Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A atenção e promoção de saúde em comunidades ribeirinhas - A experiência na Ilha do Combú
Maria Eunice Figueiredo Guedes, Fabiana Lima e Silva, Camila Neves da Silva, Cristianne Pinheiro Silva, Telma Cavalcante da Silva, Mariana Emi Yoshikawa Pamplona

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


A Saúde física e mental relaciona-se com os corpos sociais e as inúmeras relações humanas: afetivas, trabalhistas, culturais e suas consequências, pois os sujeitos que estão sendo submetidos a processos disciplinares, à modelação e submissão e às práticas sociais e dos vários profissionais de saúde vão constituindo hoje a chamada subjetividade moderna. Diversos grupos sociais lutam, ao longo dos anos, por uma assistência à saúde diferenciada e por políticas de prevenção e assistência, que não os veja simplesmente compatologias ou sintomas. Além de todas as necessidades da população, os indivíduos devem ser atendidos nos aspectos da promoção, prevenção, tratamento e reabilitação com ações que viabilizem a articulação da saúde com outras políticas públicas geradoras de qualidade de vida e melhoria dos níveis de saúde. Existe a necessidade de reflexão sobre a intervenção em saúde junto a comunidades ribeirinhas que têm maiores dificuldades de acesso a serviços, precariedade de retaguardas e que demandam intervenção e cuidado e estratégias por parte dos órgãos formadores e profissionais de como intervir de forma humanizada e garantindo cidadania aos usuários/as dos serviços. Este é nosso objetivo com o trabalho que desenvolvemos pelo projeto de extensão “Promovendo os Direitos Humanos, Saúde e Cidadania através do apoio e atenção a mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e sexual” desde 2013 que é financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Pará (PROEX/UFPA), e tem como uma das áreas de atuação as 05 micro áreas da comunidade da Ilha do Combú/ Belém. O trabalho é uma ampliação da intervenção tradicional em psicologia, buscando trabalhar os sujeitos sociais inseridos na sua realidade especifica de modo a desenvolver suas potencialidades e sua capacidade de lidar com as dificuldades. O primeiro passo foi buscar conhecer a realidade da comunidade, com as informações foi possível perceber a dificuldade de acesso a serviços básicos de água, coleta de lixo e saneamento, além de dificuldade na saúde e educação, visto que a maioria dos serviços só estavam disponíveis em Belém. Uma das ações desenvolvidas pelo projeto foi o atendimento psicológico, com moldes de plantão psicológico que consiste em uma escuta inicial e acolhimento das demandas trazidas pela pessoa, modalidade de atendimento esta realizada em algumas clínicas-escola, com essa escuta buscou-se verificar as principais demandas individuais e coletivas para estudar novas intervenções, além disso, essa foi solicitação dos profissionais de saúde da USF que presenciavam seus pacientes em sofrimento psicológico. Outra ação ainda no inicio é a formação de grupos de jovens, idosos e mulheres, tendo em vista que estes são os principais afetados pelo isolamento, falta de atividades profissionais e recreativas na comunidade, situação essa que por vezes levava no caso dos jovens ao envolvimento em festas, abuso de álcool e drogas; e por outro lado as mulheres e idosos com a situação eram levados a conviver com a solidão, ócio, levando-os a quadros depressivos. No sentido da violência e seus impactos as principais queixas se referiam a violência doméstica (ocorrendo de forma bastante velada), sexual (casos com crianças, visto que algumas vezes os pais saem de casa para trabalhar e as crianças ficam sozinhas e expostas a desconhecidos e até conhecidos que veem essa oportunidade para cometer o abuso), além de furtos, roubos e latrocínios cada vez mais presentes na realidade daquela comunidade. Em ambas as ações o foco é promover a cidadania através da atenção e prevenção das vitimas de violência, melhorando desta forma a saúde desta população, considerando a saúde como um bem estar biológico, psicológico e social. Baseamos nosso trabalho com grupos e oficinas visando promover a saúde mental e resgatar a autoestima de grupos socialmente vulneráveis. A metodologia de oficinas advém da reflexão já realizada largamente por grupos de universidades; profissionais de Psicologia, Pedagogia, Serviço Social, entre outros. Este instrumental metodológico (oficinas/trabalhos de grupo) mantem um diálogo com filosofia da pesquisa-ação e tem, na base teórica da Saúde coletiva alguns dos seus referenciais.

Palavras-chave


Violência, cidadania, atenção e prevenção, comunidades ribeirinhas

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