Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
O Diagnóstico Situacional Participativo como ferramenta de trabalho e fortalecimento de vínculo na Estratégia de Saúde da Família: um relato de experiência
Thaís dos Santos Sena, Mariane Tassiane de Vasconcelos Caetano, Jamille Neves Rangel Gomes Coimbra, Tamyris Paiva Carvalho Loureiro, Fábio Falcão Monteiro, Rosângela Maiolino, Eliane Viana, Margareth Garcia

Última alteração: 2015-10-29

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente trabalho objetiva apresentar e relatar a experiência de elaboração de um Diagnóstico Situacional Participativo do território adscrito de uma Equipe de Estratégia de Saúde da Família (EqSF), alocada no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria(CSEGSF/ENSP-Fiocruz), no Complexo de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Esta foi a primeira atividade realizada pela equipe de residentes multiprofissionais em saúde da família da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) junto à EqSF. A residência multiprofissional em saúde da família da ENSP tem como proposta disciplinar a construção do diagnóstico situacional do território adscrito da equipe na qual os residentes, composta por psicóloga, cirurgiã-dentista, nutricionista e enfermeira, estão inseridos. Esse diagnóstico  enquanto etapa do planejamento em saúde visa analisar as correlações entre o dinamismo territorial e os impactos e repercussões das políticas públicas implantadas. Tal fator somado à necessidade de conhecer a história das comunidades pertencentes ao território adscrito, fez as residentes pensarem na construção de um mapa falante feito em conjunto com os moradores locais. O trabalho também contou com a elaboração de um vídeo expositivo, no qual foram gravados depoimentos com os moradores apontados como mais antigos da região, lideranças comunitárias e profissionais da equipe. Além disso, o vídeo mostra o passo-a-passo da construção do mapa. Para levantamentos epidemiológicos, utilizou-se a coleta de dados oficias dos Sistemas de Informação, Placar da Saúde e Prontuário Eletrônico e dados não-oficiais dos cadernos de registro da equipe.  Todo o processo de construção do diagnóstico, desde a discussão da metodologia até os momentos de reflexão sobre os resultados obtidos, deu-se com a participação dos profissionais da equipe. DESENVOLVIMENTO: Descrevendo a experiência A construção do Diagnóstico Situacional compõe uma das atividades da Unidade de Aprendizado II - Identificação de Necessidades de Saúde, da Oferta/Utilização dos Serviços e das Equipes. Foi apresentado um roteiro definindo quais dados deveriam ser levantados no diagnóstico. Durante a disciplina realizávamos discussões e reflexões acerca da construção deste, bem como seus impactos e suas metodologias.  Para dar início à elaboração do trabalho, nós buscamos individualmente algumas literaturas e, a partir disso, construímos conjuntamente os objetivos e a maneira na qual desenvolveríamos todo o diagnóstico. Decidimos utilizar a metodologia do mapa falante para levantar as necessidades, vulnerabilidades e potencialidades do território de acordo com a percepção dos próprios moradores. Para o levantamento do processo histórico da comunidade, além da literatura, optamos em fazer entrevistas com as pessoas que residem há mais tempo. Essas foram sinalizadas pelos agentes comunitários de saúde da EqSF. Apesar das dificuldades de construção do trabalho com um grande número de participantes, a curiosidade e disposição dos moradores em participar favoreceu consideravelmente o processo. Os mapas foram feitos em dias diferentes devido às demandas do território. As maquetes ficaram expostas ao ar livre, em frente às Associações de Moradores, e a população era abordada aleatoriamente.   