Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PROTAGONISMO ESTUDANTIL E PARTICIPAÇÃO POPULAR: CONSTRUÇÃO DA FRENTE ESTUDANTIL PELA SAÚDE EM SALVADOR
Ismael Oliveira de Araújo, Aline de Souza Santana, Angelo Mendes Ferreira

Última alteração: 2015-11-02

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente trabalho tem como objetivo trazer o relato da construção da Frente Estudantil Pela Saúde (FES) em Salvador e os frutos de sua atividade, dentre eles o Primeiro Encontro de Estudantes de Saúde de Salvador, ambos objetivando o protagonismo dos sujeitos, especialmente dos estudantes de saúde, que são oriundos de escolas com formações que não pautam a prática social e moldam os mesmos ao mercado capitalista; o protagonismo é uma construção coletiva que leva os sujeitos da inercial política-social a um sujeito ativamente político e criticista ao sistema político-econômico, social e cultural vigente. Saúde e doença são um único processo oriundo das interações humanas em relação com fatores ambientais, bióticos e abióticos, que correm em meios sociais e psicológicos com aspectos históricos de construção. A universidade forma pessoas políticas direcionadas a moldes do mercado e sistema capitalista, no entanto a saúde é mais ampla que os aspectos mercadológicos e econômicos e necessita de profissionais diferenciados; o Sistema Único de Saúde (SUS) foi conquistado com luta em cima de um problema concreto (a ausência de acesso à saúde de qualidade a maioria da população brasileira). Essa conquista não foi meramente política, mas sim popular, que alavancou atores de todas as classes da sociedade, pautando universalidade, equidade e integralidade na assistência saúde; porém a universidade não traz a prática política na sua formação acadêmica, não contemplando assim a saúde coletiva que trata a saúde como processo social. A participação e controle social no SUS possuem grande importância social e política, pois a população se insere nos processos de formulação e tomada de decisões das políticas públicas de saúde. Considerando a estrutura da saúde no Brasil e as dificuldades de implantação e implementação do SUS, faz-se necessário que os estudantes dessa área, futuros profissionais do sistema, estejam engajados nas discussões e que a sua formação aconteça em consonância com os princípios que regem o SUS, atendendo assim às necessidades do sistema. METODOLOGIA: A FES surgiu em 2013, quando discentes de saúde, interessados em participar da XII Conferência Municipal de Saúde de Salvador, se organizaram e interviram naquele espaço, pautando à defesa da saúde pública, que foram deliberadas naquele contexto. Desde então, esse coletivo vem se reunindo e propondo ações e discussões junto à população de Salvador, Bahia. A FES é uma organização de estudantes da área de saúde composta por discentes de instituições de ensino superior e também da participação de movimentos sociais (em sua maioria do Levante Popular da Juventude) e diretórios e centros acadêmicos, além de coletivos do movimento estudantil (como Quilombo e Enegrecer) que, juntos à FES, buscam a reorientação da formação em saúde, pautando os aspectos socioculturais, políticos e econômicos da saúde no Brasil, no Estado (Bahia) e no município (Salvador), por meio das discussões em torno da participação popular com diversos atores sociais (líderes comunitários, profissionais de saúde, usuários, movimentos sociais e sindicatos), versando sobre o papel dos estudantes como atores no processo de transformação social no SUS, em contrapartida ao modelo hegemônico de saúde (biomédico centrado, tecnicista e hospitalocêntrico) que forma “profissionais de doença”. A organização em questão possui seus momentos de reuniões organizativas e formativas que pautam integração dos estudantes, reforma sanitária, controle social, reforma política, princípios e diretrizes do SUS, análise da conjuntura do país, da saúde, economia e política assim como fatores que agem direta ou indiretamente na saúde, reformas curriculares, educação popular, etc.; também organiza espaços de lutas, atos políticos, passeatas e manifestações populares com outros movimentos, pois acredita que o tripé da organização social é composto de organização, formação e luta. No ano de 2015, entre os dias 14 e 18 de maio, foi realizado o primeiro Encontro de Estudantes de Saúde de Salvador com a temática “Em Defesa do SUS – por um projeto