Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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REABILITAÇÃO HOSPITALAR MULTIPROFISSIONAL NO MODELO “CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS” EM PACIENTE COM TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO
Arianne Tiemi Jyoboji Moraes, Emília Daniele de Araújo, Fabiana Martins de Paula, Fábio Sartori Schwerz, Mariany Barros de Britto, Priscila Carolina de Souza, Reinalda Maria de Assis, Suellen Borba Coelho

Última alteração: 2015-10-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O Trauma Cranioencefálico (TCE) é a lesão anatômica ou comprometimento funcional do couro cabeludo, crânio, meninges ou encéfalo; advinda de agressão mecânica, e que pode evoluir com seqüela neurológica e neuropsicológicas de diversas intensidades. Os pacientes que sobrevivem ao TCE podem apresentar deficiências e incapacidades que são temporárias ou permanentes, interferindo na capacidade do indivíduo de desempenhar suas funções. O trabalho multidisciplinar iniciado precocemente com o paciente agudamente acometido mostra-se como método de reabilitação com grande ganho de independência nas atividades de vida diária. Buscando a precocidade deste atendimento foi idealizado o projeto de Cuidados Continuados Integrados (CCI). Projeto piloto no Brasil, realizado em Mato Grosso do Sul no hospital de retaguarda São Julião, é oriundo de moldes europeus de atendimento a idosos com acometimentos súbitos. O objetivo do CCI é confeccionar um projeto terapêutico singular (PTS) para cada paciente mediante avaliação de equipe multiprofissional e executa-lo ainda em ambiente hospitalar. Um dos focos principais do projeto CCI, é o treinamento e educação em saúde do paciente e do cuidador, trazendo assim o paciente e seus familiares para o protagonismo no processo saúde-doença. O trabalho demonstra um relato da experiência de reabilitação da equipe multidisciplinar em CCI frente a paciente jovem com traumatismo cranioencefálico e sequela motora importante.   METODOLOGIA: Masculino, 20 anos, sofreu TCE em colisão automobilística em 02/05/15 sem perda de consciência no momento foi avaliado em pronto atendimento e liberado sem seqüelas; evoluiu em aproximadamente 12 horas com perda súbita de força em hemicorpo esquerdo, internado em hospital de agudos, apresentou tomografia computadorizada de crânio compatível com isquemia hemisférica em território de artéria carótida interna direita, sendo provável o diagnóstico de trombose traumática desta artéria e evoluiu com sinais de hipertensão intracraniana sendo realizado cirurgia de craniotomia descompressiva com preservação da calota craniana em abdome. Foi encaminhado para reabilitação em hospital de retaguarda no dia 09/05/15, acamado, sem mobilidade no leito, com hemiplegia à esquerda e desvio da rima labial para direita, em uso de fraldas apesar do controle de esfíncteres preservado. Foi admitido no CCI e realizado PTS pela equipe multiprofissional: A enfermagem identificou problemas relacionados ao autocuidado (alimentação, higiene corporal e oral, ato de vestir-se); alem de risco de constipação, relacionado mobilidade prejudicada e o pós-operatório, risco para quedas e de infecções. Assim, visou incentivar a reconquista da autonomia do paciente através da assistência de enfermagem diária e monitorização das intervenções propostas. A farmácia objetivou realizar o acompanhamento farmacoterapêutico em busca de identificar possíveis reações adversas, interações medicamentosas e problemas relacionados aos medicamentos. Monitorar os exames laboratoriais, orientar o paciente e cuidadores sobre as medicações em uso, sua posologia, efeitos colaterais e locais de aquisição das mesmas. Na área da fisioterapia, como o paciente apresentava um déficit importante de mobilidade de hemicorpo esquerdo, o PTS teve como enfoque a minimização de efeitos decorrentes da imobilidade, como a sarcopenia, a osteopenia e a diminuição da amplitude de movimento (ADM); assim como, estimular treinamento funcional de transferências, postura ortostática