Resultados e impactos percebidos decorrentes da experiência. O diagnóstico é um método de análise da realidade em saúde. Essa análise não tem neutralidade, uma vez que está submetida aos propósitos que lhe deram origem. O propósito do nosso diagnóstico envolve tanto o de compor atividade prática-educativa do curso de Residência quanto o de atender a demanda institucional da Equipe envolvida. Com isso, é importante ressaltar as limitações que encontramos por sermos sujeitos ativos nesse processo. A construção deste trabalho se deu ao mesmo tempo em que nós, equipes de residentes, nos esforçávamos em construir uma maneira eficiente de trabalharmos juntas, de conseguirmos, apesar das nossas diferenças, compor um trabalho a partir de nossas apostas em comum. Acreditamos que tal postura nos permitiu realizar esse trabalho de maneira ética com cada sujeito que o compôs conosco, sempre com vistas a fornecer subsídio a ações planejadas em consonância com os desejos e necessidades dos trabalhadores e moradores. A realização do Diagnóstico propiciou a integração e aproximação entre nós e a EqSF. À medida que nós conhecíamos o trabalho de cada um podíamos entender melhor o processo de trabalho e assim assumir um papel dentro desta, o que possibilitou um fortalecimento do vínculo entre os profissionais em um curto espaço de tempo, tendo em vista que estávamos inseridos na EqSF há três meses. A metodologia do Mapa Falante permitiu, em alguns momentos, evidenciar a convergência de opiniões, como também apontar a divergência de olhares sobre uma mesma situação. Além de possuir a capacidade de captar a leitura da realidade a partir de suas múltiplas dimensões e abarca o conceito ampliado de saúde. Pudemos observar uma diferença relativa à presença ou ausência do tráfico de drogas. Na Comunidade A, onde não há presença do tráfico, o trabalho fluiu com mais tranquilidade e alegria. Percebemos que os participantes se sentiam empolgados com a atividade. Já na Comunidade B, a atuação do tráfico restringiu a participação dos moradores a conversas rápidas e recusa à confecção das placas de sinalização, entrevistas, gravações e filmagens. Um clima de tensão e desconfiança predominou. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Podemos perceber que, com tudo o que vivenciamos que esse processo passou por vários vieses, desde a cultura da comunidade, dos trabalhadores, de nós residentes; os conceitos e valores de cada sujeito; as diferentes profissões com diferentes olhares sobre um mesmo ponto e os interesses de todos os envolvidos. Este trabalho foi, e ainda é, um processo que se construiu e ganhou corpo junto com a equipe de residentes e a EqSF. Tal processo se configura para nós como uma aposta, na medida em que acreditamos no diagnóstico situacional como uma ferramenta potente para o planejamento das ações. Dessa maneira, pretendemos construir um plano de trabalho em conjunto, de modo a contemplar a criação de espaços efetivos de comunicação entre a equipe, bem como propor o planejamento semanal e mensal das ações a fim de organizar melhor o processo de trabalho. Além disso, pretendemos construir maior relação e proximidade da EqSF com toda a rede de equipamentos de apoio e referência através de parcerias, bem como fomentar a participação da EqSF nos espaços de gestão participativa. A elaboração do diagnóstico nos trouxe um aprendizado ímpar. A busca pelas informações, histórias e processos relativos à comunidade e à EqSF, apresentou para nós uma visão mais ampla dos seus desafios. As discussões em sala de aula e pesquisas na literatura forneceram subsídios para a reflexão da prática em serviço, cumprindo assim com a proposta da Residência.

Palavras-chave


Diagnóstico Situacional Participativo; estratégia de Saúde da Família; Residência Multiprofissional em Saúde da Família; Participação Popular; Trabalho em equipe

Referências


1. GIOVANELLA, L. Planejamento estratégico em saúde: uma discussão da abordagem de Mário Testa. Cadernos Saúde Pública, vol.6, nº.2, 1990.

 

2. JESUS, W. L. A. de; ASSIS, M. M. A. Revisão sistemática sobre o conceito de acesso nos serviços de saúde: contribuições do planejamento. Ciência e Saúde Coletiva; 15(1):161-170, jan. 2010.

 

3. LIMA, L. P. Diagnóstico e processo decisório nas políticas de saúde: as contribuições do CENDES/OPS e do pensamento estratégico de Mário Testa. Dissertação de Mestrado/Unicamp. Campinas, SP:[s.n.], 1995.

4. PEKELMAN, R. e SANTOS, A. A. Território e lugar - espaços de complexidade. 2009. Disponível em: <http://escoladegestores.mec.gov.br/site/8biblioteca/pdf/texto01_territorio_e_ lugar.pdf>. Acesso em: 02/07/2015.