Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Violência doméstica e suas interfaces com as questões de identidade e gênero: um estudo a partir das narrativas de história de vida de mulheres agredidas
Ana Karina de Sousa Gadelha, Maria da Glória dos Santos Ribeiro, Maria Michelle Bispo Cavalcante

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Este trabalho pretende apresentar elementos para a reflexão e compreensão das transformações identitárias de mulheres vítimas de violência doméstica que procuraram uma Unidade Básica de Saúde localizada no bairro Dom Expedito, periferia de Sobral-CE, como lugar de acolhimento, durante o período de julho de 2012 até dezembro de 2013. Visando o alcance dos objetivos propostos, a pesquisa foi qualitativa com enfoque fenomenológico-hermenêutico, com base nas abordagens compreensivas de pesquisa em saúde. Utilizou-se a narrativa de histórias de vida de mulheres agredidas por seus parceiros, articulando elementos histórico-teóricos e empíricos ao estudo. Partiu-se do reconhecimento da importância de apresentar maior visibilidade à problemática da violência contra mulher, uma vez que esta alcança índices cada vez maiores no município em questão, como evidenciam os relatórios anuais de notificação de violência intrafamiliar por unidade de saúde com aumento de 92,8% dos casos notificados, do ano de 2010 para 2011. Apesar de sua importância e ocorrência, ao se investigar estudos a cerca da temática constatou-se que a questão ainda não está suficientemente dimensionada, tornando-se relevante a realização de estudos mais aprofundados e propositivos acerca do tema. Enfatiza-se que o trabalho evidencia fatores sociais, culturais e econômicos envolvidos na história de violência doméstica dessas mulheres, logo, uma investigação que produz um novo conhecimento e considera interseções entre gênero e diversas modalidades raciais, classistas, étnicas e sexuais de identidades que se constituem de forma discursiva. Nas histórias de vida trazidas neste trabalho nos foi possível perceber que as questões de identidade e gênero são influenciadas pelas condições históricas, sociais e materiais dadas, bem como as condições do próprio indivíduo. O despreparo dos policiais, a visão estereotipada da mulher que denuncia, o desconhecimento das questões de gênero, bem como a estrutura autoritária da própria polícia enquanto corporação, dificultam a implementação e execução de leis como a Lei Maria da Penha. Além disso, ainda convivemos com políticas públicas rasas e inconsistentes no que se refere ao acolhimento e cuidado dessas famílias nos serviços de saúde. É perceptível que a violência tem sido responsável por uma demanda crescente de atendimentos nos serviços de saúde, entretanto, muitos trabalhadores da saúde não a percebem como situação merecedora de cuidado e acolhimento. É como se a violência estivesse fora de seu campo de intervenção. Não estando em seu campo de atuação, o sofrimento ocasionado pela violência doméstica não é considerado pelos profissionais de saúde, mesmo que seja visto. Quanto ao nosso objetivo do estudo, as narrativas violentas que testemunhamos evidenciam que identidade é metamorfose, transformação e se manifesta cotidianamente na luta pela existência humana. As histórias compartilhadas trouxeram registros de memórias vivas que inventam o futuro, procuram saídas para as desigualdades e possibilidades de transformação de si mesmas e do mundo. Nós, seres humanos, independentes de sexo ou gênero, precisamos pensar e criar novas formas de resistência social e perceber os empecilhos de uma emancipação concreta. Talvez isto nos aponte novos caminhos de expressão da identidade e alcance da emancipação.

Palavras-chave


Violência doméstica contra a mulher; Gênero; Identidade; História de Vida; Saúde.