Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Vivência Interprofissional no Programa de Educação para o Trabalho - Redes de Atenção à Saúde: PET-RAS
Vitoria Regina Quirino de Araujo, Taciana da Costa Farias Almeida, Gisetti Corina Gomes Brandão
Última alteração: 2015-11-03
Resumo
APRESENTAÇÃO: Todos conhecemos a clássica formação em "V" dos voos das aves. Por que elas escolhem voar dessa forma? Para os estudiosos do comportamento das aves, na formação em “V”, o grupo inteiro consegue voar cerca de 70% a mais do que se cada ave voasse isoladamente. À medida que cada ave bate suas asas, ela cria uma sustentação para a seguinte. Quando a ave líder se cansa, ela reveza, indo para a fim do “V” e uma outra assume a liderança. As aves de trás grasnam para encorajar as da frente a manterem o ritmo e a velocidade. E assim elas seguem voando! Com a compreensão de que o trabalho em equipe é enriquecedor à todos e que aprofundar as discussões acerca de educação, saúde e trabalho são necessárias para a formação acadêmica, em março de 2013 começamos os primeiros contatos acadêmicos para a elaboração do Projeto do Programa de Educação para o Trabalho - Redes de Atenção à Saúde em uma parceria entre a Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e a Secretaria de Saúde de Campina Grande – SMS/CG, na Paraíba. OBJETIVOS: contribuir para o processo de formação dos alunos dos cursos de Enfermagem, Psicologia e Medicina da UFCG e Fisioterapia da UEPB, e qualificar por meio dos grupos de aprendizagem tutoriais os profissionais da Rede de Atenção à Saúde do município de Campina Grande, na Paraíba. Nessa proposta conjunta, fomos capitaneados por uma docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande, que demonstrou desde o início da sua atuação como coordenadora a sua capacidade de liderança, motivação e organização em todas as atividades desenvolvidas. De forma tranquila e fluida elaboramos o Projeto a ser submetido ao Ministério da Saúde e fomos contemplados em duas linhas: Doenças Crônicas (com ênfase em câncer de mama e colo do útero) e a linha SOS – Urgência e Emergência. Esse investimento acadêmico oportunizou desafios, oportunidades e conquistas, inicialmente para as tutoras, mas que se estendeu para a equipe de preceptoras, acadêmicos e por conseguinte para as usuárias e usuários das unidades de saúde de atuação do PET-RAS. No campo profissional, cada um de nós, saiu da zona de conforto, da visão e atuação disciplinar e exclusivista. O papel de cada uma das tutoras, teve início com o planejamento e elaboração do projeto inicial, teve prosseguimento com a redação do edital de seleção, seleção dos preceptores e alunos, definições acerca da metodologia do projeto. METODOLOGIA: Todas as questões operacionais para tal voo foram partilhadas por nós e a partir das vivências individuais, coletivamente definimos a metodologia do nosso PET-RAS que foi um dos diferenciais dessa vivência cheia de desafios. E esses foram muitos. Iniciamos essa experiência com 16 alunos do curso de Enfermagem, 11 de Fisioterapia, 12 de Medicina e 8 de Psicologia; 13 preceptoras dos mesmos cursos, e três tutoras; o que nos tornou uma equipe de 63 pessoas, com metas e objetivos a serem alcançados. A partir da articulação com a Secretaria de Saúde no início do projeto foi possível a escolha e distribuição das unidades de saúde a serem contempladas com o PET-RAS, e para tal, contamos com a disponibilidade dos preceptores da Rede de Atenção em Saúde para a efetivação das ações como monitoramento da realidade do serviço e participação da equipe do PET-RAS. Como proposta metodológica, optamos por promover rodízios periódicos a cada dois meses, de forma que cada acadêmico pudesse vivenciar o fluxo e as diversas realidades da Rede de Atenção à Saúde. Inicialmente, os alunos foram destinados às unidades de saúde designadas aleatoriamente por nós tutoras. Nelas, cada aluno, em cada unidade denominada como unidade de origem, permaneceu por dois meses, em um período de aculturação com as demandas do serviço, identificação das maiores necessidades das unidades, engajamento com a equipe, no desenvolvimento de ações diversificadas, como rodas de conversa, palestras, dinâmicas, fortalecimento das campanhas e outras ações pertinentes às áreas dos acadêmicos, com vistas