popular em saúde”, desenvolvido pela FES com apoio da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), do Fórum Acadêmico de Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do Conselho Municipal de Saúde de Salvador, de Centros Acadêmicos Unificados de Saúde (CAUS) da UNEB e de sindicatos representativos de profissionais de saúde. O Encontro teve o objetivo de organizar os estudantes de saúde de Salvador em defesa da saúde de qualidade para a população e incitando o protagonismo estudantil e participação popular. O Encontro teve 186 participantes de inúmeras instituições de ensino públicas e privadas da Bahia, e de outros estados do nordeste e 32 palestrantes, dentre eles docentes da UFBA; discentes da UNEB, UFBA e Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública; representantes de movimentos sociais como Levante Popular da Juventude, Consulta Popular, Quilombo e Enegrecer; sindicalistas; conselheiros de saúde do estado e município e pessoas de representatividade nas comunidades, como parteiras, lideres comunitários, presidentes de associações, etc. A organização do encontro foi divida em comissões de estrutura, comissão político-pedagógico, mística e cultural, mobilização, alimentação e financeiro entre os membros da FES. Sobre a metodologia do evento, os espaços tinham palestrantes, mediadores e facilitadores, atentando-se a representatividade de gênero e de estudantes que organizavam os espaços: mesas redondas em que ocorreram os espaços coletivos para exposição de temas centrais a todos os presentes; grupos de trabalho em que grupos menores subdivididos previamente no credenciamento discutiam os temas centrais e compartilhavam questionamentos e experiências; e oficinas que versavam sobre práticas lúdicas, culturais, educacionais e políticas sobre temáticas específicas. Dentre as temáticas abordadas nas mesas redondas pode-se citar: Análise de Conjuntura político-econômica do Brasil; Formação em saúde; Protagonismo estudantil; Reforma psiquiátrica; Reforma do sistema político; Constituinte exclusiva e soberana do sistema político; Opressões; Análise situacional da saúde na Bahia; Saúde nas populações negra, LGBTT e de mulheres; Privatizações e terceirizações; Educação Popular; Movimentos Sociais, dentre outras, além das oficinas de Soberania Alimentar, Massoterapia, Mundo do Trabalho, Saúde mental, Estágios de vivências no SUS, Turbante e dreads, Batucada, rap e outras. RESULTADOS: Após o encontro de estudantes o resultado foi o desenvolvimento da criticidade em relação a formação acadêmica em saúde, dos modelos em disputa na saúde, um do lado do povo e outro do capital, e o papel que estudante deve ter no processo de transformação social; a Frente Estudantil conseguiu expandir o número de membros e apoiadores na luta em defesa do SUS em Salvador, fazendo-os entender a importância da organização dos estudantes em quaisquer grupos ou coletivos do movimento estudantil para somar-se a luta. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente a conjuntura atual do país está levando ao retrocesso de inúmeras conquistas sociais, que levam ao risco da desformulação do modelo de saúde pensado pelos movimentos que emergiram na década de 70 pela Reforma Sanitária Brasileira, apenas a organização da população em unidade na pauta de lutas e com forte formação política são instrumentos massivos de defesa e ataque às afrontas que são direcionadas do capitalismo e dos representantes políticos, a FES tenta organizar uma massa de estudantes que nessa geração perderam o entendimento dos seus papéis sociais e da sua força política, a FES busca o reavivamento do protagonismo estudantil na defesa de uma saúde universal, equitativa, integradora e de qualidade para a população, respeitando e analisando os seus condicionantes e determinantes do processo saúde-doença.

Palavras-chave


Protagonismo estudantil; movimento estudantil; saúde; Frente Estudantil pela Saúde.

Referências


CRUZ, Rachel de Sá Barreto Luna Callou; ROLIM, Leonardo Barbosa; SAMPAIO, Karla Jimena Araújo de Jesus. Participação popular e o controle social como diretriz do SUS: uma revisão narrativa. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-11042013000100016> Acesso em 25 de fevereiro de 2015.

PAIM, Jairnilson Silva. Reforma Sanitária Brasileira - Contribuição Para a Compreensão e Crítica. Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, 2008.