Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A APROXIMAÇÃO DO REFERENCIAL TEÓRICO DE PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: UMA PRÁTICA TRANSFORMADORA
Adriane das Neves Silva, Benedito Carlos Cordeiro

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Considerando o processo de formação e as mudanças que o setor da saúde vem passando, tornou-se necessário um movimento de preparação e desenvolvimento de competências e habilidades que acompanhe esse crescimento. Refletir o cotidiano de trabalho nas unidades de saúde indo de encontro às propostas contidas na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (EPS). A proposta da política de EPS era romper com os modelos tradicionais utilizados, que afastavam os profissionais dos cursos de capacitação. Para produzir mudanças, era necessário que os profissionais fossem capazes de dialogar com as práticas de saúde e as concepções vigentes e problematizá-las no concreto do trabalho de cada equipe com vistas à construção de novos pactos de convivência e ações, aproximando os serviços de saúde dos conceitos de atenção integral, humanizada e de qualidade, da equidade e dos demais marcos do processo da reforma do Sistema Brasileiro de Saúde (CECCIM e FEUERWERKER, 2004). O estudo teve por objetivo fazer uma reflexão crítica dos conceitos de autonomia, dialogicidade e emancipação e as propostas da educação permanente em saúde, no sentido de sensibilizar e estimular os leitores a repensar o papel da educação permanente dos trabalhadores da saúde. A dicotomia entre a formação e a prática tem contribuído para uma assistência fragmentada, tecnicista. MÉTODO DE ESTUDO: Trata-se de uma reflexão teórica realizada durante o desenvolvimento de dissertação de mestrado defendida em 2014 intitulada: estudo comparativo entre o ensino presencial e a distância na educação permanente de Auxiliares e Técnicos de Enfermagem durante as atividades do Mestrado Profissional de Ensino na Saúde (MPES) da Universidade Federal Fluminense (UFF). Para o desenvolvimento do estudo utilizamos as obras de Paulo Freire como: Pedagogia da autonomia e Pedagogia do Oprimido. RESULTADOS: Considerando seu grande potencial transformador, a EPS tem provocado repercussões no modo de ensinar e aprender, indo ao encontro da pedagogia educacional de Paulo Freire que traz a implícita concepção de educação libertadora contrapondo ao que ele chama de educação bancária. Para Freire (1987), a educação bancária aliena e oprime o ser humano, uma vez que quem a formula, quem a detém tem dominação sobre os outros, sem interesse em propor desvelamento do mundo. Já a educação libertadora é capaz de transformar as pessoas de seres passivos a seres mais conscientes, mais livres e mais humanos. Propõe a inserção do homem no mundo, pois a inserção crítica, na realidade, permite aos seres um caráter reflexivo, implicando num constante ato de desvelamento da realidade. Quando Freire defende a relação dialógica, propõe problematizar a realidade, e não somente transmitir o saber pronto. O que leva o homem a uma reflexão do seu cotidiano, a partir de situações concretas que, na maioria das vezes, sem que o mesmo reflita, passa sem sua percepção. A educação é uma forma de intervenção no mundo (FREIRE, 2002). A EPS propõe a transformação das práticas de saúde, prevê o rompimento com o modelo hegemônico, que vem fragmentando o cuidado, à medida que traz o cotidiano dos trabalhadores, identificando os problemas e as necessidades da população assistida. Ao aproximar o mundo do trabalho ao da educação, os sujeitos são transformados, abrindo-se para o novo, assumindo uma postura crítica, reflexiva, comprometida e tecnicamente competente. Mas, para isso, é preciso deixar de ser o sujeito que vem sendo, que se encaixa em modelos prévios de ser profissional (CECCIM, 2005). Quando a Educação Permanente faz a aproximação do mundo, do trabalho e da educação, faz com que o aprendizado esteja baseado na reflexão crítica das práticas do cotidiano de trabalho vivenciado pelos profissionais, respeitando o conhecimento que eles trazem. Paulo Freire (2002) propõe o uso de uma metodologia que reconhece a importância do indivíduo construir sua própria história e vê que o indivíduo é capaz de autogerenciar seu processo de aprendizagem. Para isso, é preciso respeito a sua autonomia: “o ensinar exige respeito à autonomia e à dignidade de cada um” (FREIRE, 2002). Assim sendo, o conhecimento deve ser significativo a partir da contextualização da realidade desse profissional, levando em conta a experiência que ele traz. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Quando nos programas de EPS se propõe a reflexão crítica da prática, as propostas de EPS defendem a construção de uma educação emancipatória, que vai ao encontro da pedagogia freiriana, uma vez que as situações do cotidiano das unidades de saúde são problematizadas, contribuindo para o processo de conscientização e construção de uma práxis transformadora. Espera-se com a reflexão contribuir para a mudança de olhar na formação dos profissionais de saúde, para isso, será preciso romper com paradigmas tradicionais a partir de novas experiências de aprendizagem, que desperte no sujeito a relação do fazer e construir a partir da vivência do cotidiano de trabalho.  

Palavras-chave


Educação Permanente em Saúde; Educação Continuada; Políticas Públicas de Saúde.

Referências


CECCIM, RB. Educação Permanente em Saúde: desafio ambicioso e necessário. Interface – Comunicação, saúde e educação. V.9, n.16, p161-167, set. 2004/Fev 2005.

CECCIM, RB; FEUERWERKER, LCM. O Quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social. Physis: Rev. Saúde Colet. 2004; 14: 41-65.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Edição. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1987.

_______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.