Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
O IMPACTO DA TUBERCULOSE NO DESEMPENHO OCUPACIONAL DOS SEUS PORTADORES EM CLÍNICAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO
Thauana dos Santos Fernandes, Ângela Maria Bittencourt
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: A tuberculose é considerada uma prioridade do Ministério da Saúde no Brasil e no mundo, representando um sério problema de saúde pública, devido suas repercussões a nível psicológico, social e familiar. O Brasil faz parte do grupo dos 22 países de alta carga priorizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que concentram 80% dos casos de tuberculose no mundo, ocupando a 16ª posição em número absoluto de casos. Nos últimos 10 anos, no Brasil, foram diagnosticados entre 80 e 90 mil casos novos, por ano. De acordo com Ministério da Saúde (MS), o alto número de casos de tuberculose no estado do Rio de Janeiro, faz dele o detentor do maior índice do País. Essa pesquisa tem por base colocar em discussão o impacto que a doença traz ao cotidiano do seu portador, no seu diferente âmbito social, profissional e individual, como também compreender o cuidado da Terapia Ocupacional, a partir dos portadores, e desta forma construir conhecimento que desperte o interesse pela questão da doença. Os sintomas, mais comum são cansaço intenso, sudorese noturna, febre, dor no peito, tosse persistente, hemoptise e perda de peso, os quais interferem na vida do paciente, afetando suas atividades da vida diária, laborativas, familiares, sociais; ocasionando impacto multidimensional, limitação nas esferas físicas, funcionais e psicossociais dos mesmos, Os sintomas da tuberculose, interferem em vários aspectos da vida do paciente, propiciando o aparecimento de quadros de depressão, ansiedade e queda na qualidade de sua vida, afetando o desempenho ocupacional do sujeito Entende-se por desempenho ocupacional às habilidades dos pacientes para seguir e manter uma rotina diária, desempenhar papéis sociais e tarefas que têm como objetivo a automanutenção, a produtividade e o lazer, executadas de modo satisfatório e apropriado para o estágio de desenvolvimento, cultura e ambiente do indivíduo. Subdivide-se em três componentes que são as áreas do desempenho (incluem as atividades de vida diária ou AVDs, as atividades instrumentais de vida diária ou AIVDs, produtivas, e as de diversão ou lazer), os componentes do desempenho (componentes sensório-motor, cognitivos e os psicológicos e de habilidades psicossociais necessários para o desempenho das tarefas cotidianas) e os contextos do desempenho (aspectos temporais e ambientais). Nesse contexto a Terapeuta Ocupacional destina promover o desempenho ocupacional e estimular o potencial saudável do usuário, tendo a função de prevenir as perdas físicas, emocionais, funcionais e respiratórias ao procurar estimular o individuo, no melhor uso possível de suas capacidades remanescente, na tomada de suas próprias decisões, contribuindo para a reconstrução desse cotidiano interrompido, a partir de situações que se transformam em experiência significativa na relação terapeuta-paciente-atividade. Objetivo: Identificar o impacto causado no desempenho ocupacional dos portadores de tuberculose e os recursos para Terapia Ocupacional. METODOLOGIA: Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Município do Rio de Janeiro parecer nº 316/2010, optou-se pela abordagem pesquisa-ação e a coleta de dados ocorreu pela aplicação de questionários e observação, no intuito de colher suas histórias de vida. Entre os dados coletados foram registradas informações de caráter familiar, social, demográfico e cultural acerca de cada usuário. Foram incluídos todos os pacientes com 18 a 80 anos, de qualquer cor, crença e gênero e que já estejam em tratamento mais de trinta dias vinculado ao posto e excluídos os que ainda não tinham diagnósticos, nem iniciado o tratamento. RESULTADOS: Participaram deste estudo seis usuários, sendo quatro homens e duas mulheres portadores de tuberculose atendidos nos postos de saúde da Zona oeste do Rio de Janeiro, na faixa etária 30 a 80 anos. A baixa escolaridade foi um índice observado, pois somente um entrevistado tem o segundo grau completo. A maioria relatou ser católico, o que favorece a adesão ao tratamento por ter fé e acreditar que Deus pode curar. Foi identificado que a renda familiar é precária, sendo que dos investigados 60% não tem renda e 40% ganham no máximo até dois salários mínimos. Em relação ao vínculo empregatício, 20% se encontrarem em auxilio doença pelo Instituo Nacional de Seguridade Social, 60% se encontram desempregados e somente um (20%) está trabalhando nos finais de semana como auxiliar de serviços gerais numa lanchonete. Os resultados encontrados indicaram um relevante déficit no desempenho ocupacional, identificando que a tuberculose favorece a perda progressiva das defesas do organismo que acarretam alteração no auto-cuidado, no que diz respeito aos cuidados pessoais (na alimentação, higiene e cuidar da casa); mobilidade funcional (nas transferências, mobilidade dentro e fora de casa) e na independência fora de casa ( ao fazer uso do transportes e fazer compras) que as mesmas encontram-se diminuídas devido ao cansaço, dispneia, fadiga, postura alterada, baixa resistência, capacidade reduzida de movimento, levando-os ao sedentarismo, isolamento e à diminuição da qualidade de vida. Os atendimentos favoreceram elevar a capacidade funcional do portador, por meio da redução dos sintomas (programas de treinamento de exercício para aumentar a tolerância às atividades), reversão da ansiedade, depressão, melhoria da autoestima (técnicas de relaxamento e controle de estresse) e aumentar a capacidade de realizar as atividades da vida diária, atividades instrumentais da vida diária, educação nos princípios de conservação de energia, simplificação de trabalho, aumentar a tolerância ao exercício pelo aumento gradativo de resistência e a melhoria da qualidade de vida Observou-se que com o decorrer das atividades, ocorreu diminuição de sua capacidade de realizar as AVD devido ao cansaço e diminuição da resistência. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Essa pesquisa nos possibilitou compreender de uma forma mais ampla o impacto causado no desempenho ocupacional de seu portador e a contribuição da terapia ocupacional para esse portador. Sobretudo, as que se referem às perspectivas do processo de enfrentamento da doença. Pode-se observar que os portadores de TB apresentam além das dificuldades físicas (dificuldade de respirar, diminuição de sua resistência), alterações emocionais geradas por intensas angústias, temor e depressão que afeta profundamente seu desempenho ocupacional. A Terapia Ocupacional deve agir como facilitador que habilita o portador a fazer o melhor uso possível das capacidades remanescentes, por meio do estímulo ao autoconhecimento e autocuidado, gerando melhoria na autoestima que o capacitará a tomar suas próprias decisões, assegurando alternativas realísticas e significativas para sua vida. E é partir dos atendimentos e oficinas que faz os portadores a se vincularem a terapia Ocupacional, ocasionando uma maior adesão ao tratamento e uma melhoria em sua qualidade de vida e de sua resistência física.
Palavras-chave
Desempenho Ocupacional, Tuberculose, Terapia ocupacional
Referências
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