Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Diálogos e práticas de educação em saúde: grupo de homens “Amigos da Ilha de Santa Terezinha”- Recife/PE
Patrícia Nelly Alves Meira Menezes

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


INTRODUÇÃO: A população masculina apresenta características peculiares no tocante ao cuidado com a própria saúde. A discussão a esse respeito encontra respaldo nos baixos índices da presença deste grupo populacional nas Unidades de Saúde na Atenção Básica refletindo elevadas prevalências de mortes e incapacidades por diversas causas, com destaque para as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e causas externas. A abordagem das questões de gênero amplia a compreensão dos motivos que favorecem a invisibilidade dos homens nos serviços e programas de atenção à saúde. A construção social da figura masculina como mais forte, viril e provedora também se encontra imbricada na condução do processo de trabalho das equipes de saúde. Um estudo realizado por COUTO, M.T. et al(2010) ressalta que quando os profissionais não reconhecem os homens como potenciais sujeitos de cuidado, deixam de estimulá-los às práticas de promoção e prevenção da saúde ou não reconhecem casos em que eles demonstram tais comportamentos. Esta invisibilidade é (re) construída no cotidiano mediante atitudes que atribuem à mulher a responsabilidade dos cuidados com a saúde da família. Assim, ao mesmo tempo em que a imagem da mulher está associada a tais cuidados, o homem é figurado como não cuidador, não aderente às práticas de promoção e prevenção. Por outro lado, torna-se relevante a corresponsabilidade na produção do cuidado, visto que a invisibilidade dos homens por parte dos profissionais também é reforçada pelos próprios usuários, à medida que não se reconhecem no primeiro nível da assistência. Portanto, conhecer as questões de gênero, torna-se imprescindível para reorientar as ações e estratégias na intenção de aproximar a população masculina das Unidades de Saúde atendendo às suas necessidades e fortalecendo o vínculo entre usuários e equipes.   Na intenção de subsidiar ações que atendam à realidade masculina segundo suas características, o Ministério da Saúde implantou em 2009 a POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM (PNAISH, MS-2009) conferindo ao Brasil o status de pioneiro em Política de Saúde do Homem em instância federal. Segundo a publicação PERFIL DA SITUAÇÃO DE SAÚDE DO HOMEM NO BRASIL (MS; FIOCRUZ, 2012), as diferenças nos padrões de comportamento de risco e proteção, de adoecer e de morrer atestam esta fragilidade sustentando a necessidade de planejamento e desenvolvimento de estratégias de educação em saúde, voltadas para os homens, além de reforçar a necessidade de sensibilização dos mesmos para o entendimento da sua própria fragilidade e responsabilidade com a sua saúde. Com isso, o presente trabalho objetivou a ampliação da participação da população masculina na temática do cuidado com a saúde a partir da formação de grupo de convivência na USF Ilha de Santa Terezinha- DS I- Recife. Método O grupo de Homens “Amigos da Ilha de Santa Terezinha” iniciou suas atividades em setembro de 2013. Contudo, vinha perdendo força devido à ausência e afastamento de alguns profissionais para conduzir o processo. Por convite das ACS na intenção reorganizar as atividades com a inserção das Práticas Corporais e Atividade Física iniciamos uma abordagem sistêmica do grupo com a inclusão de uma escuta mais qualificada que envolveu o reconhecimento, sentidos e significados da realidade dos usuários à luz das questões de gênero e de outros determinantes sociais que se relacionam com necessidades de saúde. A opção metodológica do presente trabalho foi o uso da técnica de Grupo Focal (GF), que de acordo com Carlini (1996), é uma atividade relativamente simples e rápida, que parece responder a contento à nova tendência de pesquisa em saúde, se deslocando da perspectiva do indivíduo para a do grupo social. As reuniões foram registradas em Diário de Campo (DC) sistematizado em três aspectos: Proposta do dia;Diário propriamente dito;Avaliação da atividade.   