Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O EXAME CITOPATOLÓGICO E OS ASPECTOS QUE INFLUENCIAM A NÃO ADESÃO
Gisetti Corina Gomes Brandão, Tuanny de Souza Gonçalves Benjamim Souza, Jessyka Cruz Rayana Silva Cruz, Graziele Silveira. Batista Keller Silveira, Juliane Peixoto. Berenguer de Souza Peixoto, Kallyña Gomes Dias Gomes

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O câncer configura-se atualmente como um importante problema de saúde pública em todo o mundo. Dentre os diversos tipos, o câncer de colo uterino apresenta-se como um dos principais, decorrente de sua alta incidência, é caracterizado pela replicação desordenada do epitélio de revestimento do órgão, comprometendo o tecido subjacente (estroma) e podendo invadir estruturas e órgãos contíguos ou à distância. Para o surgimento de tal câncer, uma das condições necessárias é a presença de infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV), porém outros fatores contribuem para o surgimento desta patologia como o tabagismo, multiplicidade de parceiros sexuais, iniciação sexual precoce, uso de contraceptivos orais, baixa condição socioeconômica e baixo nível de escolaridade, porém o câncer do colo uterino é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura, chegando até aproximadamente 100%, quando há o diagnóstico precoce, para tanto a educação em saúde é indispensável para a prevenção do câncer de colo de útero, cuja importância é destacada nas ações de planejamento, execução e avaliação da programação das ações da saúde, em seus diferentes níveis de atuação. O investimento em ações preventivas visa à diminuição da porcentagem de novos casos e a garantia de uma qualidade de vida melhor às mulheres acometidas pela doença O controle dessa neoplasia dispõe de tecnologia de baixo custo para a prevenção e identificação, através do esfregaço do exame citopatológico Objetivo: O presente estudo teve como objetivo compreender os fatores que influenciam a não adesão ao exame citológico das mulheres de uma Unidade de Saúde da Estratégia de Saúde da Família - ESF do município de Campina Grande-PB. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória, com enfoque qualitativo, realizada pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) em parceria com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através do Programa de Educação pelo Trabalho - Redes de Atenção à Saúde (PET-RAS), na linha de Doenças Crônicas - DC com foco em câncer de colo de útero, enfatizando os principais aspectos relacionados à baixa adesão das mulheres ao exame citopatológico, de uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) do município de Campina Grande - PB. Foi desenvolvida na UBSF Adalberto César,  localizada no bairro do Pedregal, região periférica da cidade. A UBSF é composta por duas equipes básicas, entende-se por equipe básica ou mínima, aquelas que possuem apenas os profissionais Médico, Enfermeiro, Auxiliar ou Técnico de Enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde - ACS. Para a obtenção da população da pesquisa utilizou-se um formulário, dividido por equipe, microárea e agente comunitário de saúde responsável, com as seguintes informações: número do prontuário, iniciais da paciente, ocupação, grau de escolaridade, data de nascimento e idade, além do questionamento sobre a vida sexual ativa. Esses dados foram obtidos com a ajuda dos agentes comunitários de saúde através das fichas cadastrais das famílias existentes no Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB, que, além disso, obtêm informações sobre as condições de moradia e saneamento, situação de saúde, produção e composição das equipes de saúde, sendo o principal instrumento de monitoramento das ações da Estratégia Saúde da Família. Participaram da pesquisa usuárias que tinham ou tiveram vida sexual ativa, que não realizaram o exame citopatológico nos últimos 2 anos (2012-2013), que possuíam a capacidade cognitiva preservada e que aceitaram participar da pesquisa. Para obtenção da amostra foram sorteadas 10 mulheres em cada microárea, das 8 existentes , totalizando