Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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(Re)significados dos processos de ensinar e aprender na Universidade Aberta à Maturidade
Vitoria Regina Quirino de Araujo, Ana Luiza Morais de Azevedo, Manoel Freire de Oliveira Neto

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


APRESENTAÇÃO: Uma das etapas da vida mais desafiadora é o envelhecimento. Com suaspeculiaridades e complexidades ele deve ser compreendido de forma ampliada a partir dos aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos, sociais e das condições históricas, econômicas e políticas em que a pessoa idosa está inserida, em uma correspondência entre a concepção cultural da velhice e as ações voltadas às pessoas que estão envelhecendo. Contemporaneamente, importantes mudanças ocorrem no campo dos estudos do envelhecimento e no cotidiano dos idosos propiciando a esses, compreensão e motivação para a vivência da velhice com seus ganhos e perdas. Múltiplos espaços são oferecidos para a educação das pessoas idosas, inclusive no âmbito das universidades, sendo complementares para a formação especial e em perspectiva ampliada. Em diversos países, entre eles o Brasil, a universidade tem exercido a função de oferecer programas voltados àlócus educação de adultos maduros e idosos, sendo tais modalidades denominadas por Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI).  As UnATI inserem-se no conceito de educação permanente, proposto pela UNESCO, em que o aprendizado está presente ao longo da vida, de forma constante, interativa e cumulativa, oportunizando uma série de atividades intelectuais e culturais, as quais contribuem para o envelhecimento bem-sucedido. Nessa perspectiva, em 2008 foi criada Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) a Universidade Aberta à Maturidade (UAMA) com o objetivo de atender a demanda educativa de idosos e contribuir para a melhoria das capacidades pessoais, funcionais e sociais a partir da formação especial para a pessoa idosa. Objetivo: A partir da prática da docência com idosos de 60 a 91 anos, o objetivo pretendido com essa partilha é suscitar reflexões acerca do papel do docente. Ao professor cabe a missão de ensinar e ao aluno o dever de aprender, na vivência com os idosos, tais atribuições ganham re (significados) e os alunos também ensinam aos professores. METODOLOGIA: A característica metodológica da UAMA/UEPB oportuniza a formação especial nas várias áreas do conhecimento a turmas formadas exclusivamente por pessoas idosas. Atualmente, quatro turmas com cerca de cinquenta alunos de 60 a 90 anos exercitam a troca de conhecimento, socialização, reflexões e vivências acerca do envelhecimento, constituindo-se em uma proposta que possibilita a valorização da sabedoria acumulada e a inclusão social da pessoa idosa. Em um período de dois anos (quatro semestres), os idosos vivenciam atividades teóricas, práticas e extracurriculares a partir das seguintes disciplinas: Eixo 1) Saúde e Qualidade de Vida: Educação para Saúde Integral, Psicogerontologia, Qualidade de Vida e Envelhecimento Ativo, Biogerontologia, Nutrição, Atividade Física na Terceira Idade, Fisiogerontologia, Farmacologia para Terceira Idade. Eixo 2) Educação e Sociedade: Cultura e Cidadania e Arte e Lazer: Educação e Meio Ambiente, Leitura e Produção de Textos, Filosofia, Cultura e Cidadania, Língua Estrangeira, Turismo na Terceira Idade, Direito do Idoso, História e Conhecimentos Gerais da Atualidade. Eixo 3) Arte e Lazer (Atividades Extracurriculares/Opcionais): Ginástica Funcional, Dança, Coral, Visitas Culturais, Passeios e Excursões, Arte e Cultura. Eixo 4) Conclusão de Curso: Memorial Descritivo. Para o cumprimento do conteúdo programático a UAMA conta com um grupo de docentes da Universidade Estadual da Paraíba, interessados nos diversos aspectos referentes ao estudo do processo de envelhecimento, que voluntariamente e contando com o aval dos respectivos departamentos, cedem parte de suas cargas horárias para o desenvolvimento das atividades com os idosos. RESULTADOS OBTIDOS: A vivência com os idosos da Universidade Aberta à Maturidade por suas características de formação especial possibilitam a ampliação da compreensão acerca da docência. Nessa experiência, a função docente cujo objetivo é predominantemente o ensino, tem identificação com o conceito de Ensinagem das teorias da Psicologia da Aprendizagem que une e (res) significa os processos de ensinar e aprender. Na prática docente com os idosos é possível vivenciar e compartilhar conceitos, teorias e temáticas do envelhecimento, tendo o respaldo das situações por eles vividas, indo, no entanto, para além da visão científica que direciona os aspectos referentes ao processo de envelhecer. Com eles o saber científico, supostamente o único constituído, autorizado e comprovado pode ser acompanhado e confrontado pelo conhecimento vivido, sentido, percebido, sem as amarras da ciência e com a validação das experiências ao longo do tempo. Na vivência com os idosos a relação professor e aluno é naturalmente reelaborada, e a tendência tradicional de considerar o professor como a peça central do processo é redefinida. Na vivência de ensinar as pessoas idosas o professor tem o papel de facilitador e condutor, despertando a aprendizagem já presente na vivência do educando. A relação educativa estabelecida é democrática e participativa e em uma via de mão dupla. A aula enquanto modelo didático assume características diferenciadas sendo um lugar de encontro, de interação social e intercâmbio de experiências e de gratidão favorecendo a construção de um conhecimento social e culturalmente compartilhado. Pela vida vivida, com seus erros e acertos, o conceito da aprendizagem ganha significados. Os novos conhecimentos somam-se aos já existentes e despertam a vontade de aprender, sendo essa o principal elemento da aprendizagem. O aprendizado ganha valores práticos e relevantes para a vida do aluno idoso, e a prática docente se revela em uma rica e desafiadora oportunidade de troca recíproca em que ensinar assume sentidos e significados próprios. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A vivência na docência com os idosos é uma intrigante reelaboração dos aspectos relativos ao ensino e aprendizagem. É um desafiador exercício para a profissão docente, de empatia, de inspiração e de reconhecimento à sabedoria acumulada. É a revalorização dos momentos vividos, das experiências, desde as complexas às mais simples, com a compreensão de que todas são necessárias para a construção do ser e de quem se pretende vir a ser. Se por vezes há restrições nas habilidades físicas e/ou mentais, que podem se configurar como um aspecto limitante para alguns seres que ilusoriamente perseguem o mito da juventude eterna, o contraponto que os idosos oferecem com generosidade é a profusão de legitimidade, autenticidade, ousadia, vontade de aprender e coragem de viver o hoje. Com os idosos, ensinamos, aprendemos e aprendemos a ensinar. Para além de conteúdos estabelecidos, aprendemos sobre a vida e a vivê-la de forma desafiadora e leve, intensa e prazerosa.  

