Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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FATORES IMPACTANTES NO ATENDIMENTO AO IDOSO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA NO BRASIL
Caroline Soares Nobre, Caline Dos Santos Vasconcelos, Eleonora Lima Peixinho Guimarães

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: Em 2025 o Brasil ocupará a sexta colocação entre os países do mundo com maior número de idosos, com a finalidade primordial de recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. Foi criada em 19 de Outubro de 2006 a Portaria Nº 2.528 que aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, amparando todo cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos ou mais. A política considera a necessidade de buscar a qualidade da atenção aos indivíduos idosos, por meio de ações fundamentadas no paradigma da promoção da saúde. Sendo a família a executora do cuidado ao idoso, evidencia-se a necessidade de se estabelecer um suporte qualificado e constante aos responsáveis por esses cuidados, tendo a atenção básica, por meio da Estratégia Saúde da Família um papel fundamental (BRASIL, 2006). Ao considerar a fragilidade da saúde do idoso, muitos são acometidos por doenças e agravos crônicos não transmissíveis (DANT) - estados permanentes ou de longa permanência, que podem gerar um processo incapacitante, afetando sua funcionalidade, ou seja, dificultando ou impedindo o desempenho de suas atividades cotidianas. Ainda que não sejam fatais, essas condições geralmente tendem a comprometer a qualidade de vida, desta forma são os principais motivos da busca pelo atendimento na Atenção Primária à Saúde (APS) por esta população. Deste modo, objetivou-se identificar os fatores que impactam no atendimento prestado aos idosos, usuários da APS no Brasil. DESENVOLVIMENTO: Estudo de caráter exploratório por meio de uma revisão integrativa, na qual segundo Mendes (2008), a mesma inclui a análise de pesquisas relevantes que dão suporte para a tomada de decisões e a melhoria da prática, possibilitando a síntese do estado do conhecimento de um determinado assunto, além de apontar lacunas do conhecimento, que precisam ser preenchidas com a realização de novos estudos. Foram utilizadas as bases de dados nacionais e internacionais, Scielo, Bireme e Google acadêmico, no período de agosto a novembro de 2014. Utilizou-se como filtro o ano de publicação (2000 a 2014), considerando um período anterior de cinco anos, a criação do Estatuto do Idoso, que ocorreu em 2006. Os descritores utilizados para a busca na base de dados foram: Saúde do Idoso, Atenção Básica, Estratégia de Saúde da Família, Unidade Básica de Saúde, Serviços de Saúde, Saúde do Idoso e Saúde da Família. Foram realizadas combinações entre os descritores gerando um total de 210 artigos e destes, foram selecionadas 10 publicações considerando os critérios de inclusão: artigos completos disponíveis em português que apresentassem os fatores positivos e desafiadores que influenciam no atendimento ao idoso na atenção básica. Foram excluídos artigos que tratam da acessibilidade do idoso no âmbito hospitalar e artigos idênticos. RESULTADOS: Não foi possível identificar as possíveis influências do Estatuto do Idoso na qualidade do atendimento prestado, pois, as publicações são após 2006. Os autores são profissionais das áreas da Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia, Psicologia, Odondotologia, Medicina e Serviço Social. Destes, os enfermeiros estão em maioria com quatro (40%) dos manuscritos. Destes autores, nem todos deixaram claro na sua identificação a área de atuação. Apenas um artigo deixou claro que a profissional era especialista em Atenção à Saúde e Envelhecimento. Alguns indicaram as áreas que estão relacionadas como Saúde da Família, Saúde Coletiva, Educação e Saúde Comunitária, enquanto outros identificaram apenas sua categoria profissional. No que se refere às regiões do Brasil, apenas a região norte não esteve presente. As universidades públicas representam oito (80%) dos artigos selecionados. Essas instituições de ensino foram representadas por alunos de