim um espaço acolhedor que as mesmas desmitifiquem a maternidade enquanto um período que não perpassa apenas alegrias, sendo que este consiste em um processo que provoca muitas mudanças sociais e psicológicas que acarretam dificuldades em que a mulher pode não estar preparada para enfrentá-las. Assim, a equipe interage com as gestantes, na busca de apreender as implicações clínicas e obstétricas de cada uma, enquanto que o profissional de psicologia atua no sentido de favorecer as expressões e comunicação entre os integrantes do grupo, buscando compreender a estrutura e dinâmica de cada mulher para poder oferecer a melhor conduta. As intervenções com as gestantes têm uma perspectiva psicoeducativa, que visa promover saúde através da divulgação, esclarecimento e orientação de alguns temas, comumente geradores de ansiedade, medo ou outras fragilidades emocionais, considerando o avançar da gestação, a possibilidade ou ocorrência de intercorrências, ou já questões referentes ao parto e/ou ao puerpério. Essa intervenção psicoeducativa tem como método o esclarecimento e apoio, atuando de forma interventiva, estruturada e didática, no âmbito da psicologia da saúde, no interesse de possibilitar o maior bem-estar da gestante e do feto. Por isso, compreende-se a importância do papel da psicologia dentro do grupo multiprofissional atuando com esse público que exige tamanha atenção do psicólogo, que deve estar atento aos aspectos como a vinculação entre mãe-feto-pai, o suporte familiar e rede de apoio social presente e aspectos psíquicos da puérpera. Portanto, a intervenção da psicologia junto à equipe multiprofissional dirigida as gestantes tem possibilitado promover o cuidado integral à saúde das mesmas, compreendendo o trinômio mãe-pai-bebê e seu contexto sócio familiar. É oportuno frisar que tal intervenção não está dissociada da promoção do compartilhado inserido numa rede de atenção à gestante, bem como da produção do protagonismo e cidadania dessas mulheres. Neste sentido, a atuação do profissional de psicologia dirigida as gestantes têm favorecido as mesmas o conhecimento e reconhecimento do momento que estão vivenciando, dotando-as de estratégias de adaptação à realidade, reduzindo ansiedades, favorecendo aspectos relacionais, e estimulando seu papel ativo em prol de uma maior harmonia frente ao ciclo gravídico-puerperal. A intervenção psicológica possibilita também a detecção de situações específicas de sofrimento psicológico durante a gestação, sendo oferecidos apoio e suporte emocional às gestantes que apresentem demandas a serem acompanhadas pelo do serviço ambulatorial da psicologia. Destaca-se que nesse momento de clarificação quanto aos processos que envolvem o ciclo gravídico puerperal a psicologia não intervém sozinha, sendo imprescindível o trabalho articulado de toda a equipe multiprofissional que se empenha em oferecer atenção à saúde integral às gestantes, acompanhadas nesse grupo promovido pelo projeto de extensão. Dessa forma, ressalta-se o trabalho de prevenção e promoção dos cuidados preconizados as gestantes, buscando prevenir possíveis situações de sofrimento psíquico durante a gravidez, ou ainda possíveis de ocorrem no parto ou no puerpério, permitindo assim, à mulher, vivenciar de forma mais saudável o ciclo gravídico puerperal, pautado na construção de um modelo assistencial no pré-natal cada vez mais humanizado e qualificado, como preconizado pelas políticas públicas de saúde.

Psicologia; Assistência Integral à Saúde; Gestantes