Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Câncer de colo de útero: adesão das mulheres quanto ao exame citopatológico
Gisetti Corina Gomes Corina Gomes Brandão, Lysianne Pereira Alves, Linderlandio Vasconcelos Lima, Mikaela Kaliny Gomes Barbosa, Maria Eliza Xavier Magalhães, Vitória Regina Quirino de Araújo, Taciana da Costa Farias Almeida

Última alteração: 2015-12-03

Resumo


INTRODUÇÃO:O câncer de colo do útero é uma afecção iniciada com transformações intra-epiteliais progressivas que podem evoluir para um processo invasor num período que varia de 10 a 20 anos. A prática de medidas preventivas para detecção e tratamento precoce deste tipo de câncer constitui uma medida essencial em se tratando da realidade sociocultural da população feminina brasileira. No Brasil, é o terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres, perdendo apenas para o câncer de mama e o câncer colorretal, com uma estimativa de 15.590 novos casos para 2014 e com taxa de mortalidade de 5.430 em 2013. Sendo assim, a adoção do exame citopatológico revela-se como medida preventiva de bons resultados na luta contra o câncer, além de que coexistem facilidade e abrangência da sua realização, visto que se trata de um procedimento amplamente espalhado pelas unidades básicas de saúde do SUS por todo o país, o que inclui a cidade de Campina Grande, na Paraíba. Todavia, mesmo com essa grande cobertura do sistema público de saúde para a realização do Papanicolau, evidencia-se uma postura de não adesão ou até mesmo de indiferença quanto à realização deste exame.     OBJETIVO: Avaliar a não adesão das mulheres ao exame citopatológico em uma Unidade Básica de Saúde da Família.     MÉTODO: O estudo foi exploratório, descritivo, longitudinal retrospectivo, de série temporal, com abordagem quanti-qualitativa e caracterizado como pesquisa-ação. Assim, teve como campo de pesquisa a Unidade Básica de Saúde da Família Ricardo Amorim Guedes, Campina Grande-PB. Após a aplicação do cálculo amostral o estudo contou com um total de 286 mulheres para a amostra com ampliação para 293 na coleta de dados. Este número foi dividido por seis microáreas totalizando 48 mulheres por micro área. Os dados qualitativos foram analisados seguindo a técnica de Análise do Discurso do Sujeito Coletivo e os dados quantitativos foram avaliados através do Software Epi Info versão 3.5.2.     RESULTADOS: A amostra foi ampliada através do sorteio aleatório dos prontuários de 293 mulheres, destas 3 (1%) haviam falecido,  6 (2%) realizavam o exame citopatológico em outro serviço não especificado, 60 (20,3%) realizaram o exame em serviço particular de saúde, 33 (11,2%) mulheres não foram comunicadas sobre a pesquisa pelo agente comunitário da saúde, 41 (13,9%) não residiam mais na área de abrangência da pesquisa, 16 (5,4%) negaram fazer parte do estudo, 22 (7,5%) possuíam plano de saúde, 20 (6,8%) trabalhavam em tempo integral diurno, 3 (1%) estavam em processo de adoecimento, impossibilitadas de comparecer a UBSF, 53 (18%) mulheres não compareceram a entrevista e não alegaram justificativa e 23 (7,8%) alegaram realizar o exame na ESF local e compareceram a entrevista. Assim, com base na caracterização sociodemográfica: das 293 mulheres selecionadas na amostra, possuíam entre 35 a 44 anos de idade (35,83%) e 45 a 54 anos (35,15%); das 23 mulheres que responderam os demais questionamentos sociodemográficos, 26,1% possuíam ensino fundamental  incompleto; 26,1% ensino médio completo e 34,8% ensino médio incompleto. A maior parte das mulheres era casada 41,7%, possuindo renda familiar de 1 a 2 salários mínimos, 47,8% e 34,8% preferiram não declarar a renda, 30,4% estão desempregadas e 34,8% mulheres não trabalham e nem estudam. Na análise do discurso das mulheres entrevistadas, foi verificado três temas que norteiam a não adesão das mulheres ao exame citopatológico. O primeiro trata-se dos conhecimentos das mulheres sobre o Papanicolau, o segundo sobre as facetas existentes na procura pela prevenção do câncer de colo de útero (CCU) e o terceiro os motivos para a não realização do exame citopatológico. Dessa forma, os resultados nos mostraram que parte das mulheres possuíam conhecimentos sobre a prevenção e a importância do exame, no entanto, desconheciam a verdadeira utilidade deste, demonstrando um conhecimento equivocado. Nos discursos, foi possível observar quanto ao serviço,  algumas fragilidades que influenciam diretamente na construção da saúde da mulher, como a falha no registro dos prontuários e no acolhimento, o que dificultou consideravelmente na busca ativa e efetiva dessas mulheres para a realização do preventivo. Além desses entraves referentes ao serviço, verificou-se também questões de ordem pessoal que influenciam na não adesão das mulheres ao citopatológico, como o medo, a vergonha e a falta de tempo. O achado desse estudo, referente à falha observada no registro dos prontuários, resultou na participação nas entrevistas de mulheres que estavam realizando o exame na UBSF. Seus discursos nos mostraram grande satisfação com o serviço e os profissionais. Em contrapartida, outra parte das mulheres alegaram grande descontentamento com o serviço local, o que as motivaram a buscar por outros serviços para a realização do exame.     CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os resultados contribuíram para o reconhecimento dos profissionais sobre o conhecimento dessas mulheres em relação ao exame citopatológico e dessa forma auxiliar a inverter o quadro de não adesão destas ao preventivo. Fica claro que a prevenção do câncer de colo de útero perpassa por diversos fatores e, diante da análise dos resultados e da realização da pesquisa, foi possível constatar a necessidade de um maior empenho das equipes de saúde da família quanto à realização de ações educativas em saúde, por se constituírem como uma estratégia de grande valia para sensibilização e informação da população feminina quanto ao cuidado com a saúde, e a prevenção do câncer de colo de útero, visto se tratar de uma neoplasia bastante comum entre as mulheres. Outra necessidade, percebida durante esse estudo, é o devido funcionamento das diretrizes da Política Nacional de Humanização do SUS, no que diz respeito, principalmente, ao acolhimento. A falta de acolhimento foi um dos motivos citados pelas mulheres que interferem na realização do citológico, sendo, portanto, um fator fundamental a ser levado em conta quando se objetiva um vínculo entre a usuária e o serviço de saúde, por ser tão importante para a relação contínua e intransferível, bem como o devido funcionamento da Atenção Primária. Diante de tudo que foi exposto, é essencial que haja ações de educação em saúde associadas a uma reorganização nas questões burocráticas do serviço e capacitação da equipe, desde a pessoa que vigia a unidade até o profissional responsável pela realização do exame, visando melhorar o atendimento de saúde, bem como minimizar ou eliminar constrangimentos e entraves presentes que influenciam na não adesão ao citopatológico.  

Palavras-chave


Neoplasias do colo do útero; Esfregaço cervical; Saúde da mulherM

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