assim  80 mulheres, destas participaram da pesquisa 42 e as 38 mulheres que são consideradas perdas se deu-se em virtude de suas ausências no momento da coleta de dados, sendo: 33 que não estavam em suas residências no momento das visitas domiciliares para coleta dos dados, 3 não moravam mais na área de abrangência e 2 foram convocadas para o teste piloto da entrevista semiestruturada, na qual suas respostas não foram consideradas, pois a partir deste teste houveram mudanças nas questões norteadoras. A coleta de dados ocorreu entre março e abril de 2015, mediante a realização de entrevista semiestruturada contendo quatro questões norteadoras referentes à temática  exame citopatológico. Através das enfermeiras da UBSF, foram agendadas com os Agentes Comunitários de Saúde – ACS para que as entrevistas acontecessem nas residências das usuárias, facilitando a participação das mesmas. Os encontros foram gravados e os dados transcritos na íntegra para posterior análise de conteúdo. Utilizou-se a proposta de análise de Bardin. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) sob o parecer Nº. 30212114.6.0000.5182. RESULTADOS: O grupo de mulheres entrevistadas constitui-se de 42 mulheres na faixa etária de 25 a 64 anos, com média de idade de 43,97 anos (±12,648). Dentre elas, 14 (33,33%) se enquadram na faixa etária de 25 a 35 anos, 9 (21,42%) entre 36 e 45 anos, 9 (21,42%) entre 46 e 55 anos, e 10 (23,80%) de 56 a 64 anos. Em relação ao nível de escolaridade das entrevistadas, 25 (59,52%) possuíam ensino fundamental incompleto; 7 (16,66%) ensino fundamental completo; 6 (14,28%) não sabem ler nem escrever; 2 (4,76%) ensino médio completo; 1 (2,38%) ensino superior completo e 1 (2,38%) sabia apenas ler e escrever. Quanto à situação conjugal, 15 (35,71%) mulheres são casadas, 9 (21,42%) são solteiras, 9 (21,42%) possuem união estável, 5 (11,90%) são viúvas e 4 (9,52%) são divorciadas. Com relação ao número de parceiros sexuais ao longo da vida, de todas as participantes, 20 (47,61%) relataram ter tido apenas um parceiro, 12 (28,57%) dois parceiros, 1 (2,38%) três parceiros, 1 (2,38%) quatro parceiros, 2 (4,76%) cinco parceiros, 1 (2,38%) oito parceiros, 2 (4,76%) dez parceiros e 1 (2,38%) quinze parceiros. A maioria das entrevistadas (39 - 92,85%) tem filhos e uma parcela ínfima não têm filhos. No que se refere ao número de moradores na residência, a média foi de ± 4,1. Em relação à ocupação das participantes do presente estudo, 27 (64,28%) eram donas de casa, 2 (4,76%) aposentadas, das demais, 13 (30,95%) trabalhavam em outros ofícios, como doméstica, diarista e costureira. Com relação à renda mensal, a maioria (16 - 38,09%) possuía baixa renda, com valor mensal inferior a um salário mínimo, seguido por 11 (26,19%) com renda de um salário mínimo e 15 (35,71 %) com renda superior a um salário mínimo. Quando questionadas se recebiam algum tipo de benefício 34 (80,95%) responderam afirmativamente, destas, 27 (64,28%) recebiam o bolsa família, 3 (7,14%) pensão, 2 (4,76%) aposentadoria, 1 (2,38%) bolsa escola e 1 (2,38%) o benefício auxílio-doença. A análise do material empírico resultante da transcrição das entrevistas resultou em três categorias: “Percepção das usuárias sobre o exame citopatológico”; “Periodicidade na realização do exame preventivo do câncer de colo uterino” e “Os entraves para adesão das usuárias ao exame citopatológico”. . As mulheres demonstraram conhecimento apenas sobre a finalidade do exame citopatológico de prevenção ao câncer de colo uterino, mas desconheciam a necessidade de realizá-lo periodicamente. Conclusão: Evidenciou-se que mesmo sabendo da sua importância, a vergonha, o medo do resultado, a ausência de sintomas ginecológicos e o próprio descuido são fatores que se sobrepõem a tal importância de realização do exame preventivo. Os resultados sugerem a reflexão dos profissionais da ESF da pesquisa quanto à necessidade de adequar suas práticas as reais necessidades das usuárias que assistem.

Palavras-chave


Câncer uterino; Prevenção; Análise Qualitativa

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