Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Compreensão e desafios do Sistema de Saúde americano: experiência de duas intercambistas nos Estados Unidos
Leticia Antonio Costa, Kassandhra Pereira Zolin

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: As experiências vividas pelas acadêmicas tanto em aulas teóricas quanto em momentos práticos apontaram a pouca valorização de ações preventivas e a intensa utilização de tecnologias duras, que geram alto custo para a saúde americana. Sendo assim a realidade da saúde americana é diferente da brasileira, que é apoiada e orientada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O sistema de saúde americano tem suas raízes no mercantilismo, tendo a saúde com um bem econômico e não como direito e dever do Estado, sendo assim as medidas preventivas são pouco ou quase nada valorizadas, enquanto os hospitais são à base das práticas de saúde nos Estados Unidos. Sendo assim, os gastos com saúde e a falta de cobertura para toda a população são os desafios enfrentados pelos americanos no que diz respeito ao acesso à saúde. Diferentemente do SUS, que pauta suas ações em princípios universais de acesso à saúde, o sistema de saúde americano limita o acesso àqueles que possuem algum plano de saúde ou que podem financiar o atendimento “do próprio bolso” (out-of-pocket). Os fatores associados à alto custo e baixa efetividade do sistema de saúde tem como causas a pobreza, a falta de cobertura universal de acesso à saúde, falta de investimentos em   ações preventivas e de saúde pública, altos índices de acidentes, violência e gravidez na adolescência e hábitos de vida nocivos à saúde como falta de consumo de alimentos saudáveis e prática regular de exercícios físicos (RICE et al., 2014). DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A experiência deu-se no decorrer dos 14 meses de intercâmbio, por meio de matérias realizadas nas respectivas universidades onde cada aluna estava fazendo intercâmbio pelo programa do Governo Federal, Ciência Sem Fronteiras. Além do conhecimento sobre o sistema de saúde americano que as matérias proporcionaram às alunas, foi possível analisar o sistema refletindo sobre as mudanças que tramitavam no congresso Americano devido ao “AffordableCareAct” ou Obama Care, uma “tática” apoiada pelo Presidente Obama para levar saúde a um maior número de Americanos.  Até o ano de 2020, espera-se que o número de pessoas sem acesso à um plano de saúde caia de 47 milhões, em 2012, para 31 milhões com o Obama Care (RICE et al., 2014). O Obama care é mais que uma lei para planos de saúde, pois seus objetivos são encorajar a atenção primária e, promover qualidade de vida e prevenção de agravos. As aulas de Saúde de Pública ministradas às alunas também foram fontes essenciais para a compreensão das dificuldades enfrentadas pelo sistema de saúde americano. Apesar dos esforços nas campanhas nacionais de saúde como o “ThisisPublic Health” (Isso é Saúde Pública, em português), que buscou mostrar aos americanos e outros residentes daquele país a intensa presença da Saúde Pública, as ações de investimentos nessa área ainda são muito reduzidas, aumentando ainda mais os problemas de saúde neste país. Outro meio de vivência foi a própria convivência com americanos, que muitas vezes pontuavam as suas reflexões sobre o sistema de saúde americano.  IMPACTOS E/OU RESULTADOS: Os impactos trazidos por essas experiências foram a intensa reflexão e questionamento acerca do nosso Sistema de Saúde no Brasil. Para muitos tido como ineficaz, para as acadêmicas é perceptível que os princípios que o norteiam fazem a diferença na vida de muitos, pois a partir do enfoque na atenção primária como “porta de entrada” do sistema, é possível desafogar média e alta complexidades, diminuindo custos por meio da utilização de tecnologias leves. Assim, percebe-se que ser um país em desenvolvimento não significa ter menor capacidade na elaboração de estratégias eficazes para a resolução dos problemas dos serviços de saúde. Um Sistema de Saúde será eficaz quando existir esforços para a promoção da saúde e prevenção de agravos. Investimentos em tecnologia dura como aparelhos sofisticados para diagnósticos e tratamento também são importantes e não devem ser desmerecidos, no entanto nem sempre os gastos gerados seriam necessários se outros investimentos mais baratos tivessem sido feitos anteriormente. Merhy (1999) explica que muitos são os avanços científicos para a produção de conhecimento em saúde e a resolução de problemas. Entretanto, o crescente número nos avanços tecnológicos ainda não resolveu os problemas dos sistemas de saúde por todo o mundo, sendo assim pode-se pensar que o aumento no consumo de tecnologias não seja a resolução da crise no sistema de saúde. Porém, ao escutar ativamente o usuário do sistema de saúde para compreender que tipo de assistência está deficitária, percebe-se a falta de um atendimento humanizado, sem responsabilização do profissional perante os seus atos. Ter um serviço de saúde que não acolhe o usuário de maneira adequada irá causar por exemplo, a desinformação. No caso de Campo Grande essa desinformação cria filas imensas nas unidades de pronto atendimento, ocasionando desconforto e a falsa impressão de que precisamos de mais hospitais na capital, ao invés de mais unidades básicas para empoderar uma população e esta se tornar militante da própria saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Constatou-se por meio da experiência em terras estrangeiras que investimentos em atenção primária são uma das soluções mais baratas a serem implementadas quando comparadas aos gastos exorbitantes com média e alta complexidade. Além disso, há um intenso movimento nos Estados Unidos para alcançar a mentalidade de que prevenção é muito mais eficaz do que deixar o cliente dependente de cuidados mais complexos. Sendo assim, quanto mais preventivas as ações, menores as chances de doença, sendo assim, menores os gastos. É importante salientar que ao compreender a situação de saúde dos EUA e também vivenciá-la foi de grande valia para sedimentar o conhecimento acerca das potencialidades do SUS. Pois, mesmo compreendendo que o SUS é uma excelente ferramenta para promover a todos os brasileiros e brasileiras o direito à saúde, que é garantido na Constituição Federal no artigo 196, ainda não observamos esse direito aplicado em sua totalidade. Diferentemente dos EUA, não é por falta de ferramentas corretas, mas sim por um problema um tanto quanto crônico de alguns brasileiros de sempre julgar as ações do Brasil, país subdesenvolvido, em relação aos países desenvolvidos. Mais do que bagagem acadêmica, o intercâmbio proporcionou uma vivência que amplia os fatos para argumentar e explicar o porquê o SUS é um ótimo sistema de saúde. Além disso, a experiência de morar fora nos abriu os olhos para ver características positivas e negativas de cada sistema, e assim em nosso cotidiano profissional poderemos juntar os pontos positivos e exercer uma prática a favor da equidade, igualdade e universalidade.

Referências


BRASIL. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). 2011. Disponível em: <http://www.brasilsus.com.br/legislacoes/gm/110154-2488.html> Acesso em: 10 de set. de 2015;

SHI, L.; SINGH, D. A. Essentials of the U.S. health care system. 3 ed. Jones & Bartlett Learning: Sudbury, 2013;

RICE, T.; UNRUH, L. Y.; ROSENAU, P.; BARNES, A. J.; SALTMAN, R. B.; GINNEKEN, E. V. Challenges facing the United States of America in implementing universal coverage. Bull World Health Organ, 2014. Disponível em: <http://www.who.int/bulletin/volumes/92/12/14-141762/en/> Acesso em: 15 de out. de 2015

MERHY, E. E. O ato de cuidar: a alma dos serviços de saúde? 1999. Disponível em: <http://www.pucsp.br/prosaude/downloads/bibliografia/ato_cuidar.pdf> Acesso em: 15 de out. de 2015.