Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
Pesquisa-intervenção com moradores do município de Santiago/RS: cartografando percepções sobre o SUS e a corresponsabilização do cuidado
Vanessa Rauter de Oliveira, Vanessa do Nascimento Silveira, Crischima Lunardi Vacht

Última alteração: 2015-11-02

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente trabalho busca refletir sobre a percepção de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) do município de Santiago/RS. OBJETIVOS: Dar visibilidade ao ato público realizado no município de Santiago/RS durante o estágio de vivências do VER-SUS/Brasil, edição inverno de 2015.   METODOLOGIA: Esta intervenção estava contemplada do cronograma do VER-SUS Santiago, como uma das atividades de fechamento do estágio de vivencias. As explanações, vídeos e visitas ao longo da semana deram-nos subsidio para planejamento e elaboração do ato público. Com a proximidade da atividade, ficamos um pouco apreensivos, pois a realização da atividade seria de responsabilidade dos viventes. Eis a hora que colocar em prática o que fora aprendido. Mas como colocar do papel tantos sentimentos e emoções? Para realização do ato público, nos dividimos em dois grupos. Nosso grupo ficou responsável por questionar as pessoas sobre funcionamento do SUS e a corresponsabilização do cuidado. Ocupamos a praça do centro da cidade com cartazes que traziam questionamentos e mensagens: “Que nota você dá para SUS?”, “O que você prefere: SUS ou Plano Particular?”, “Você costuma se auto-medicar?”, “Você sabe o que é Conferência  Municipal de Saúde?”, “Quando você procura o médico?”, “Você tem medo de ficar doente?”, “Por que o SUS não funciona?”, “Eu cuido de mim? Eu cuido da minha saúde? Quem é responsável pelo meu cuidado?”, “O médico do SUS é ruim?”, “Você confia no SUS? Faz uso dele?”, “Somente o atendimento médico dá resolutividade ao seu problema?” Ou outro profissional contribui?”, “O que você percebe da saúde?” etc. Fixamos cartazes em um dos acessos da praça, colamos cartazes no chão, nos bancos, e dispusemos alguns como placas. Sentamos ao lado das pessoas na praça, nos colocamos nas rodas de conversa e abordávamos as pessoas que passavam. Para além desses cartazes, reservamos um espaço para que as pessoas pudessem deixar registrado (àquelas que se sentissem à vontade), dispomos de cartazes e um envelope que convidava as pessoas a deixarem um recado para o SUS, para os médicos, agentes comunitários de saúde e estagiários. Algumas pessoas deixaram recados tais como: “Falta humanização as pessoas nos atendem com muita arrogância, tanto médicos, como técnico no Pronto Socorro Municipal” (SIC), outro refere “O atendimento básico do SUS funciona, apenas faltam especialidades. O SUS como programa de saúde é ótimo, apenas falta ser executado como tal. Falta incentivo financeiro e humanidade por alguns profissionais” (SIC), “Eu quero que o SUS melhore mais” (SIC), relatos de usuários do serviço de saúde do município de Santiago/RS. Metodologia: Durante o planejamento da atividade, não dispúnhamos de referencial teórico em mãos, mas tínhamos subsídios de oito dias de vivência e questionamentos e inquietudes que não caberiam dos cartazes. Diante da multiplicidade de saberes, cabeças pensantes e corações pulsantes, sem saber estávamos construindo uma cartografia. Questiono-me se fomos ao encontro da metodologia cartográfica, ou ela que teriam nos encontrado? Segundo Lourau (2004) citado por Barros (2013), a cartografia, consiste inicialmente, em acompanhar os processos e devires que compõem um campo social, que é a realidade, em contínuo arranjo e desarranjo. Não se trata de interpretar ou construir um discurso explicativo, mas evidenciar elementos que compõem um conjunto. No caso das ciências humanas acrescenta-se a isso a ideia de interpretação como operação de deciframento. A análise transforma-se em hermenêutica, como ciência da interpretação do que está oculto. Analisar é, assim, um procedimento de multiplicação de sentidos e inaugurador de novos problemas. Assim, o modo como a pesquisa se organiza altera o sentido da análise. A análise se faz por problematização e tem dimensão participativa. Realizar uma cartografia significa mapear, obter um panorama sobre todos os aspectos que compõem a dinâmica