Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Contrapartidas solidárias para viabilizar Estágios de Vivência: experiência de um Coletivo do interior do Estado do RS
Gabriela Dalenogare, Gabriela Fávero Alberti, Drean Falcão da Costa

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente resumo versa sobre a experiência que a participação em um coletivo estudantil de um município do interior do Estado do Rio Grande do Sul – Coletivo INTENSUS: Interdisciplinaridade e Ensino no Sistema Único de Saúde – proporcionou frente ao planejamento operacional do Projeto nacional "Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde" (VER-SUS/Brasil), com destaque às pactuações com instâncias locais. As formas de pactuações explanadas neste trabalho serão denominadas como contrapartidas solidárias, ou seja, uma forma de colaboração externa voluntária com intuito de viabilizar um ou mais componentes básicos necessários para a execução da vivência (hospedagem, alimentação e/ou transporte), sem, no entanto, utilizar recurso monetário para tal. OBJETIVOS: Objetivamos apresentar possíveis alternativas para viabilização logística e operacional de VER-SUS e, refletir sobre as formas de financiamento do projeto com vista a despertar para a corresponsabilidade de outros atores no processo formativo de profissionais que poderão atuar junto ao SUS. Os Estágios de Vivência, ou VER-SUS, objetivam proporcionar aos viventes (nome dado aos participantes do estágio que podem ser estudantes de graduação, estudantes cursos técnicos, membros de movimentos sociais, usuários) atividades diárias como visitas em serviços da rede de saúde como também outros setores públicos: cultura, jurídico, assistência social e educação. METODOLOGIA: No turno da noite, o espaço é destinado a discussões das vivências, rodas de conversa, leitura e discussão de textos. Os viventes tem a oportunidade de conhecer um pouco sobre a realidade do SUS, dialogar com profissionais, usuários e lideranças sociais, refletindo sobre as fragilidades e potencialidades da rede de atenção à saúde (RAS). A partir do VER-SUS pretende-se estimular a formação de trabalhadores comprometidos e sintonizados com os princípios e diretrizes do SUS, e ainda que se percebam como atores/atrizes sociais e agentes políticos capazes de promover transformações sociais. É um projeto que contempla o protagonismo estudantil em todo seu processo de construção e realização. Nessa perspectiva, o Coletivo INTENSUS esteve composto por estudantes de diferentes graduações na época em que iniciou suas atividades. Atualmente, agregaram-se a esta composição profissionais, estudantes de pós-graduação e membros de movimentos sociais. Iniciou sua trajetória em 2011 paralelamente a retomada nacional do Projeto VER-SUS/Brasil. Esse Projeto, por sua vez, é coordenado por uma secretaria executiva que recebe e avalia projetos oriundos de comissões locais além de ofertar apoio técnico-operacional, formação política de facilitadores/comissões e recursos financeiros para custear hospedagem, transporte e/ou alimentação no período das vivências, quando há necessidade. O Coletivo INTENSUS constitui uma dessas comissões local vinculadas ao Projeto nacional e, portanto, responsável pelo planejamento operacional do VER-SUS, semestralmente, no município de Santiago, em articulação com a referida secretaria executiva. As comissões locais operam descentralizadas e com autonomia nas articulações com parceiros do Projeto VER-SUS. Assim, o Coletivo INTESUS é articulador em instâncias como, Conselho Municipal de Saúde (CMS), Comissão de Integração Ensino-Serviço (CIES), Instituição Superior de Ensino, Secretaria Municipal de Saúde (SMS) dos municípios que sediam as vivências e os serviços visitados. Essas articulações buscam pensar alternativas solidárias que viabilizem recursos necessários para a execução das vivências com vistas a minimizar o uso de recursos financeiros públicos. RESULTADOS: Por intermédio do Coletivo INTENSUS realizaram-se sete edições de VER-SUS, entre 2012 – 2015. Em relação à garantia de hospedagem no período de 10 dias consecutivos, a contrapartida tem sido da Universidade local, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai das Missões, URI Campus Santiago/RS que disponibiliza salas de aula, banheiros e auditórios com recursos audiovisuais. As salas de aula têm múltiplas funções e são utilizadas como dormitórios coletivos, espaço de convivência (para realização das rodas de conversa e atividades lúdico-educativas) e dispensa (com materiais de limpeza, varais de roupas, e outros). Os colchões e roupas de cama são solicitados aos participantes e, às vezes, são emprestadas por um clube esportivo do município. Com isso, alguns efeitos foram percebidos, decorrentes destas experiências, que incidiram nos participantes da vivência e nas instituições colaboradoras. O despertar para a corresponsabilidade de outros setores públicos para com a educação tendo em vista que o SUS é porta de entrada para a formação acadêmica de trabalhadores de saúde. A saúde transversaliza outros setores, o que justifica a ideia de propor a visitação de serviços para além do setor saúde, integrando cultura, assistência social, educação e sistema jurídico. Além de que, no que se refere a repensar a formação profissional, a cada edição são ofertadas vagas a estudantes de diferentes graduações, não restritas à saúde. Outro fator relevante é que as contrapartidas solidárias favorecem a minimização da utilização de recursos públicos financeiros, além da consolidação do VER-SUS no contexto local, tendo em vista que a constante alternância no poder e o momento político atual tornam o financiamento algo incerto. Buscamos então o fortalecimento de vínculos e parcerias por entender a importância da garantia desses espaços de formação extramuros para além da vontade governista, conquistando assim um local permanente de militância em prol do SUS, na defesa da vida, no resgate e reafirmação dos preceitos da reforma sanitária. O planejamento dos Estágios de Vivência passa a ser compartilhado por outros segmentos para além de exclusivamente estudantes, sem perder o protagonismo destes últimos. Também, que a gestão do grupo e da organização logística de um Projeto de VER-SUS no âmbito local propicia o aprimoramento das habilidades de trabalho em equipe, planejamento e gerenciamento de recursos e agenciamento do processo de trabalho além de instigar o olhar crítico dos estudantes sobre recursos e políticas públicas, compartilhamento de afazeres e responsabilidades sob a lógica da coletividade. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Visto isso, a participação em um Coletivo de cunho social bem como o planejamento logístico do estágio propicia a experiência no âmbito da gestão e amplia os espaços formativos de modo a instigar a formação de trabalhadores comprometidos com as questões sociais. Por fim, essa experiência ímpar fomenta nos estudantes – logo futuros trabalhadores do sistema único de saúde – o desejo de partilhar essa luta e semear, nos mais diversificados espaços, a sustentação ética-política de acolher a vida em expansão, tramar microrrevoluções que, em longo prazo, podem vir a se tornar um grande movimento e, com isso iniciar a transformação da sociedade que desejamos. Sem sombra de dúvida o VER-SUS é um caminho viável para que se disparem processos de ressignificação, sobre o ser profissional, o ser sujeito no mundo e principalmente, sobre o próprio Sistema Único de Saúde.

Palavras-chave


VER-SUS; Coletivos de Estudantes; Formação em Saúde