Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
O desafio de ensinar Legislação e Políticas Públicas de Saúde: uma experiência exitosa
Marielly de Moraes, Jorge Luiz de Andrade Trindade

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: O desafio de construir conhecimento sobre Legislação e Políticas Públicas de Saúde (LPPS) no contexto acadêmico remonta a experiência de vivências em metodologias ortodoxas que envolvem as relações de memorização de elementos textuais e numéricos distantes da linguagem dos estudantes, em especial, em se tratando de estudantes de áreas que se distanciam do Direito. Neste contexto as metodologias ativas de ensino aprendizagem se constróem como uma nova possibilidade e horizonte em um processo de vivenciar e redimensionar o tema dentro do contexto de trabalho de profissionais da saúde. Este estudo descreve a experiência de ministrar a disciplina de LPPS para uma turma de dez residentes do primeiro ano do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde (PRMS) da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo – RS, utilizando metodologias ativas de ensino aprendizagem, que ocorreu no primeiro semestre de 2015.   METODOLOGIA: A motivação para a descrição desta experiência se definiu a partir do comentário de uma aluna, a qual, na avaliação final da disciplina referiu que antes de iniciá-la havia a “expectativa de ler legislações a cada aula expositiva, estudando leis de forma maçante.” Desde o aceite para ministrar a disciplina estava colocado o desafio de encontrar uma maneira de trabalhar LPPS com uma turma de residentes do PRMS de forma a instigar sua formação crítica, criativa, responsável e comprometida, tornando as aulas interessantes e acolhendo seu cansaço proveniente da jornada intensa da residência. O desenho das aulas buscou contemplar os assuntos de forma a envolver as residentes como protagonistas de seu processo formativo, instigando seu interesse a partir de uma prática de ensino aprendizagem que contemplasse o diálogo entre os assuntos abordados e as experiências da realidade vivida no seu cotidiano e contextos de trabalho. As residentes eram provenientes de três ênfases do PRMS: ênfase em Saúde Mental, ênfase em Atenção Básica em Saúde/Saúde da Família e ênfase em Urgência e Trauma. Vale ressaltar que no primeiro dia de aula foi feita uma conversa para explicar a metodologia e conhecer as expectativas em relação à disciplina e o nível de conhecimento das alunas acerca dos assuntos que seriam abordados. Os aspectos metodológicos envolveram entre outros, a construções, pelas residentes, de uma linha do tempo da história das Políticas de Saúde no Brasil e a partir de leituras de artigos científicos e filmes que inicialmente ilustrou o contexto histórico e desde o início até o final da disciplina foi ganhando sequência, sendo preenchida com acontecimentos marcantes distribuídos ao longo do tempo, como leis, decretos, portarias, políticas e programas; que foram ganhando mais sentido ao serem agregados a essa construção. A construção se dava sempre com base na interrogação a partir de questões norteadoras e problematizações que tinham como fim a temática trabalhada e sua relação com o dia a dia das residentes. Outro exemplo metodológico utilizado para trabalhar a estrutura organizacional do Sistema Único de Saúde foi a problematização gerada a partir de três casos reais vivenciados por residentes em seus campos de atuação extraídos de uma dissertação de Mestrado que tinha como tema a Residência Multiprofissional em Saúde. Nesta atividade as residentes foram convidadas, a partir das leituras em grupo, a debater conversando com a realidade de seus campos de práticas e identificando elementos ali existentes que compunham os princípios e diretrizes do SUS, suas fragilidades e potencialidades nos casos apresentados e, inclusive nas suas vivências reais. Além destas e outras atividades propostas, foi proposta também a construção de um portfólio reflexivo coletivo, um único para todo o grupo, onde deveriam ser registrados os assuntos e processos e processos mais significativos trabalhados durante o período da disciplina e sua relação com os momentos vivenciados na Residência Multiprofissional.   