graduação, especialização, mestrado, doutorado bem como os docentes. Os objetivos traçados tinham caráter de identificação das ações prestadas e dificuldades enfrentadas na assistência, além de avaliar e analisar o atendimento oferecido ao idoso. Os principais fatores que influenciam o atendimento prestado aos idosos na APS estão associados à utilização do Serviço de Atenção Básica foi "Escolaridade", ao fato de "perceber-se saudável" e "autorrelatos de dano crônico". Na realização do estudo, os autores puderam observar que os próprios idosos se queixaram da dificuldade de acesso às UBS/USF. Ainda assim, foi percebido que a Atenção Básica tem conseguido atender grande parte da população idosa. Essa percepção dos autores contradiz a percepção dos idosos, que referiram dificuldade para acessar o serviço de saúde das UBS/USF (PASKULIN, VALER e VIANNA, 2011). Identificaram fatores semelhantes pesquisadores de Fortaleza (Barros et al., 2011) na qual estão a baixa assiduidade dos idosos, sem motivo específico para justificar e a necessidade de capacitação do profissional para intervir no processo de envelhecimento. Referindo que a baixa assiduidade pode estar relacionada à autopercepção de se sentir saudável ou dificuldade no deslocamento até a Unidade de Saúde. Cabe destacar que Oliveira e Tavares (2010) afirmam que a pouca assimilação das orientações, especialmente no que se refere aos medicamentos, além do pouco acompanhamento dos familiares estão associados ao atendimento prestado, aludindo à baixa renda e escolaridade da população de usuários idosos. Em acordo com Paskulin, Valer e Vianna (2011) que acreditam na escolaridade como um dos fatores negativos responsável pela pouca assimilação das orientações prestadas pelos profissionais de saúde. Três artigos (Barros et al., 2011; Mendes et al., 2013; Almeida et al., 2011) trouxeram como fator dificultador o aperfeiçoamento, capacitação e profissional. Os profissionais de saúde recebem a capacitação profissional durante o período de graduação, mas, nem sempre esse ensino é suficiente para garantir uma boa prática profissional. Tavares et al. (2008) realizaram um estudo que buscou descrever o conhecimento dos acadêmicos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, sobre definição cronológica do idoso, geriatria e gerontologia, onde foi identificado que cerca de 75% desses cursos abordam o tema, a frequência de contato com o idoso gira em torno de 50% dos acadêmicos e os mais interessados nessa temática são os estudantes de enfermagem, seguido dos de medicina. A sobrecarga de trabalho foi outro fator destacado pelos artigos de Motta, Aguiar e Caldas (2011) e Almeida et al. (2011). Seja na ESF ou UBS, considerando a demanda prevista de atendimento, quantidade de famílias cadastradas e programas para executar, principalmente para o enfermeiro, requer planejamento e organização para conseguir atingir as metas pactuadas e atender as necessidades da comunidade. Além da sobrecarga de trabalho e infraestrutura das unidades de saúde, a escassez de recursos humanos, também, dificultam o atendimento (BARROS et al., 2011). CONSIDERAÇÕES FINAIS: O fato de a população brasileira e mundial estar em constante envelhecimento, deve ser motivo para a veemência da gestão pública e das universidades, no investimento em capacitação profissional e infraestrutura. Diante dos fatores associados ao atendimento do idoso, acredita-se que assim como a saúde da criança e a saúde da mulher que obtém consultas específicas, a saúde do idoso pode e deve ser remodelada designando uma consulta específica a esta população alvo. Os atendimentos das ESF e UBS por vezes, estão programados para atender usuários com determinada patologia como hipertensão e diabetes ocorrendo um direcionamento da assistência para a patologia, proporcionando um cuidado clínico generalizado. Legitimar o serviço prestado à população brasileira idosa proporcionará um envelhecimento acompanhado e amparado com ações de promoção da saúde e prevenção de agravos inerentes ao envelhecimento.

Palavras-chave


Saúde do Idoso; Atenção primária a saúde; Serviços de Saúde

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