Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Acesso do surdo a atenção a saúde: a importância do tradutor e interprete da língua de sinais para a garantia do direito à saúde
Márcia Fernanda de Méllo Mendes, Rosangela Pavlack Cardoso, Cristina Laguna, Ademilde Irene Petzold Prado, Guilherme Brandt de Oliveira

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Este trabalho tem por objetivo problematizar o acesso à atenção em saúde da pessoa surda a partir de um relato de experiência de trabalhadores do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) - Campus Alvorada. O IFRS é uma instituição de ensino federal que tem por missão oferecer educação profissional, de forma hierarquizada e de acordo com a demanda local. Sendo assim, o IFRS – campus Alvorada oferta cursos nos eixos: Desenvolvimento educacional, Social, Saúde e Meio Ambiente. O Curso Técnico de Tradutor e Interprete de Libras tem dado visibilidade às necessidades das pessoas surdas e, assim, demonstrada fragilidades do Sistema Único de Saúde (SUS) para efetivar seus princípios e diretrizes como a falta do tradutor e interprete da língua de sinais (TILS). O SUS é um sistema universal e equânime, no entanto, é difícil pensar que ele realmente seja assim quando pautamos o acolhimento de surdos. Os profissionais de saúde, em geral, não estão qualificados para entender a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) e são raros os municípios que disponibilizam interpretes. Uma experiência vivida no IFRS – campus Alvorada foi com a Cátia (nome fictício) que é surda e apresenta dificuldade nas relações familiares. Cátia realizava uma série de consultas na rede municipal de saúde, mas não se sentia cuidada e atendida nas suas necessidades. Ela tem um longo percurso nos serviços de saúde e da assistência, sendo acompanhada pela Estratégia Saúde da Família (ESF), pela Saúde Mental e pelo Centro de Referência em Assistência Social, também tem história de internação psiquiátrica. Até o início do ano de 2015, ela comparecia as consultas com a sua mãe, porém, como mencionado anteriormente, há um conflito familiar que hoje mantém a mãe afastada dela por medida protetiva. A mãe (com dificuldade de relacionamento com a filha) que sempre ocupou o papel da “voz e ouvido” da Cátia, mesmo que muitas vezes possa ter dito o que pensava da filha ao invés de falar o que a Cátia estava dizendo. Devido à medida protetiva de afastamento da mãe, Cátia pede para que uma TILS a acompanhe nas consultas, neste momento ela demonstrava desorganização e ansiedade, relatava sintomas psicóticos e dificuldades com o sono. O caso é discutido com a ESF, as consultas são reagendadas e Cátia passa a ser acompanhada por uma TILS nos atendimentos. No seu relato, diz que pela primeira vez se sentiu ouvida pelo serviço de saúde pode dizer o que sentia o que precisava e como via seu próprio tratamento. Ela segue em acompanhamento, de forma aderente, apontando à equipe de saúde, através da TILS, as dificuldades que encontra com a medicação. Esta experiência certamente não é única, muitos surdos encontram dificuldade de serem atendidos nas suas necessidades. Quantos procedimentos inadequados já podem ter sido realizados? No caso de Cátia, uma questão que fica é se suas internações psiquiátricas foram a partir de uma necessidade real ou pelo relato que a mãe fez dela e ela foi submetida sem condições de defender-se?

Palavras-chave


SUS, libras, Acesso à Saúde