Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Projeto Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde: relato de experiências no processo de facilitação
Janaina Gomes Lisboa, Natália Luiza Matos de Sousa, Verdande Trotskaya de Araújo Medeiros

Última alteração: 2015-10-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: Este resumo relata a experiência de facilitadoras no Projeto Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS), e a partir do exposto, fazer uma breve reflexão sobre as possibilidades, contribuições e perspectivas deste Projeto, no que se refere ao processo de formação em saúde e a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). O VER-SUS consiste num Projeto de amplitude nacional, realizado por diversos Estados, vinculado ao Ministério da Saúde (MS), com a parceria da Rede Unida, a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Secretária Municipal de Saúde (SMS) a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Rede Governo Colaborativo em Saúde /UFRGS e o apoio da Organização Pan Americana da saúde (OPAS). O Projeto tem o objetivo de aproximar estudantes da área da saúde, aproximando-os da realidade do SUS, trazendo também novos elementos para a formação destes futuros profissionais, através da metodologia desenvolvida durante o Estágio, que envolve visitas e vivências aos serviços de saúde e às comunidades e movimentos sociais, bem como leitura de textos e debates coletivos. METODOLOGIA: Na sua organização, os participantes se inscrevem em três funções, sendo elas: viventes, comissão organizadora e facilitadores. Este último, no qual pretendemos expor nossas experiências, consiste em atores com a função de mediar e facilitar a vivência para os Viventes, estando em diálogo contínuo com os mesmos, provocando e problematizando discussões nas rodas de conversas e durante as visitas aos locais destinados. Geralmente, os facilitadores são ex-viventes, com um conhecimento mais extenso sobre as metodologias do VER-SUS, e que estão inseridos em movimentos, projetos de pesquisas ou extensão. Ocorrido na cidade de João Pessoa, a primeira edição do VER-SUS na Paraíba, realizada em março de 2015, teve a duração de onze dias de vivências no total. Nesse período, os participantes ficaram instalados no Diretório Central dos Estudantes (DCE), no Campus I da Universidade Federal da Paraíba. O público participante do estágio foi composto por estudantes da área da saúde, vindos de universidades públicas e privadas do estado paraibano e de outros locais, como: Bahia, Ceará, Sergipe, São Paulo e Itália. Por ser uma ação baseada na interdisciplinaridade, participaram estudantes dos mais variados cursos, com: psicologia, serviço social, fisioterapia terapia ocupacional, técnico de enfermagem, enfermagem, medicina, nutrição, fonoaudiologia, educação física e farmácia. Também participaram do Estágio, residentes e professores do campo da saúde. Foram visitados: Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Saúde da Família (USF); Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), maternidade e hospital de média e alta complexidade, Centro de Atenção Integral à Saúde (CAIS), Centro de Atenção Integral a Saúde do Idoso (CAISI),Centros de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (CPICS), ambulatório LGBT, comunidade quilombola Paratibe e ocupação urbana Tijolinho Vermelho. RESULTADOS: Foi de extrema importância a experiência vivenciada no VER-SUS, enquanto facilitadoras, cabendo a nós a tarefa de mediação dos viventes para com a gestão/equipe, fazendo-nos refletir também, sobre a posição que estes ocupam. Sentíamos no dever de mostra que o SUS funciona, mesmo com todas as dificuldades encontradas (ou até mesmo maquiada). Por mais que acreditasse no Sistema, houve momentos em que pensamos se realmente aquela ação renderia bons frutos, se de fato não estávamos usando as famosas “lentes cor de rosa” e intervindo na realidade. Nas nossas reflexões, após as visitas, percebemos que os viventes não poderiam ser influenciados por nossas supostas “lentes”, e como o próprio nome sugere as nossas vivências não poderiam influenciar nas vivências dos outros, já que as mesmas são singulares e únicas, bem como as impressões, sensações e afetações. Como relata uma das facilitadoras envolvidas, “recordo que em uma visita a UBS e já exausta de tantas frustrações, conheci uma usuária do SUS que me falou com tanta convicção que o sistema funciona, e isso fez sentir minhas forças renovadas. Ela dizia que não poderíamos nos deixar abater, precisávamos lutar e continuar de cabeça erguida, conhecendo os nossos direitos e as maneiras para garanti-los, e que não é uma gestão mal formada que vai destruir o sonho de igualdade. Com essas palavras, fui para o alojamento da vivência, e refletindo e comecei a entender a força de um coletivo, e a importância de ter com quem dividir seus sonhos, ideias, frustrações, desesperança. Compartilhar essa experiência e esse sentimento com todos ao final daquele dia, me fez enxergar um futuro prospero, e um presente com pessoas que acreditam no SUS”. Enquanto facilitadoras, pudemos ter a oportunidade de contribuir com a construção compartilhada de saberes, em especial com os viventes do nosso grupo (já que cada facilitador acompanha um Núcleo de Base, formado por aproximadamente quatro viventes), estando mais próximos a eles, e trocando experiências a partir de visões de mundo e de realidades diferentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar do VER-SUS ser um Projeto com uma ação pontual, realizada num período de aproximadamente duas semanas, os resultados a partir da experiência de facilitadoras mostram que a imersão na Vivência pode contribuir para despertar reflexões e questionamentos pouco (ou nada) debatidos nos espaços de sala de aula, já que as discussões não se limitam a assuntos propriamente relacionados à saúde, abordando questões de gênero, raça, direitos sociais, educação permanente em saúde, etc. Nesse sentido, cabe também aos facilitadores, estarem interados desses assuntos, para que as problematizações sejam desenvolvidas entre o coletivo. Percebe-se, sobretudo, o desenvolvimento individual e coletivo, contribuindo para o trabalho coletivo e reafirmando a importância da transformação da estrutura da sociedade, pautando a defesa por um SUS público e de qualidade. E a visita realizada por todos na ocupação urbana Tijolinho Vermelho sem duvida mexeu muito com todos, uma realidade bruta e sem o mínimo de delicadeza nos foi apresentada, um verdadeiro choque, todos saíram dali com a sensação de impotência total o que gerou uma mobilização geral afinal nenhum de nós queria apenas observar e ir embora sem um mínimo de retorno para aquelas famílias que nos receberam com tanto carinho. No final daquele dia a falação era geral, muitas ideias, planos e no final daquele conflito de pensamentos saiu um projeto de carta aberta onde reivindicávamos os direitos básicos de um cidadão. Portanto pode-se afirmar, que o VER-SUS tem a importância de contribuir para a formação de novos profissionais na área de saúde, de maneira ética, política, horizontal e interdisciplinar, a partir das necessidades da população e em diálogo com ela.

Palavras-chave


Saúde Publica; Educação Permanente; Interdisciplinariedade