Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A HISTORICIDADE DA CONSTRUÇÃO DO CUIDADO ONCOLÓGICO NO CEARÁ: A PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Mariana Pompílio Gomes Cabral, Evelyne Viana de Franca, Tulio Batista Franco, Maria Salete Bessa Jorge

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer configura uma das principais causas de morbimortalidade no mundo, com aproximadamente 14 milhões de novos casos e 8,2 milhões de mortes relacionadas ao câncer em 2012. Face a essa perspectiva, é possível identificar múltiplas estratégias de controle do câncer, visto que o eixo oncológico tem se tornado essencial no contexto da saúde pública, haja vista as decorrentes mudanças no perfil demográfico do país, o que atenua a ocorrência das doenças infectocontagiosas e coloca as doenças crônicas como centro de atenção dos problemas atuais da população brasileira. Assim, esta tendência de crescimento do câncer no país convoca-nos à problematização do papel/lugar da assistência oncológica diante dessa realidade posta, desafiando, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) a ampliar suas ações de promoção da saúde, prevenção e diagnóstico precoce, a fim de reduzir os índices de incidência e mortalidade causados pelo câncer, além de propiciar qualidade de vida ao paciente. Dessa forma, torna-se fundamental a compreensão da historicidade do cuidado na rede oncológica refletindo sobre os gargalos existentes no processo terapêutico e as dificuldades de regulação e de articulação entre as redes, evidenciando a inexistência de resultados na saúde da população. Neste sentido, objetiva-se compreender a historicidade do cuidado oncológico na rede de atenção à saúde. O método respalda-se numa abordagem qualitativa com pretensão cartográfica, com o uso da caixa de ferramentas, como o conjunto de saberes e práticas que se dispõe para a ação dos atos de saúde, buscando a compreensão acerca dos processos que movimentam a produção subjetiva e a historicidade da construção da rede temática em oncologia, através de entrevistas em profundidade, observação e diário de campo com informantes-chave no município de Fortaleza-CE. Este estudo está inserido no projeto de pesquisa “Observatório Nacional da produção de cuidado em diferentes modalidades à luz do processo de implantação das Redes Temáticas de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde: avalia quem pede, quem faz e quem usa”, financiado pela ICT/FUNCAP. De acordo com o determinado, cumpriram-se os preceitos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos conforme propósitos da Resolução 466/2012 com parecer 560.597 de 23/03/2014, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé. Para o desenvolvimento desse escrito sobre a historicidade da rede oncológica, tem-se como base a articulação entre dois pilares: a construção das narrativas dos atores pioneiros, praticantes e construtores da rede temática por meio de orientação cartográfica; e o histórico de políticas nacionais da Rede de Atenção à Saúde em estudo que preconiza princípios e diretrizes para a garantia do acesso e a qualidade da assistência a pessoas com câncer. A história da construção da(s) rede(s) oncológicas(s) no Brasil foi elucidada mediante as narrativas contadas por protagonistas na construção da rede oncológica em Fortaleza/CE. O eixo oncológico tem se tornado de importância incontestável no contexto da saúde pública, desvelando a historicidade social como essencial e consubstancial para compreender a construção do cuidado oncológico de forma minuciosa, didática e contextualizada. Assim, tem-se percebido que, por exemplificações decorrentes nas falas que o INCA, em consonância com a Política Nacional de Atenção Oncológica do Sistema Único de Saúde (SUS), vem promovendo a superação da descontinuidade da atenção, dispersa, inviável e segmentada, por meio de ações de saúde articuladas que promovam futuramente uma atenção oncológica de qualidade. Além disso, tais narrativas demarcam aspectos genealógicos da rede de atenção oncológica no estado do Ceará, em que o câncer tem se destacado nas políticas e serviços de saúde do estado somente a partir de meados da década de 50 e no final do século XX. A preocupação com o bem-estar da sociedade e com o alarmante crescimento do câncer no Estado, principalmente por causa das iniquidades em saúde entre grupos e indivíduos, inquietou um grupo de médicos a prestar atendimento aos doentes de câncer e promover a cancerologia no Ceará. Contudo, não há uma compreensão ainda ampla do que seria a articulação em rede preconizada pelo Ministério da Saúde. Na concepção adotada, o aspecto de funcionamento é reduzido ao compartilhamento de informações, diagnósticos e instrumentos ambulatoriais entre as unidades de saúde especializadas. Assim, é possível perceber que ainda não há uma articulação concreta e implantada na Rede de Atenção Oncológica no Ceará. O que se desvela é um processo em construção, pois alguns equipamentos ainda estão sendo criados e implantados, visto que o que tem impulsionado tal processo de trabalho de atenção em redes é o rastreamento de câncer de mama. Portanto, os informantes-chave, protagonistas do caminhar ascendente da atenção oncológica no estado, compreendem que o câncer e a produção de redes significam entender a historicidade e interpretar subjetividades daquilo que se caminha no fazer cotidiano a fim da efetividade do trabalho cooperativo em rede. Ademais, as narrativas desvelam projetos de construção e implantação de serviços oncológicos especializados e articulados, como Centros de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) e Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON), entre os diversos municípios e a capital do Estado por meio de incentivos públicos e privados para que a rede oncológica se formate universal e acessível, e se debruce de acordo com a singularidade da doença, pois, diante disso,se espera oferecer propostas de prevenção da doença, diagnóstico precoce, tratamento e, principalmente, promoção de saúde a fim de almejar resultados de saúde semelhantes aos países desenvolvidos. Como se vê, há um processo bastante vivo de construção e esforço para se desenhar uma rede de atenção no estado, buscando alternativas para a produção do cuidado oncológico. Isso de maneira a garantir os princípios do Sistema Único de Saúde de um jeito resolutivo e que se espalhe nas ramificações próprias da vivência humana enquanto atividade de saúde. Destarte, é importante notar a experiência viva de implantação de um sistema a partir da historicidade construída durante décadas de um objeto específico, uma tecnologia de cuidado com o câncer. Assim, ratifica-se que compreender a historicidade do cuidado oncológico na rede de atenção à saúde, significados, sentidos e subjetividades desvelarão os caminhos do fazer no cotidiano.

Palavras-chave


historicidade;cuidado oncológico; profissionais de saúde