Resultados “A importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros, há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”. (Manoel de Barros) A análise do Grupo Focal (GF) suscitou que as aspirações do grupo extrapolam os interesses com a própria saúde, relacionando-se também com o bem-estar da comunidade. O grupo expressou suas expectativas quanto ao trabalho da equipe, e acrescentou que seria de grande valia se, além das orientações específicas repassadas sobre saúde, fossem incluídos os seguintes tópicos: Como agir em casos de necessidades de primeiros socorros;Orientações sobre serviços disponibilizados no CRAS e em quais situações devem ser solicitadas;Elaboração de oficinas a partir de habilidades profissionais que alguns integrantes possuem (marceneiro, cabeleireiro, cozinheiro) e que podem ser aproveitados por jovens e adultos da comunidade; Assim, instituímos o diálogo e a escuta como as principais ferramentas de condução do processo de trabalho estreitando a relação entre as proposições da equipe e o que realmente interessa ou faz sentido à vida da população assistida. Quanto aos Diários de Campo, a análise baseou-se na avaliação ao final de cada encontro na perspectiva da aceitação, participação e envolvimento dos usuários nas atividades propostas. É importante destacar que as práticas corporais passaram a preceder as demais atividades do grupo em todas as reuniões. Observamos que tal disponibilização refletiu em um maior interesse e adesão dos usuários às reuniões, pois para eles, este espaço representa a única oportunidade de realizar exercícios físicos com orientação. Qualificar ações de saúde requer disponibilidade de apreciação das subjetividades dos envolvidos, reconhecendo suas necessidades individuais e coletivas. A vivência ao longo dos dez encontros junto ao grupo nos permitiu descrever resultados que alimentam as possibilidades de desenvolvimento do capital social na saúde por meio de práticas simples, porém consistentes do ponto de vista educativo. Os resultados observados ainda nos permitem afirmar que as práticas corporais por meio de grupos inseridas no contexto sociocultural da comunidade contribuem significativamente para o fortalecimento das ações de saúde na direção da autonomia das pessoas e coletividades. Com tais resultados, as atividades servirão de exemplo e estímulo para a ampliação da experiência para outras equipes e comunidades do município. Considerações finais “Não se Cuida efetivamente de indivíduos sem cuidar de populações, e não há verdadeira saúde pública que não passe por um atento cuidado de cada um de seus sujeitos”. (José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres) Entre muitos, estes depoimentos de quatro usuários sedimentam o objetivo do trabalho desenvolvido: “Eu aproveito muito as conversas do grupo pra o meu dia a dia” (Manassés); “Aproxima a comunidade, melhora a saúde mental e aproxima os homens do posto” (Henrique); “Acho importante porque melhorou o relacionamento da gente na comunidade e isso melhora nossa saúde” (Romeu); “Já me cuidava antes por causa do problema de próstata. Mas, agora me cuido mais. Melhorou minha vida” (Lúcio).

Palavras-chave


Educação; Saúde; Saúde do Homem

Referências


1.COUTO, M.T. et al. El hombre en la atención primaria a la salud: discutiendo(in)visibilidad a partir de la perspectiva de género. Interface - Comunic., Saude, Educ.,

v.14, n.33, p.257-70, abr./jun. 2010.

2. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e diretrizes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas – Brasília : Ministério da Saúde, 2009.

3.Moura, Erly. Perfil da situação de saúde do homem no Brasil. Erly Moura./Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz - Instituto FernandesFigueira, 2012.128p.; il.

4.TRAD, Leny A. Bomfim. Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em experiências com o uso da técnica em pesquisas de saúde. Physis [online]. 2009, vol.19, n.3, pp. 777-796. ISSN 1809-4481.

5.O Cuidado e a Educação Popular em Saúde [recurso eletrônico] /Luciano Bezerra Gomes, organizador. – 1.ed. – Porto Alegre : Rede UNIDA, 2015.

p. 262 : il. – (Coleção Micropolítica do Trabalho e o Cuidado em Saúde)