Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Inovações pedagógicas na formação em atenção farmacêutica na atenção primária à saúde
Simone de Araújo Medina Mendonça, Danielle Fernandes da Silva, Beatriz Leal Meireles, Bruna Damazio Santos, Érika Lourenço de Freitas, Djenane Ramalho de Oliveira

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Nas últimas décadas, a demanda pela atuação clínica de farmacêuticos nos sistemas de saúde em diversos países tem aumentado. Consequentemente, evidencia-se a necessidade de mudanças na formação deste profissional, até então mais tecnológica e voltado para o produto. Paralelo a isto, as outras profissões da área da saúde também vêm experimentando mudanças em seus processos de formação. Tais mudanças visam o desenvolvimento de profissionais capazes de contribuir para a consolidação de sistemas de saúde organizados em redes baseadas na atenção primária à saúde (APS). E, especificamente no Brasil, pautado nos princípios da integralidade, equidade e universalidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, a Farmácia tem a oportunidade de iniciar sua trajetória de formação clínica se beneficiando do conhecimento gerado neste campo pelas outras profissões e contando com seu apoio neste desafio. Este trabalho tem como objetivo descrever a experiência de realização de inovações pedagógicas na formação em atenção farmacêutica (AF) para atuação na APS no SUS. METODOLOGIA: Trata-se de um relato da experiência de uma docente, três discentes de pós-graduação e nove discentes de graduação em Farmácia envolvidas na realização de quatro disciplinas e um projeto de extensão universitária para a formação em AF em uma graduação em Farmácia. Os dados foram sistematizados a partir de análise documental (programa e planos de ensino, registros de avaliações discentes e diários reflexivos de todos envolvidos). RESULTADOS: Ao longo de dois semestres letivos foram ofertadas as disciplinas optativas nomeadas Fundamentos clínicos e psicossociais da atenção farmacêutica na atenção primária à saúde (FCPS) I e II, e Integração ensino-serviço-comunidade: atenção farmacêutica na atenção primária (IESC) I e II. Cada uma destas disciplinas teve carga horária de 15 horas/aula, distribuídas em uma hora/aula semanal. Durante a oferta das disciplinas desenvolveu-se um projeto de extensão universitária para viabilizar a oferta de serviço clínico baseado em AF em uma unidade de APS do município, o qual foi a base do processo de ensino-aprendizagem em serviço. Esta estratégia foi fundamental para possibilitar a presença da equipe da universidade no serviço de saúde, pois ainda não havia estágio formalizado entre o curso de Farmácia e a APS do município em questão. Houve processo seletivo para identificação de estudantes com o perfil necessário. Exigiu-se conhecimento prévio sobre as bases teóricas e metodológicas da AF e em farmacologia clínica. Foram selecionadas nove estudantes com este perfil, tanto do curso noturno quanto diurno da graduação em Farmácia. Três farmacêuticas pós-graduandas desempenharam o papel de tutoras acadêmicas em campo com as estudantes. Uma delas acumulou o papel de docente nas disciplinas optativas, sob a orientação da docente coordenadora do projeto. Quatro estudantes desenvolveram seus trabalhos de conclusão de curso (TCC) de graduação no contexto desta experiência. Contribuíram para a geração de conhecimentos sobre o planejamento, o aperfeiçoamento e a avaliação de resultados do serviço. Além disso, iniciaram sua formação científica e possibilitaram o aperfeiçoamento de uma das tutoras como orientadora. Um destes TCC's envolveu o Planejamento Estratégico Situacional (PES) para a oferta do serviço clínico farmacêutico na unidade de APS que sediou o projeto. As etapas deste PES foram apresentadas e discutidas na disciplina IESC I. Nos encontros desta disciplina também foram revistos conhecimentos sobre o SUS, a APS e as responsabilidades do farmacêutico na equipe multiprofissional de saúde neste cenário. No mesmo semestre de oferta de IESC I, a equipe estudou, em FCPS I, protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas das condições mais prevalentes na APS e textos das ciências humanas e sociais aplicadas à saúde. No semestre seguinte, com a integração da equipe da universidade com as equipes de Saúde da Família (SF), iniciaram-se os atendimentos clínicos realizados pelas tutoras com as estudantes de graduação. Além de atendimentos na unidade de saúde, foram realizadas visitas domiciliares para melhor compreensão do contexto sócio-familiar dos usuários. As estudantes e tutoras participaram também de reuniões clínicas com as equipes de SF e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e de planejamento, acompanhamento e avaliação com o gerente da unidade de saúde e a farmacêutica do NASF. Enquanto isso, na universidade ocorriam os encontros de FCPS II e IESC II. Na primeira, as estudantes organizaram-se em três equipes e cada uma delas se responsabilizou por estudar o mesmo caso clínico sob a perspectiva biológica, psicológica ou social. Segundo as estudantes, a exposição prévia ao conhecimento sobre os determinantes não biológicos do processo saúde doença foi bastante reduzida no currículo formal, tendo sido ressaltado como importante elemento da disciplina. Além disso, um aspecto marcante identificado na análise dos diários de campo foi a percepção de que a disciplina FCPS II ajudou as estudantes a integrar e mobilizar os conhecimentos prévios das ciências biológicas e farmacêuticas. A cada encontro as estudantes aprofundavam a capacidade de aplicação do processo racional de tomada de decisões em farmacoterapia, conectando estes conhecimentos aos dados obtidos sobre o usuário, sua saúde e sua farmacoterapia. Na disciplina IESC II, a vivência no serviço de saúde, com as equipes de SF e NASF, gestor e demais trabalhadores, assim como a relação com os usuários eram problematizadas e ricamente discutidas. Nos encontros da disciplina, as estudantes vivenciaram e partilharam suas expectativas, ansiedades, medos e conquistas. Isto contribuiu para o desenvolvimento de habilidades relacionais e comunicacionais necessárias a um profissional de saúde. A descoberta da APS como cenário muito propício para a atuação clínica enquanto farmacêuticos também foi um aprendizado descrito nos diários de campo das estudantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Para a maior parte das estudantes, esta foi a primeira experiência em um serviço de saúde. Para todas elas, a primeira vivência na APS/SUS, visto que não havia nenhuma experiência formal de ensino neste cenário. A integração com o serviço de saúde e os estudos sobre o que estava sendo vivenciado potencializou o aprendizado. Atualmente a expansão da experiência e sua formalização no currículo da graduação estão sendo discutidas por uma comissão de docentes, discentes e farmacêuticos do serviço de saúde. Acreditamos que o conhecimento gerado com a realização destas inovações pedagógicas possa contribuir para o processo de mudança em andamento nas graduações em Farmácia no Brasil.

Palavras-chave


Inovações pedagógicas; atenção farmacêutica; atenção primária à saúde