de um território (que vai além do território-solo), ou seja, uma análise situacional sobre aspectos culturais, econômicos, sociais, sanitários e epidemiológicos, que interferem no processo saúde-doença de uma comunidade. Fonte: Fundação Estatal Saúde da Família – FESF SUS. RESULTADOS: Despidos de formalidades e preconceitos, fomos a praça e fixamos nossos cartazes. Começava ali nossa intervenção, sem antes mesmo de fixar todos os cartazes, as pessoas já estavam lendo nossos questionamentos, víamos olhares questionadores, desaprovadores, após a leitura dos cartazes, muitos mudavam de assunto e nossos questionamentos viravam pauta, até mesmo naqueles rostos que não víamos expressão, sabíamos que de uma forma ou de outra estaríamos intervindo; muitos deles não pararam para conversar conosco, mas só o fato de levantar tais questionamentos já faz com que as pessoas tornem-se pessoas mais críticas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Tal operação de análise implica a desestabilização das formas instituídas e acessa o plano de forças a partir do qual a realidade se constitui, devolvendo-a ao plano de sua produção, que é o plano coletivo, hetero­gêneo e heterogenético, que experimenta, incessantemente, diferenciação. E é aí que se efetiva a análise como experiência clínica, ou seja, como experimentação no plano coletivo das forças, que não se restringe ao domínio das pessoalidades (BARROS, 2013). O estágio do VER-SUS é mais que um período de vivência, e sim uma imersão no sistema de saúde. Ao final no estágio, considerávamos detentores máximos do saber, convictos de que somente nossas verdades tinham valia. Mas o VER-SUS é uma constante construção, desconstrução e reconstrução de conceitos, significados e emoções. Entrevistamos “os anciãos da cidade” um grupo de senhores que estava na praça, professores, agente de saúde, etc. Independente da profissão/formação todos eram leigos, assim como nós, antes que ingressarmos no VER-SUS. Quando falávamos sobre as “filas do SUS”, um dos senhores disse que tinha medo de ter que depender do SUS, porque as pessoas morriam nas filas. Questionamos se ele conheceu alguém que havia “morrido da fila do SUS” e ele respondeu “Mas aparece nos jornais, na TV!” e me questionou ao final “Tu não acredita em repórter?”. Uma agente de saúde nos relatou que tem plano de saúde e teme ter que usar o SUS.  Segundo Deleuze (2004), toda instituição impõe ao nosso corpo mesmo em suas estruturas involuntárias, uma série de modelos, e concebe à nossa inteligência um saber, uma possibilidade de previsão como projeto. À luz da análise da intervenção, percebemos o quão limitado é nosso entendimento sobre o SUS/Saúde e sobre a corresponsabilização do cuidado em saúde. É preciso que a população tome conhecimento do funcionamento do SUS e sinta-se inclusa, fazendo uso de todos os seus serviços e não somente de vacinas (como a grande maioria), bem como participando dos espaços de controle social.   REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARROS, Letícia Maria Renault de  and  BARROS, Maria Elizabeth Barros de. O problema da análise em pesquisa cartográfica. Fractal, Rev. Psicol. [online]. 2013, vol.25, n.2, pp. 373-390. ISSN 1984-0292.  Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1984-0292201300020001>. Acesso em 22 de set. de 2013.   DELEUZE, Gilles. L’îledéserte. Textes et entretiens. 1953-1974. Paris: LesÉditions de Minuit, 2004.   Fundação Estatal Saúde da Família – FESF SUS. Mas o que seria isso... CAR-TO-GRA-FAR em saúde? Disponível em: http://sistemas.fesfsus.ba.gov.br/guiatrabalhador/TrabESF/Produto2-1.html

Palavras-chave


VERSUS; PESQUISA-INTERVENÇÃO; CARTOGRAFIA

Referências


BARROS, Letícia Maria Renault de  and  BARROS, Maria Elizabeth Barros de. O problema da análise em pesquisa cartográfica. Fractal, Rev. Psicol. [online]. 2013, vol.25, n.2, pp. 373-390. ISSN 1984-0292.  Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1984-0292201300020001>. Acesso em 22 de set. de 2013.

 

DELEUZE, Gilles. L’île déserte. Textes et entretiens. 1953-1974. Paris: Les Éditions de Minuit, 2004.

 

Fundação Estatal Saúde da Família – FESF SUS. Mas o que seria isso... CAR-TO-GRA-FAR em saúde? Disponível em: http://sistemas.fesfsus.ba.gov.br/guiatrabalhador/TrabESF/Produto2-1.html