Palavras-chave


Educação Permanente; Educação Inclusiva; Universidades Abertas

Referências


  1. CACHIONI, Meire, ORDONEZ Tiago Nascimento, BATISTONI Samila Sathler Tavares, LIMA-SILVA Thaís Bento. Metodologias e Estratégias Pedagógicas utilizadas por Educadores de uma Universidade Aberta à Terceira Idade. Educ. Real,  Porto Alegre, v. 40, n. 1, p. 81-103, Mar.  2015. Disponível em http://www.seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/45741
  2. CACHIONI, Meire; AGUILAR, Luiz Enrique. A Convivência com Pessoas Idosas em Instituições de Ensino Superior: a percepção de alunos da graduação e funcionários. Revista Kairós Gerontologia, São Paulo, v. 11, p. 79-104, 2008.
  3. CACHIONI, Meire; ORDONEZ, Tiago Nascimento. Universidade da Terceira Idade. In: FREITAS, Elizabete Viana de; PY, Ligia (Org.). Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011, v. 1. P. 1655-1663.
  4. CACHIONI, Meire; PALMA, Lucia Terezinha Saccomori. A Educação Permanente: perspectiva para o trabalho com o adulto maduro e o idoso. In: FREITAS, Elizabete Viana de (Org.). Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro, 2006. P. 1456-1465.
  5. SIQUEIRA  R. L, BOTELHO M. I. V., COELHO F. M. G. A velhice: algumas considerações teóricas e conceituais. Ciências e Saúde Coletiva vol.7 no.4  Rio de Janeiro  2002