a oferecer aos profissionais dos serviços e aos usuários ações em educação em saúde e/ou intervenções próprias de cada categoria. Após dois meses, os acadêmicos faziam rodízio para outra unidade, a fim de conhecer in loco todo o funcionamento da Rede de Atenção em Saúde e as demandas de cada unidade de acordo com o seu nível de complexidade. Embora o estudante estivesse em realização de rodízio, havia uma vinculação com a unidade de origem, uma vez que na sua vivência inicial ele foi orientado por nós tutoras, a identificar as questões que pudessem ser problematizadas a fim de ser gerado um projeto de pesquisa em tal unidade. RESULTADOS: Nesse sentido, de forma conjunta, discentes, preceptoras as e tutoras, realizamos diversas atividades de forma interprofissional nas unidades, acompanhamento de ações educativas até intervenções propriamente ditas, além de elaborarmos 10 projetos de pesquisa, os quais obtiveram aprovação nos Comitês de Ética das duas Instituições de Ensino, os quais tinham como objetivos principais a identificação de problemas passíveis de serem sanados a partir de intervenções, com vistas a transformação da realidade da unidade de origem, sendo também estas as contribuições do PET-RAS. Entre as atividades, nós tutoras acompanhamos as atividades desenvolvidas pelas preceptoras e acadêmicos em encontros periódicos, fazemos as avaliações das ações e encaminhamentos dos tutoriais para identificação das questões a serem problematizadas e pesquisadas. Fomos ainda responsáveis pela elaboração conjunta de projetos de pesquisa, correções, ajustes e envio para os Comitês de Ética. Nos responsabilizamos também pela avaliação dos resultados obtidos e sua socialização em eventos e publicações em revistas. Assim a partir da metodologia por nós adotada, a equipe do PET/UFCG/UEPB/SMS-CG vivenciou o ensino, extensão e pesquisa, a partir dos rodízios nas diversas Unidades de Saúde, nos diferentes níveis de complexidade: Atenção Básica, (quatro UBSF), Unidades de Saúde como SAMU e UPA, Unidades Hospitalares, ala cirúrgica feminina, setor de quimioterapia e UTI de um Hospital Universitário. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Dessa forma, o fluxo da Rede foi vivenciado, pesquisado e compreendido. As diferentes realidades foram vistas e a prática da Educação para o Trabalho foi vivida por cada um, individual e coletivamente, disciplinar e interprofissionalmente, o que enriqueceu ainda mais tal experiência. Os acadêmicos de Enfermagem, Fisioterapia, Medicina e Psicologia em sua permanência nas unidades puderam vivenciar a realidade local, os êxitos e necessidades do processo de trabalho, vivenciaram o trabalho em equipe, foram estimulados a aliar o conhecimento teórico e técnicos à prática e em condições não necessariamente favoráveis. A oportunidade da vivência interprofissional e, por consequência, o respectivo conhecimento e valorização das diversas áreas, fortaleceu o grupo a partir da compreensão de que o êxito é resultado do esforço de todos. Cada um dos representantes dos cursos contribuiu com seus conhecimentos e áreas de atuação, e em linhas gerais, todos exercitamos sobretudo, a aprendizagem e o respeito mútuo dos conhecimentos, competências e habilidades. Assim sendo, o árduo e desafiador trabalho por ter sido construído e vivido coletivamente, possibilitou esforços conjuntos para a sustentação, o revezamento da liderança, o estímulo ao grupo, aspectos necessários para o êxito da proposta que fluiu em harmonia como o voo das aves.
Palavras-chave
Interprofissionalidade; Programa Educação para o Trabalho; Redes de Atenção à Saúde
Referências
1. Morin A. Pesquisa-ação integral e sistêmica: uma antropedagogia renovada. Rio de Janeiro. DP&A. 2004. p.55.
2. Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Belo Horizonte, Escola de Saúde Pública de Minas Gerais, 2007.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 64 p. – (Série B. Textos Básicos de Saúde) (Série Pactos pela Saúde 2006; v. 9)13. Brasil.
4. Organización Panamericana de la salud. Redes integradas de serviços de la salud: conceptos, opciones de política y haja de ruta par su implantación em lãs Américas. Washington: HSS, Organización Panamericana de la salud, OMS; 2008. (Série La Renovación de la Atención Primaria de la Salud em lãs Americas).