Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O “multi” nosso de cada dia: a experiência de residentes multiprofissionais no processo de trabalho de uma equipe de Saúde da Família no município do Rio de Janeiro
Tarcila Freitas de Sousa, Thaís Almeida Brasil, Sofia Yoneta, Ruan Rocha Silva, Danielle Rodrigues Siqueira, Lilian Miranda, Maria Lucia Freitas Santos

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Relato de experiência, de abordagem qualitativa, tipo descritivo, sobre processo de trabalho de uma equipe de Saúde da Família (eSF) sob o olhar de residentes multiprofissionais: Assistente Social, Cirurgiã-Dentista, Enfermeira, Nutricionista e Psicólogo. É um relato construído a partir de um trabalho intitulado “Diagnóstico Situacional em Saúde” apresentado ao Curso de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ) em Agosto de 2015. Buscamos reconhecer nossos papéis de residentes multiprofissionais e acompanhar os efeitos que produzimos. Nossa proposta se apoiou na proposição e no desenvolvimento de ferramentas para auxiliar a equipe a compreender seu processo de trabalho e adquirir bases mais sólidas para a decisão sobre suas próprias ações, contribuindo para seu processo de autonomia. Objetivo: Descrever a experiência, enquanto residentes multiprofissionais, da integração em um processo de trabalho de uma eSF. Descrição da Experiência: A Atenção Primária à Saúde (APS) é estruturada por um conjunto de ações de promoção e proteção à saúde, bem como, prevenção de agravos (BRASIL, 2012). Estas ações são conduzidas por meio de práticas gerenciais participativas e democráticas através do trabalho em equipe, dirigidas à população com territórios definidos. Na lógica da ESF, uma equipe multiprofissional, acompanha famílias identificando problemas de saúde, os riscos sociais existentes, os agravantes de saúde da comunidade, dentre outros. Entretanto, no trabalho multiprofissional também existem diversas dificuldades referentes à compreensão e a importância das ações em equipe, como a reunião semanal; a ausência de escuta e compartilhamento de trabalho e experiências entre profissionais; falta organização de ações e atividades. Mesmo com esses entraves, o trabalho multiprofissional proporciona a produção do cuidado em saúde, a troca de saberes entre profissionais com formações diferentes. Possibilita espaço para o desenvolvimento de ações em equipe como reuniões, discussão de casos, grupos, e planejamento. Em nossa vivência, a equipe acompanhada pelos residentes atualmente é composta por um Médico da Família, uma Enfermeira, uma técnica de Enfermagem, seis ACSs, um Dentista e um Auxiliar de Saúde Bucal. Para conhecer as peculiaridades de uma eSF, além de apoiar o processo de trabalho, propusemos dinâmicas para conhecer questões subjetivas do trabalho, muitas vezes veladas, mas que se materializavam no dia a dia, principalmente no âmbito das relações interprofissionais. Resultados e/ou Impactos: Desde Maio/2015, os residentes estão imersos na rotina de uma eSF. Através da imersão no serviço em saúde com a equipe, os residentes identificaram como desafio as relações interpessoais e profissionais entre os membros da eSF como pouca adesão dos profissionais na reunião, ausência da discussão de casos e troca de experiências, pouca escuta e articulação entre os integrantes da equipe, etc. Assim, estratégias começaram a ser desenvolvidas pelos residentes para contribuir no processo de trabalho no que diz respeito à relação interprofissional. Tentando superar os desafios quanto à coesão da equipe, na relação conosco, propusemos ferramentas de educação permanente; estratégias de ampliação de parcerias inter e intrasetoriais, avaliando sugestões e adotando tecnologias que aprimorem o processo de trabalho. Reuniões de equipe são espaços privilegiados para educação permanente, corresponsabilização, renegociação e planejamento, sendo o local de encontro muito valorizado e investido por nós. Com isso, propusemos, nessas reuniões, momentos de reflexões e dinâmicas. Na tentativa de contribuir para a consolidação desse espaço, realizamos pactos com todos os integrantes da equipe, como de ouvir o outro, inscrever-se para falar, respeitar as inscrições e se basear em pautas para o seu desenvolvimento. A consolidação da reunião de equipe permitiu um entendimento maior dos profissionais sobre sua importância para a organização e planejamento do trabalho, discussão e repasse de casos, entre outros. A partir disso, a primeira dinâmica realizada trazia à tona o questionamento sobre o que seria processo de trabalho, sua descrição e análise, ressaltando as ações positivas e negativas, bem como os efeitos do trabalho da equipe na composição do cuidado. Essa discussão permitiu que os profissionais defendessem seus pontos de vista, auxiliando na valorização do trabalho da equipe, ao mesmo tempo em que permitiu a reflexão sobre os desafios do trabalho multiprofissional. Depois dessa ação pontual surgiu a proposta de atividades, em médio prazo, na reunião. A estratégia proposta pelos residentes é consolidar oficinas de trabalho com temas demandados pela própria equipe, priorizando espaços de escuta que possibilitem interação. Outra forma de contribuir com a integração da equipe foià participação dos residentes no grupo de Hiperdia. Esse grupo era desenvolvido somente na forma de consultas coletivas para troca de receitas. Na tentativa de construir um espaço de vínculos, trocas, informações e educação permanente entre profissionais e usuários, propusemos que a troca de receitas acontecesse concomitantemente com uma roda de conversa nesses encontros mensais sobre temas diversos, tanto sobre os mitos e verdades sobre Diabetes e Hipertensão, quanto sobre estilo de vida, alimentação saudável, serviços de saúde e outros. E, nesse horizonte, nos empenhamos para iniciar um movimento de ressignificação do grupo. Observamos que a população ali presente mostrou-se, por ora, satisfeita com as atividades desenvolvidas dos temas diversos. A equipe planejou e desenvolveu a ação com objetivo definido, com a integração e envolvimento dos ACS e do educador físico. Conhecendo nossas limitações, assumindo os desafios a serem superados, nos contemplou ter realizado a proposta de forma organizada. Pudemos notar que um dos desafios encontrados pela equipe consiste em planejar os espaços de grupos e explorar suas potencialidades. Considerações Finais: O cuidado prestado à população se coloca condicionado à dinâmica de interação dos profissionais de uma eSF. Em uma equipe multiprofissional em saúde, espera-se integração e interação entre os membros, na dinâmica de co-responsabilização do cuidado com indivíduo, família e comunidade. Sabendo das exigências e sobrecarga do processo de trabalho desses profissionais na APS, particularmente aqueles inseridos na Saúde da Família, recomenda-se fortemente discutir sobre planejamento de ações voltadas para a Saúde do Trabalhador, tematizando o Sofrimento no Trabalho e criando formas coletivas de enfrentamento das dificuldades.

Palavras-chave


atenção básica; estratégia de saúde da família; processo de trabalho; trabalho em equipe

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional da Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

 

FURTADO, J.P. Equipes de referência: arranjo institucional para potencializar a colaboração entre disciplinas e profissões. Interface – Comunicação, Saúde, Educação. 11(22): 239-55, 2007.