adequada, auto-cuidado, estimulação sensitiva e com o progresso do quadro do paciente, estimular a marcha independente. Na área médica, o paciente apresentou mudança de um perfil flácido da hemiparesia para um perfil espástico e o principal objetivo foi minimizar a espasticidade por meios farmacológicos para otimizar o trabalho de reabilitação e manter independência do paciente, e outro grande objetivo foi a monitoração de infecção e alterações neurológicas devido abordagem cirúrgica recente do crânio. Pela nutrição o paciente apresentava-se eutrófico na avaliação inicial, com peso de 68 kg e IMC 21kg/m², circunferência de braço (CB) adequada em 104%, circunferência muscular do braço (CMB) em 112% e prega cutânea triciptal (PCT) em 44%. A proposta terapêutica incluiu manter o estado nutricional, prevenindo perda de massa muscular, com dieta hipercalórica hiperproteica, e suplementação de proteína do soro do leite, além de outras intervenções nutricionais conforme as necessidades. A psicologia propôs o fortalecimento emocional e o estímulo à resiliência dos familiares e do paciente, que apresentava humor depressivo diante dos medos e angústias geradas, principalmente, por suas limitações motoras e as consequências destas. Quanto ao núcleo familiar mostrou-se fragilizado e precisou de auxílio para o enfrentamento da situação de apoio vivenciada. O Serviço Social evidenciou necessidade de abordagem dos determinantes sociais de saúde, para articular ações em diferentes níveis de atenção, com enfoque nos princípios do SUS que abrangem a integralidade, universalidade e equidade, aliando-se às demais políticas existentes. Foi realizada orientação para adquirir beneficio de auxílio-doença e orientações quanto à entrada no Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT). Após 21 dias de internação o PTS foi interrompido e o paciente retornou ao hospital de agudos para a cirurgia de recolocação da calota craniana, necessitando de unidade de cuidados intensivos devido ao quadro de anisocoria e piora do desvio de rima labial no pós-operatório (novo quadro de HIC). Após 1 semana, com a estabilização do quadro clínico, o paciente retornou ao hospital de retaguarda e foi retomado o seu PTS pois não apresentava grande mudança do quadro. Na primeira semana após o retorno, o paciente apresentou cefaléia, náuseas e febre, sendo iniciado antibioticoterapia (Meropenem e Vancomicina) devido provável meningite associada ao procedimento realizado; e apesar do tratamento o paciente foi mantido no programa sem grandes interferências nos trabalhos da equipe. RESULTADOS: O PTS foi aplicado integralmente e obteve resultados propostos através do trabalho em equipe, composto pelo cuidador, equipe de saúde e o paciente, resultando em melhora da autonomia e funcionalidade do mesmo ao término da internação que totalizou 68 dias, sendo 23 dias na primeira internação e 45 dias na segunda internação após a transferência para cirurgia. O paciente manteve o estado nutricional, com 70kg, IMC 22kg/m², CB em 104%, CMB 112% e PCT 50%. Houve total cicatrização da ferida operatória, obteve bom controle da espasticidade, evoluiu para marcha independente sem apoio, com déficit apenas de dissociação de cinturas, apresentando uma marcha ceifante e foi considerada tratada com êxito a infecção de sítio operatório. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O trabalho em equipe demanda uma constante construção e planejamento de práticas, sendo mais efetiva quando ocorre através do diálogo, para que os profissionais conduzam suas condutas em uma mesma sintonia com o paciente. Os atributos principais que devem ser cultivados por toda a equipe têm sido a empatia e predisposição em trocar experiências e informações para que desta forma seja possível construir uma relação de confiabilidade e respeito entre os profissionais de saúde assim como pelo sujeito e seus familiares em suas diversas abordagens.

Palavras-chave


Traumatismos cranioencefálicos; Acidente Vascular Cerebral; equipe multidisciplinar.

Referências


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