Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Considerações sobre o trabalho médico na Atenção Básica do Recôncavo da Bahia
Mayse de Oliveira Andrade
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: O presente relato apresenta a experiência como pesquisadora de iniciação científica PIBIC-IC/CNPq 2014/2015 da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, dentro do projeto de pesquisa "Onde estão os médicos do Recôncavo da Bahia?". O projeto tem como objetivo geral traçar um perfil dos médicos localizados no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS da região do Recôncavo da Bahia, identificando as características relacionadas ao processo de formação profissional, ao mercado de trabalho e as condições existentes para o exercício da profissão. METODOLOGIA: A pesquisa, até então, foi desenvolvida em três (Cachoeira, Muritiba e São Félix) dos 20 (vinte) municípios que integram o chamado “Território de Identidade”, caracterizado por significativos problemas econômicos, por uma oferta de serviços de saúde bastante precária e com uma população predominantemente empobrecida e negra. Quanto aos procedimentos metodológicos, a investigação foi eminentemente qualitativa baseada nas técnicas de observação participante e nas entrevistas semiestruturadas. Este processo de pesquisa, possuiu múltiplos desafios que estão relacionados desde o momento da autorização para a realização da pesquisa nos serviços de saúde, até a constatação de uma realidade dos trabalhadores de saúde marcada por vínculos de trabalho precarizados, sem concurso público, e, em sua grande maioria, vinculada a gestão pública municipal, o que dificulta o trabalho profissional e a criação de vínculo com a população, abrindo espaço para possíveis práticas de “clientelismo”. No decorrer da pesquisa de campo passamos a fazer visitas nas Unidades de Saúde da Família - USF, movimento que possibilitou conhecer a estrutura física, localização e refletir sobre a operacionalização da prestação do cuidado no nível da atenção básica. Encontramos unidades localizadas distantes do território ao qual se destina, dificultando o acesso das famílias, que em sua maioria não possuem veículo próprio, essas cidades não possuem transporte coletivo municipal, assim, a oferta de saúde apesar de ser plena, segundo dados do governo, não se materializa. RESULTADOS: Na realização das entrevistas foi possível contato com médicos cujas idades eram mais avançadas, o que proporcionou ouvir a história da saúde pública no Brasil a partir de trajetórias; tivemos contato com profissionais do Programa Mais Médicos que é expressão atual de uma ação de efetivação da cobertura da atenção básica; pode-se apreender, em sua maioria, médicos com práticas conservadoras, da medicina clínica – dentro um espaço que se propõe a reorientação do modelo de atenção à saúde –, práticas ainda pautadas na demanda espontânea. Também, encontramos médicos com visão crítica e transformadora, sendo trabalhadores protagonistas de mudanças dentro da saúde, responsabilizando-se dentro de sua prática e reconhecendo que, dentro da categoria, ainda existe uma cultura fortemente ligada ao conservadorismo e ao poder. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Assim, essa vivência possibilitou, a partir da profissão médica, refletir sobre o trabalho profissional dentro do SUS, e quão a prática está intrinsecamente ligada a concretização da mudança no modelo de atenção, mesmo essa autonomia tendo limites institucionais e requerendo fortalecimento das práticas de educação continuada e permanente.
Palavras-chave
Trabalho na Atenção Básica; Médicos; Recôncavo da Bahia
Referências
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