RESULTADOS: Os resultados desta experiência mostraram-se muito exitosos tanto para as alunas quanto para a docente e podem ser observados a partir da leitura de algumas falas das residentes, que foram registrados em suas avaliações acerca da disciplina no encontro de avaliação realizado no último dia de aula. “ ...Nos ensinou um novo modo de aprender, aquilo que antes era chato pode ser diferente, uma aula não precisa ser monótona...,” Residente A “A disciplina teve grande relevância... e propiciou reflexões quanto à teoria e a realidade. A didática foi integradora, buscou a participação das alunas, promoveu debates baseados nas vivências individuais de todas as residentes e contemplou todas as ênfases”. Residente B “A professora acolheu nosso cansaço. A disciplina foi bastante surpreendente. Tinha a expectativa de ler legislações a cada aula expositiva, estudando leis de forma maçante, quando, na verdade, aprendemos a conceituar os princípios e diretrizes do SUS, discutindo casos de uma forma leve e divertida, na medida em que nos aproximávamos da prática do trabalho nas políticas públicas de saúde.” Residente C “A atuação da mediadora contribuiu norteando, questionando, instigando e promovendo a discussão, relato de vivências, escuta e captação das facilidades e dificuldades. Residente D “Achei muito interessante a ideia do portfólio, pois serviu para integrar ainda mais as residentes”... Residente E “A estimulação de nossa participação em aula ocorreu de forma prazerosa, como na elaboração da linha do tempo e do portfólio”... Percebi no decorrer do semestre a turma sempre disposta nas participações e discussões dos assuntos... Residente F “A professora fazia questionamentos e posicionamentos que faziam refletir sobre a minha atuação no sistema, saia da aula com o desejo de fazer as coisas funcionarem melhor”...Residente G “Foi de extrema importância entender a legislação para além da escrita no papel, como é aplicada no cotidiano e como as políticas de saúde são boas apesar de não tão efetivas como gostaríamos...”Residente H “O fato de a professora também ter sido residente faz com que ela consiga entender melhor a nossa prática e relacionar com a teoria...” Residente I   CONSIDERAÇÕES FINAIS: A disciplina possibilitou o norteamento e mediações dos discentes efetivando o papel de facilitador do professor, ora com a identificação com o lugar de docente como proponente de um problema ora como sujeito da proposta. A metodologia utilizada contribuiu para o desenvolvimento da Educação Permanente, o que era visto se intensificando ao longo do processo bem como favoreceu a constituição política das residentes contribuindo no seu processo de compreensão e qualificação do SUS. Acredito que o fato de a docente já ter sido residente e ter especial apreço à residência e ao SUS favoreceu para uma certa identificação e contribuiu no processo de ensino aprendizagem. Acredito que o grupo reduzido facilitou o desenvolvimento da metodologia, as trocas e a aproximação entre docente e residentes. Trabalhar metodologias ativas é bastante desafiador, requer muito planejamento, reflexão e um tempo maior, pois trata-se de um processo de condução constante, por vezes cansativo, mas muito instigante; que requer ser avaliado de forma detalhada em todo o percurso. Por fim, apesar de as residentes sempre serem muito participativas, o portfólio trouxe à tona algumas reflexões muito interessantes de ordem individual e coletiva que antes não haviam se revelado nas aulas, o que aponta a importante potência deste instrumento.

Palavras-chave


ensino em saúde; formação; metodologias; políticas públicas de saúde; legislação

Referências


ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. (orgs.). Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 7. ed. Joinville: UNIVILLE, 2007.

CARVALHOM. J. S.PORTOL. S.; Portfólio educacional: proposta alternativa de avaliação, guia didático. Porto. Alegre: Editora da UFRGS, 2005.

MERHY, E. E.; Educação Permanente em Saúde em Movimento – uma política de reconhecimento, e cooperação, ativando os encontros do cotidiano no mundo do trabalho em saúde, questões para os gestores, trabalhadores e quem mais quiser se ver nisso. Revista Saúde em Redes. Volume 1; Número1; 2015.